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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Dublin #4

Ontem, além de andarmos pelas ruas, fomos ao Epic Ireland (um museu sobre a história da emigração irlandesa), por conselho de uma leitora do Cocó (obrigada Tânia Marques!). É um museu incrível (como, pelos vistos, são todos os museus irlandeses - pelo menos todos os que vimos). Que maravilha. Aprender assim é fácil. Aprender assim dá gosto. Se todos os museus fossem assim, e se todo o ensino fosse pensado de modo a ser mais cativante haveria, seguramente, menos ignorância.

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A história da emigração, de mãos dadas com a história da Irlanda, a fuga da fome, a fuga do domínio inglês, a busca de melhores condições de vida, a conquista do sucesso além-fronteiras, a influência irlandesa no mundo. Tudo muito bem feito, interactivo, dinâmico, cativante. Impossível não gostar. 

Ao visitante é dado um passaporte que, à medida que vai passando em cada sala, pode carimbar numas máquinas próprias para o efeito. No final, tem um passaporte com a marca das suas "viagens" por cada capítulo de uma história muito interessante.

No final, um memorial à Grande Fome (1845-49), do esculturor irlandês Rowan Gillespie.

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Antes de irmos buscar as coisas ao hotel e seguirmos para o aeroporto, demos ainda uma volta pelas ruas do centro de Dublin.

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Por fim, fomos ao Intercontinental buscar as nossas malas.

O hotel era simplesmente fabuloso. O pequeno-almoço daqueles a que não falta nada, com ovos feitos por um chef na hora e até uma estação de mel (com os favos inteiros).

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Mandar daqui um abracinho ao chefe de sala, que era simpatiquíssimo e que nos deu os parabéns pela vitória na Eurovisão. Um outro abraço à funcionária que estava no pequeno-almoço e que disse maravilhas sobre Portugal e sobre Lisboa (disse tantas maravilhas que não me admiro que um dia destes venha para cá viver). E um abraço ainda mais apertado ao Tiago Santos, português natural do Porto que também nos atendeu no pequeno-almoço, a viver há 5 anos na Irlanda mas com a perspectiva de, daqui a algum tempo, voltar ao país que o viu nascer. Obrigada pelas bicas bem tiradas (como só um português sabe), obrigada pela simpatia.

Um grande hotel, uma grande viagem, uns dias magníficos passados com a minha mãe, em jeito de presente de aniversário.

Gostámos muito de Dublin, adorámos as pessoas e todos os lugares que visitámos. 

Só é pena a chuva, sobre a qual os irlandeses estão sempre a gozar. Dizem, por exemplo, que só têm duas estações: inverno e julho. Mas estou em crer que em julho também chove. Outra: no autocarro Hop On-Hop Of a motorista às tantas viu umas montanhas: "Olha! Podemos ver as montanhas! Quando não se vêem as montanhas é porque vai chover. Quando se vêem... é porque já está a chover!" Adorámos o humor. 

Venha a próxima viagem!

 

Nota: Muito obrigada ao meu marido, que é um homem como deve ser, e que ficou 4 dias com 4 filhos, na maior. 

 

Dublin #3

Domingo foi dia de visitar a prisão Kilmainham. Prisão criada em 1796 e extinta em 1924. Domingo foi dia de ouvir histórias de horror e de morte. Como a história de como, durante a Grande Fome (1845-1852), homens, mulheres e crianças cometiam crimes de propósito para serem presos porque na prisão, apesar de ter condições absolutamente desumanas, havia maiores de probabilidade de sobrevivência do que fora dela. Durante a Grande Fome (provocada essencialmente por uma peste que devastou as plantações de batata - base da Economia nacional da época) morreu mais de um milhão de irlandeses. Na prisão, nesses tempos mais duros, serviam uma única refeição por dia (muito mais do que poderiam obter cá fora).  Em celas de 3m2 chegavam a coabitar 7 pessoas (sem separação por sexos, era tudo ao molho e fé em Deus). Só paredes e chão frio. As janelas com grades não tinham vidros. Considerava-se que, desse modo, as febres e as doenças não tinham condições de proliferar. Talvez não estivessem completamente errados porque a mortalidade dentro da prisão era bastante baixa (apesar de ser quase impossível acreditar, dadas as condições).

O mais novo elemento aqui detido chamava-se Mathew e tinha 5 anos. Foi preso por ter roubado comida.

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 Esta era a parte nova, construída em período vitoriano. O tecto em vidro era para que os presos pudessem olhar o céu, em busca de redenção. Esta parte da prisão já apareceu em vários filmes, como Michael Collins ou In The Name of The Father.

