Ontem começámos o dia a visitar a Guinness Storehouse. Uma visita que vale mesmo muito a pena. Tudo muito bem feito, interactivo, com o humor irlandês de sempre (muito similar ao british mas talvez menos fleumático). Adorámos.
A história da família é muito inspiradora. Arthur Guinness, o fundador da marca, arrendou a destilaria em Dublin em 1759. Tinha 34 anos e o contrato foi assinado por 9 mil anos e uma renda anual de 45 libras. Uma pechincha. Não era o espaço que é hoje e tinha pouco equipamento mas, dez anos mais tarde, começou a exportar. A cerveja que ele trouxe era diferente. Tinha sido criada por Ralph Harwood, em Londres, e chamava-se "porter". Era diferente porque usava cevada tostada, o que lhe dava uma cor escura e um aroma rico.
Arthur Guinness e Olivia Whitmore tiveram 21 filhos. Repito: 21 filhos. Mas, naquele tempo, apenas 15% das crianças chegavam à idade adulta, e dos 21 sobraram apenas 10. Ainda assim, os suficientes para continuarem com o negócio do pai. Hoje em dia existe a graça de que "há um bebé em cada garrafa de Guiness", pelo que é bom beber com moderação. 😜
A Guinness criou todo um mundo de serviços e facilidades para os seus colaboradores. Piscina, grupo de teatro, grupo de música, creio que infantário para os filhos dos empregados (não tenho a certeza) e os reformados têm uma refeição por dia que lhes é oferecida. Também há uma ambulância Guiness, que transporta os doentes da empresa para o hospital, para consultas ou para casa quando têm alta. Além disso, durante todos estes anos, a Guinness tinha salários superiores à média nacional (além de seguro de saúde, entre outros benefícios).
Esta imagem faz-me lembrar alguém... mas sem a cerveja. E, vá, a agora fotografada também tem uns quilos a menos do que o anterior protagonista em cima de uma tartaruga gigante
A isto se chama enfiar a cabeça debaixo da areia... (humor tipicamente irlandês - até na entrada desta sala cheia de bonecos de animais, lê-se um hilariante "don't feed the animals")
Oh yeah... True Story (se bem que não me imagino sem o meu - aliás, daqui segue um gigante OBRIGADA ao meu querido homem, que está a aguentar o barco com 4 vickings para que eu possa estar aqui com mamãe - we do need them, after all 😬)
Mais de 20 artistas internacionais juntaram-se para criar esta espectacular escultura de homenagem a Arthur e à Guinness. Um copo de cerveja com 2 toneladas e cerca de 3, 5 metros de altura, com detalhes sobre a sua história
A visita termina no Gravity Bar, um bar redondo no topo do edifício, todo em vidro, com vista para o enorme espaço da fábrica e para Dublin em geral. Por lá, em troca do bilhete oferecem uma Guinness a cada visitante. Dei três golos e fui incapaz de beber mais. Acho aquilo horrível, com um sabor a terra (se bem que nunca bebi terra mas é o que me faz lembrar, talvez pelo cheiro), espesso. Creio que ficaria almoçada e talvez jantada se tivesse bebido até ao fim (bom, e bêbeda), mas não fui mesmo capaz. A minha mãe também não conseguiu gostar. Damn it!
There's a baby in each pint? Hummm... em calhando não bebo isto!
Cheers!
Curiosidades:
Perto da Guinness há um hospital psiquiátrico chamado Saint Patrick's Hospital. Uma das valências deste hospital consiste na "cura" de dependências, nomeadamente do álcool. Não deixa de ser irónico, porque à saída há Guinness por todo o lado. Talvez a localização não seja a melhor... 🙊
Outra curiosidade sobre esse hospital: Jonathan Swift (autor de As Viagens de Gulliver, um livro que parece ser infantil mas é, na verdade, um manifesto político) deixou em testamento uma boa soma de dinheiro ao Saint Patrick's Hospital. Em vida, julgou (e julgaram) que estava a enlouquecer porque começou a ouvir vozes. Noventa anos depois da sua morte, o seu corpo foi exumado e examinado por William Wilde, um médico proeminente na cidade (e também pai de Oscar Wilde). O médico descobriu, então, as razões para os sons que o escritor ouvia: tinha um osso solto no ouvido interno. Ou seja, não estava louco. Tinha, apenas, um problema auditivo que lhe causava insuportável incómodo e perturbação. Viva a Ciência (ainda que nem sempre tenha conseguido dar as respostas em tempo útil).
Também ficámos a conhecer o Phoenix Park. O maior parque da europa. Tão grande que caberiam lá dentro 6,5 Hyde Parks (o maior jardim de Londres) e 2 Central Parks (o gigante parque de Nova Iorque). Vê-se imensa gente a correr, a andar de bicicleta, de patins, de trotineta... dá uma inveja do caraças, só vos digo.
No parque há um enorme monumento de homenagem ao Duque de Wellington (que derrotou Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo). O Duque de Wellington (Arthur Wellesley, de seu nome) nasceu na Irlanda mas nunca se considerou irlandês. De resto, costumava dizer: "Just because a man is born in a stable, it does not make him a horse". Auch!
A residência oficial do Presidente da Irlanda também fica no Phoenix Park.
Há uma história bonita sobre esta residência e sobre uma janela em particular.
Pouco depois de ter sido eleita a presidente da Irlanda, em 1990, Mary Robinson acendeu uma luz numa das janelas da residência oficial, em memória dos milhões de irlandeses emigrados. O gesto tem na origem uma tradição das vilas piscatórias, onde as mulheres deixavam sempre uma luz acesa enquanto os maridos estavam no mar.
Essa luz, na residência oficial do presidente da Irlanda, nunca mais se apagou. Tornou-se uma forma de dizer "Aqueles que saíram do país continuam a fazer parte do que somos enquanto nação". E trouxe com ela uma série de importantes medidas de apoio aos emigrantes.
Também o Zoo fica no Phoenix Park (eu bem disse que era grande). O Zoo é conhecido pelo seu papel de conservação e educação e também pela quantidade de animais que nascem em cativeiro (sinal de que vivem num ambiente muito similar ao seu habitat natural). Um leão de nome Slats nasceu no Zoo de Dublin em 1919 e acabou por ser a estrela da Metro-Goldwyn-Mayer. Sabem? Aquele leão a rugir, antes dos filmes? Pois é. Como nos disse o condutor do autocarro "da próxima vez que o virem, escutem com atenção o seu rugido e vão notar a pronúncia irlandesa".
Ontem fomos também à Jameson mas as visitas tinham mais de uma hora de espera. Decidimos ir hoje (mostro no próximo post).
Quando saímos de lá, passámos por Dublin Castle, Dublinia, Saint Patrick's Cathedral.
E fomos conhecer o o pub mais antigo de Dublin: The Brazen Head (1198). Tão giro!
Por fim, e antes do dia terminar, ainda pousámos no Bachelor Inn, um bar tipicamente irlandês, conhecido pelo seu "Poet's Corner", que pretende celebrar a riqueza literária e cultural do país. Há imagens e citações de Joyce, Wilde, Yeats, Samuel Beckett, entre outros. Uma das minhas preferidas? Esta, de Joyce: "A man's errors are his portals of discovery" (qualquer coisa como: os erros dos Homens são os seus portões para a descoberta/aprendizagem). Here's to Joyce!