Isto não é encanitanço, é mesmo ódio. Eu sei, a palavra é forte, mas creio não existir outra que melhor descreva o que sinto por esta subclasse de gente. Por isso, cá vai: Odeio, com todas as forças do meu ser, pessoas que dizem mal das outras, nas costas. Aquelas pessoas com quem a gente se senta, casualmente, num café, e dois minutos depois já estão a esfaquear alguém, ainda que esse alguém lhes seja próximo ou até... «amigo». Gente que passa os dias a tecer maledicência, fervendo num ódio em lume brando que não escolhe género, classe ou raça. Um ódio a tudo o que mexe. Gente para quem está tudo mal. O tempo está quente, está frio, está nublado; o país é uma merda; a amiga é uma falsa; os políticos deviam era morrer; o emprego é um inferno; o desemprego é ainda pior; a sogra é uma chata; a mãe é pior ainda; os filhos são impossíveis; o bolo está seco; os professores dos filhos são péssimos; olha aquele que mal vestido; credo, que gorda que esta está.... Gente que não se ouve, de certeza absoluta, porque se parasse para se escutar compreenderia como tem de estar absolutamente ruim da mona para achar realmente que ninguém presta para nada. Gente que espera que um dos companheiros de conversa levante o rabo da cadeira e vire costas para prontamente o arrasar com uma ou duas tiradas mortíferas. Odeio, com todas as forças do meu ser, pessoas assim. Felizmente, conheço poucas. E fujo delas a sete pés.
Uma pessoa está a estacionar. É até bastante ás do volante no que ao estacionamento diz respeito, ou não tivesse morado cinco anos no Príncipe Real. Está a fazer a coisa bem depressinha mas há um idiota que, querendo mostrar a sua urgência, se põe a dar toques com a pata no acelerador, fazendo o seu carro rugir de raiva. A pessoa, que até estava a ir bem, começa a enervar-se e deixa o carro ir abaixo. O imbecil aproxima a sua viatura perigosamente, atrapalhando a manobra. Depois, quando tem o espaço mínimo para seguir viagem (ainda que arriscando levar um pedaço da grelha da frente do nosso carro) arranca, fazendo chiar os pneus. A sério: há gajos que só lá iam com um cérebro novo. Ou com um pénis maiorzinho, vá.
Uma pessoa está doente. Inchada como um porco afogado. Sente-se malíssimo. Nem aperta as calças. Tem tanto ar dentro da pança como o que existe em algumas cabeças que conheço (mas agora não me lembro quais, escusam de perguntar). Nem consegue caminhar porque o movimento balança o ar dentro do abdómen, que por sua vez comprime os órgãos, que por sua vez se aborrecem. Uma pessoa está uma miséria, portanto. Manda um email ao gastro, que é um querido e sabe que a pessoa tem cenas maradas no estômago (e em calhando na tripa também), e lhe responde que vá ter com ele no dia seguinte, para que a veja. O que é que me encanita? Encanita-me que hoje seja o dia da visita e a pessoa inchada como um porco afogado (eu) esteja já substancialmente menos inchada, talvez já apenas inchada como uma ratazana afogada ou como um porco-da Índia afogado, não podendo portanto impressionar o doutor com a sua protuberância abdominal - que ficaria apreensivo e lesto a marcar exames para entender o que se passa, na urgência de devolver a saúde (e a cintura) à inchada - e correndo o risco de amanhã, quando já não for dia da consulta, estar de novo quatro vezes maior que o normal, e ter de curar a coisa com chá e caldos de galinha porque o médico, na véspera, encolheu os ombros e, vislumbrando apenas um ligeiro insuflamento, achou que aquilo não era nada, só manias de hipocondríaca.
Tentar descobrir um CD no meio de dezenas ou centenas deles. As lombadas começam a baralhar-se-me nos olhos, não distingo um Leonard Cohen de um Nilton Nascimento e não consigo, quase nunca, encontrar aquilo que procuro.
Por exemplo, neste momento queria tanto encontrar o álbum Felt Mountain, dos Goldfrapp, e que me acompanha sempre que estou a escrever uma reportagem imensa. Agora dava-me um jeito do caraças. Mas, claro, não consegui. Saiu-me um Pinho Vargas, vamos ver se também resulta bem.
Ver anúncios de casas que têm a indicação de «Preço sob consulta». Aaaaaaaaargh!!!! Uma pessoa ali a achar aquela casa uma graça e a aguar para saber se pode começar já a fazer a mudança e... pumbas: é segredo! Pergunto-me: isto beneficia alguém? Sob a minha perspectiva - que será, admito, muito limitada - a coisa não ajuda nem quem procura casa nem quem vende casa. Quem procura fica a achar: «Uiiii, deve ser tão cara que nem metem cá o preço. Deixa lá isso.» Ou então pensa: «Eh pá, agora tenho de ligar para lá, perguntar o preço, depois os tipos da imobiliária nunca mais me largam, super solícitos, "mas exactamente do que é que estava à procura?", e eu sem tempo... Deixa lá isso.» Quem vende arrisca-se a levar com 652 telefonemas de gente que jamais teria dinheiro para comprar aquela casa mas que, por não estar lá o preço, liga a saber. Ou então arrisca-se a não ter telefonema nenhum, pelos motivos descritos antes. Se alguém de uma imobiliária quiser esclarecer-me sobre o interesse de não pôr os preços eu agradeço. Sou pessoa que gosta de entender as coisas. Se não houver explicação... dava para porem o valor das casinhas nas ditas, por favor? Muito agradecida.