A parte velha da prisão (em baixo) era muuuuito pior

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Foi nesta prisão que foram executados 14 rebeldes da Revolta da Páscoa, em 1916 (uma revolta de militares irlandeses contra o domínio inglês): Thomas Clarke, Thomas Mac Donagh, Pádraig Pearse, Edward Daly, Michael O’Hanrahan, William Pearse, Joseph Mary Plunkett, John MacBride, Con Colbert, Éamonn Ceannt, Seán Heuston, Michael Mallin, James Connolly and Seán Mac Diarmada.

 

Saímos da prisão com um nó na garganta. Felizmente já tínhamos comprado o bilhete para a visita das 16h à Jameson. Para digerir aquela visita só mesmo com um whisky destilado 3 vezes!

A Jameson Storehouse começa por ser um dos bares mais giros onde já estive.

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Dublin #2

Ontem começámos o dia a visitar a Guinness Storehouse. Uma visita que vale mesmo muito a pena. Tudo muito bem feito, interactivo, com o humor irlandês de sempre (muito similar ao british mas talvez menos fleumático). Adorámos.

A história da família é muito inspiradora. Arthur Guinness, o fundador da marca, arrendou a destilaria em Dublin em 1759. Tinha 34 anos e o contrato foi assinado por 9 mil anos e uma renda anual de 45 libras. Uma pechincha. Não era o espaço que é hoje e tinha pouco equipamento mas, dez anos mais tarde, começou a exportar. A cerveja que ele trouxe era diferente. Tinha sido criada por Ralph Harwood, em Londres, e chamava-se "porter". Era diferente porque usava cevada tostada, o que lhe dava uma cor escura e um aroma rico. 

Arthur Guinness e Olivia Whitmore tiveram 21 filhos. Repito: 21 filhos. Mas, naquele tempo, apenas 15% das crianças chegavam à idade adulta, e dos 21 sobraram apenas 10. Ainda assim, os suficientes para continuarem com o negócio do pai. Hoje em dia existe a graça de que "há um bebé em cada garrafa de Guiness", pelo que é bom beber com moderação. 😜

A Guinness criou todo um mundo de serviços e facilidades para os seus colaboradores. Piscina, grupo de teatro, grupo de música, creio que infantário para os filhos dos empregados (não tenho a certeza) e os reformados têm uma refeição por dia que lhes é oferecida. Também há uma ambulância Guiness, que transporta os doentes da empresa para o hospital, para consultas ou para casa quando têm alta.  Além disso, durante todos estes anos, a Guinness tinha salários superiores à média nacional (além de seguro de saúde, entre outros benefícios).

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Esta imagem faz-me lembrar alguém... mas sem a cerveja. E, vá, a agora fotografada também tem uns quilos a menos do que o anterior protagonista em cima de uma tartaruga gigante

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A isto se chama enfiar a cabeça debaixo da areia... (humor tipicamente irlandês - até na entrada desta sala cheia de bonecos de animais, lê-se um hilariante "don't feed the animals")

 

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Oh yeah... True Story (se bem que não me imagino sem o meu - aliás, daqui segue um gigante OBRIGADA ao meu querido homem, que está a aguentar o barco com 4 vickings para que eu possa estar aqui com mamãe - we do need them, after all 😬)

 

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 Mais de 20 artistas internacionais juntaram-se para criar esta espectacular escultura de homenagem a Arthur e à Guinness. Um copo de cerveja com 2 toneladas e cerca de 3, 5 metros de altura, com detalhes sobre a sua história

 

A visita termina no Gravity Bar, um bar redondo no topo do edifício, todo em vidro, com vista para o enorme espaço da fábrica e para Dublin em geral. Por lá, em troca do bilhete oferecem uma Guinness a cada visitante. Dei três golos e fui incapaz de beber mais. Acho aquilo horrível, com um sabor a terra (se bem que nunca bebi terra mas é o que me faz lembrar, talvez pelo cheiro), espesso. Creio que ficaria almoçada e talvez jantada se tivesse bebido até ao fim (bom, e bêbeda), mas não fui mesmo capaz. A minha mãe também não conseguiu gostar. Damn it!

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There's a baby in each pint? Hummm... em calhando não bebo isto!

 

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 Cheers! 

