Verão rima com... inquietação
Eu sou pessoa que adora o Verão. Mas assim mesmo muito. Calor, noites quentes, jantares tardios, festas, praia, piscina, sol, sunsets-coiso... tudo! Por mim não havia mais estações do ano, estávamos lindamente assim. Vá, aceitava uma semana de Inverno, só naquela de ouvir a chuva bater nas vidraças, acender a lareira e ficar a ler um livro, a beber um vinho, a ouvir uma boa música, com uma mantinha no chão... ok. Uma semana. Depois Verão outra vez.
Mas, como não há bela sem senão, o verão contém para mim um busílis. E o busílis chama-se... baratas.
Ora, é sabido que Lisboa está cheia delas, não há bairro que as não tenha (se houver é favor dizer que começarei em busca de apartamento), mas o baratame do Parque das Nações não é um baratame qualquer. Trata-se de bicheza graúda, capaz de ser confundida com pardais. De resto, sempre que vejo as baratas, na rua, relembro Carlos do Carmo e apetece-me trautear "Parecem bandos de pardais à solta... " alterando os putos para o feminino e fica tudo certo.
É que eu não me limito apenas a não apreciar baratas, que é algo que, de resto, julgo ser comum a muitos mortais. Eu tenho uma fobia próxima da histeria e, ao vislumbrar uma, sucedem-se uma série de acontecimentos, qual deles o mais deprimente:
1- Grito
2- Salto
3 - Não paro de saltar, pular, e gemer
4 - Choro
5- Transpiro como se estivesse de gola alta numa praia atolada de gente, em Agosto, ao meio dia.
6 - Grito mais um pouco
Sou incapaz de as matar, porque isso implica uma proximidade física que me é insuportável. De maneira que, ou há quem mate por mim, ou se porventura me aparece isso em casa saio e ofereço tudo ao intruso. Geralmente não aparece em casa (aconteceu 2 vezes, vindas de uma janela aberta - coisa raríssima no verão aos finais de tarde, justamente por causa deste flagelo), mas na rua é igual: matem por mim ou pelo menos afastem, que eu só não quero é ter de as ver à minha frente.
Isto para dizer que, no sábado, vínhamos nós do nosso jantar romântico, na mota, e quando estamos a chegar eu já estou naquela angústia: ai... quantas estarão à porta. E nas paredes do prédio? E na entrada do prédio?
Estacionada a mota, tau! Um pardal pousado na árvore mesmo em frente. Eu a tentar fazer-me de forte, a virar a cara, a olhar para o chão (tornei-me uma espécie de agente federal em situação de perigo, olha para baixo, olha para cima, olha para os lados, tudo com enorme rapidez e atenção), a dar uns pulinhos ridículos.
É então que o Ricardo abre a porta do nosso prédio e uma baratona king-size sai disparada por debaixo da porta, mesmo na minha direcção. Ia quinando. Dei um guincho que deve ter acordado o condomínio inteiro. Fiz ali uma pequena cena, a suar e a chorar e aos pulinhos, mas o Ricardo lá conseguiu convencer-me a entrar.
Quando abri a porta de casa tinha os meus sogros e os meus filhos todos a rir.
- Então, mãe? Barata, hein? Nós ouvimos. Aliás, ouvimos o grito, os avós ficaram a olhar para nós com ar preocupado e nós só dissemos: "Ah, não se preocupem, é a mãe. Deve ter dado de caras com uma amiga".
😅