Voar
O meu colega deixou-me à porta de casa às 17.30, vindos de Penamacor. Nem fui a casa. Saltei para o meu carro e voei para o Vasco da Gama. Comprei umas parvoíces do Halloween, comprei um presente para uma amiga que fazia anos, voei para a escola do Manel onde cheguei mesmo a tempo de o apanhar. Cheguei a casa, a santa Emília avisou-me de que já não havia leite, voei de novo até à mercearia para me abastecer, deixei o salmão ao lume, acompanhei com arroz, pus os miúdos a jantar. Despi-os, vesti-lhes as cenas monstruosas, enfaixei um de múmia, pintei olhos de preto, pus acessórios tenebrosos, e depois parti de prédio em prédio, com 9 crianças a reboque. Fiquei nas escadas, como fico sempre, escondida, enquanto eles batem de porta em porta repetindo a lengalenga americana traduzida para "doçura ou travessura". Não é nosso (já sei que o nosso é o Pão por Deus) mas eles felizmente não precisam de pão, e os doces, por muito que não lhes façam falta, têm o condão de os deixar mesmo contentes e regalados nos dias de festa (o resultado desta recolha chega a durar um ano inteiro). A vizinhança já se acostumou à pedinchice deste dia e, por isso, recebe-os com muitos sorrisos e generosidade (acho que este ano terá sido o mais generoso de todos). E eu divirto-me genuinamente a acompanhá-los escada acima, escada abaixo, e a ver o entusiasmo com que saem de algumas casas, com os sacos muito mais pesados, e desconfio que esta é uma daquelas coisas que lhes vai bailar na memória de infância. Às 21h15 fui rendida por outra mãe, para poder tornar a voar até casa da tal querida amiga que fazia anos. Parei no Califa, comprei-lhe um bolo, umas velas, cantei os parabéns e ficámos a conversar e a rir até à meia noite e meia, altura em que tornei a voar para casa. E agora, com a vossa licença, vou dormir que já é tarde. Boa noite!