Um adulto com um brinquedo novo
Hoje tive de ir à Amadora à procura de uma loja de noivas (coisas do meu trabalho, que não importa agora esmiuçar). Meti-me num táxi, um Mercedes novo, brilhante e reluzente, conduzido por um rapaz de aspecto cuidado, com orgulho visível e indisfarçável no seu bólide. Disse-lhe o nome da rua-destino, o senhor confessou não saber onde ficava e eu, que tinha calculado isso mesmo, expliquei que ficava no cruzamento a seguir ao Centro Comercial Babilónia (repetindo o que me haviam dito a mim). O taxista assentiu mas, ainda assim, começou a digitar no seu GPS. Via-se que também o GPS era a estrear, limpo, impecável, e o homem brioso do seu aparelho, salvo seja.
Bom, seguimos viagem.
De vez em quando, a senhora que vive dentro do GPS dizia as coisas que estas senhoras dizem: A 800 metros voltar à direita; a 700 metros deixar a rotunda na segunda à esquerda, e por aí fora. Ele sorria, confiante na máquina, feliz.
Andámos, andámos, andámos. Eu falei ao telefone, deixei de falar ao telefone, falei novamente, desliguei outra vez. Até que ele me diz:
- Bem, é aqui na próxima à esquerda. Mas olhe que isto não tem nada a ver com o Babilónia! Já estamos na Venda Nova!!!
- Não? E eu com isso? Eu disse-lhe que a rua ficava ao pé do Babilónia.
- Mas aqui o GPS...
- Oiça. O que o seu brinquedo lhe diz, o que o senhor diz ao seu brinquedo, são lá coisas vossas, nada contra, cada um brinca com o que quer e ninguém tem nada com isso. Agora, eu quero ir para a Avenida D. Nuno Álvares Pereira, ao pé do centro comercial Babilónia. Vocês os dois entendam-se.
Contrariado, o homem lá percebeu que a máquina o tinha mandado para outro sítio qualquer e eu, por sorte, não fui malhar com os ossos a Vila Real de Santo António.
Ainda assim, deixou passar dois semáforos de verde para encarnado, só para tornar a escrever a morada, a ver o que a senhora que vive dentro do GPS o aconselharia a fazer. E bufava, danado com ela. Adultos com brinquedos novos dá nisto.