Às vezes parece que se abre um precipício. Mas é só um intervalo de tempo. Às vezes até dá para apreciar a paisagem e arranjar forças para continuar a escalada. Não quer dizer que se caia. Não quer dizer que tudo se acabe. Às vezes é só mesmo uma vertigem. Um momento de reflexão. Para depois prosseguir. Subindo. Sempre subindo.
O despertador desperta na TSF mas acho que vou passar a programar um daqueles toques irritantes de sirene, que sempre é melhor do que acordar sempre com palavras como «crise», «falência», «desemprego», «assalto», «carjacking», «cortes», etc. Hoje foi mais um dia em que acordei como se tivesse tido um pesadelo. O rádio ligou-se aos gritos, à hora certa, e a minha palavra do dia foi «FMI». A primeira palavra de um dia inteiro cheio de palavras. Fiquei sentada na cama, estremunhada e em pânico: «O que é? O que foi? Vêm aí outra vez? O país acabou? Faliu? Fazemos as malas? Hã?»