A Mada ontem à noite estava impossível. Chorava, lastimava-se, agarrava-se ora à barriga, ora às pernas, ora ao rabo. Parecia ter dores mas não se percebia onde. Tinha duas rosetas muito encarnadas nas bochechas. E chorava e chorava e queixava-se de tudo. Por fim, informou: «Estou doente». Pensei: temos o bicho de volta. Vai-se-me encher de febre e oxalá não seja nada pior. Durante a noite, choramingou algumas vezes. Era um queixume, um lamento, um ai que metia dó. Sempre que lá fui enxotou-me. «Vai-te embora», pedia. E eu, depois de a tapar e pousar a minha mão na testa dela certificando-me que não tinha febre, ia. Hoje de manhã acordou lá pelas 10h. Continuava queixosa e não quis sair da cama. Tirei-a da dela, meti-a na nossa, mudei-lhe a fralda, levei-lhe o leitinho. Perguntei: «Estás bem?» Respondeu, num choro insistente: «Estou doente». «Queres ir para a sala?», arrisquei. «Não. Quero ficar aqui». Preocupei-me. Era meio-dia quando me chamou. Tinha um enorme sorriso e quando perguntei se estava bem respondeu um sim com muitos «is» e muitos «ms»: siiiiiiiimmmmm. Estivemos longamente abraçadas, no quente da cama, ela com as duas mãos na minha cara, eu com as duas mãos na cara dela. Cheirei-a como um animal fareja a cria. Encostámos as cabeças e eu declarei: amo-te. Ela retribuiu: amo-te. Quando comecei finalmente a vesti-la, perguntei: «Estavas tão chorona ontem e há pouco, lembras-te?» Ela acenou com a cabeça. Lembrava-se. «Porque é que a Mada estava tão chorona?» Ela fechou os olhos, entortou a cabeça em jeito embaraçado e revelou: «A Mada estava chorona porque a Mada é muito maricas».
E pronto. Quem fala a verdade não merece castigo. :)
A Mada estava de pijaminha e a avó apareceu aqui no terraço, a chamar. Mada viu-a e disse: - Quero ir para a avó! Quero ir para a avó! Eu, que tinha pensado ficar em casa com ela, para que não saísse de casa doente, fiquei a olhar e disse: - Queres? - Siiiiiiiim! - Está bem. - Estou contente! Estou contente! Estou contente! (aos pulinhos) Eu, por outro lado, fiquei entre o sorridente e o tristonha. - Oh... tu não gostas de estar com a mamã? - Gosto. Mas quero ir para a avó... Fiz beicinho. Ela entortou a cabeça: - Estás triste, mãe? - Só um bocadinho. Gostava que ficasses aqui comigo. Responde a criaturinha, do alto dos seus 2 anos e meio, com as duas mãos na minha cara: - Não fiques triste. A Mada gosta muito da mãe. Mas vai só ali à avó e depois já volta!