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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

D. Constança

Hoje levei-lhe uns textos que escrevi. Li-lhos. Riu-se muito. Riu-se em quase todos, com grandes e sonoras gargalhadas. Lembrei-me do que disse o Ricardo Araújo Pereira, de como é bom verificar o efeito de uma piada nos outros, de como é poderoso mudar o outro sem lhe tocar. Tocando-o com palavras. A dona Constança, minha amiga de 88 anos, riu-se com algumas das páginas impressas que vão virar livro. E eu gostei dessa sensação. E também me ri, mais pela reacção dela do que pelas palavras que, por serem minhas, não exercem esse poder em mim, antes se nublam por algum pudor.
Estive lá duas horas, com ela, e dei um pulo quando constatei que já tinham passado duas horas. Ela também se surpreendeu. E, sem o saber, também me tocou com as suas palavras quando disse: «Quando estou consigo o tempo realmente passa depressa. Nos restantes dias em que aqui estou sozinha passam tão devagar que nem imagina.»

Dona Constança

Não foi bem a situação para a qual me inscrevi, quando contactei a Associação Coração Amarelo. Eu queria ser leitora, ser os olhos de alguém que tivesse deixado de conseguir vislumbrar as letras e tivesse muitas saudades dos livros, das histórias, das personagens. Mas como agora não havia ninguém com essa necessidade, atribuíram-me a dona Constança. A dona Constança vê bem, gosta de ler e lê sem óculos e tudo, apesar dos seus 88 anos. Tem filhos e netos com quem está ao fim-de-semana, mas durante a semana sente-se muito só. Fui lá na semana passada, para a conhecer. E hoje foi o primeiro dia de companhia, só nós, sem a coordenadora dos voluntários. Falámos dos filhos, do trabalho que ela teve, da vida em geral. Levei a pequena Mada, que dormiu quase o tempo todo. Acho que correu bem. Para a semana há mais.