 

Curiosidades: 

Perto da Guinness há um hospital psiquiátrico chamado Saint Patrick's Hospital. Uma das valências deste hospital consiste na "cura" de dependências, nomeadamente do álcool. Não deixa de ser irónico, porque à saída há Guinness por todo o lado. Talvez a localização não seja a melhor... 🙊

Outra curiosidade sobre esse hospital: Jonathan Swift (autor de As Viagens de Gulliver, um livro que parece ser infantil mas é, na verdade, um manifesto político) deixou em testamento uma boa soma de dinheiro ao Saint Patrick's Hospital. Em vida, julgou (e julgaram) que estava a enlouquecer porque começou a ouvir vozes. Noventa anos depois da sua morte, o seu corpo foi exumado e examinado por William Wilde, um médico proeminente na cidade (e também pai de Oscar Wilde). O médico descobriu, então, as razões para os sons que o escritor ouvia: tinha um osso solto no ouvido interno. Ou seja, não estava louco. Tinha, apenas, um problema auditivo que lhe causava insuportável incómodo e perturbação. Viva a Ciência (ainda que nem sempre tenha conseguido dar as respostas em tempo útil).

 

Também ficámos a conhecer o Phoenix Park. O maior parque da europa. Tão grande que caberiam lá dentro 6,5 Hyde Parks (o maior jardim de Londres) e 2 Central Parks (o gigante parque de Nova Iorque). Vê-se imensa gente a correr, a andar de bicicleta, de patins, de trotineta... dá uma inveja do caraças, só vos digo.

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No parque há um enorme monumento de homenagem ao Duque de Wellington (que derrotou Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo). O Duque de Wellington (Arthur Wellesley, de seu nome) nasceu na Irlanda mas nunca se considerou irlandês. De resto, costumava dizer: "Just because a man is born in a stable, it does not make him a horse". Auch! 

A residência oficial do Presidente da Irlanda também fica no Phoenix Park. 

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Há uma história bonita sobre esta residência e sobre uma janela em particular. 

Pouco depois de ter sido eleita a presidente da Irlanda, em 1990, Mary Robinson acendeu uma luz numa das janelas da residência oficial, em memória dos milhões de irlandeses emigrados. O gesto tem na origem uma tradição das vilas piscatórias, onde as mulheres deixavam sempre uma luz acesa enquanto os maridos estavam no mar.

Essa luz, na residência oficial do presidente da Irlanda, nunca mais se apagou. Tornou-se uma forma de dizer "Aqueles que saíram do país continuam a fazer parte do que somos enquanto nação". E trouxe com ela uma série de importantes medidas de apoio aos emigrantes.

 

Também o Zoo fica no Phoenix Park (eu bem disse que era grande). O Zoo é conhecido pelo seu papel de conservação e educação e também pela quantidade de animais que nascem em cativeiro (sinal de que vivem num ambiente muito similar ao seu habitat natural). Um leão de nome Slats nasceu no Zoo de Dublin em 1919 e acabou por ser a estrela da Metro-Goldwyn-Mayer. Sabem? Aquele leão a rugir, antes dos filmes? Pois é. Como nos disse o condutor do autocarro "da próxima vez que o virem, escutem com atenção o seu rugido e vão notar a pronúncia irlandesa". 

 

 

Ontem fomos também à Jameson mas as visitas tinham mais de uma hora de espera. Decidimos ir hoje (mostro no próximo post). 

Quando saímos de lá, passámos por Dublin Castle, Dublinia, Saint Patrick's Cathedral.

 

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E fomos conhecer o o pub mais antigo de Dublin: The Brazen Head (1198). Tão giro!

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Por fim, e antes do dia terminar, ainda pousámos no Bachelor Inn, um bar tipicamente irlandês, conhecido pelo seu "Poet's Corner", que pretende celebrar a riqueza literária e cultural do país. Há imagens e citações de Joyce, Wilde, Yeats, Samuel Beckett, entre outros. Uma das minhas preferidas? Esta, de Joyce: "A man's errors are his portals of discovery" (qualquer coisa como: os erros dos Homens são os seus portões para a descoberta/aprendizagem). Here's to Joyce!

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Dublin #1

Tinha dito à minha mãe que não marcasse nada para o dia e o fim-de-semana a seguir ao seu aniversário. Disse-lhe que preparasse uma mala de cabine, com roupa mais para o quente do que para o fresca, e mais nada. Na quinta-feira, durante o jantar de família, muito se especulou para onde iríamos, mas mantive-a em suspense.

Ontem de manhã, fomos para o aeroporto e consegui que não visse o destino, nem mesmo na porta de embarque. Foi só no avião que ouviu o piloto e percebeu que o destino era... Dublin! Não havia muitas capitais Europeias que ela ainda não conhecesse e, por isso, Dublin estava na lista das suas suspeições. Mas já confessou que se inclinava mais para Copenhaga ou Estocolmo.

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Acabadinha de descobrir que Dublin era o destino 

 

Chegámos ao hotel e... mais uma surpresa: bombons e uma mensagem de parabéns. Muito obrigada, Intercontinental, pelo miminho tão querido! E a suite onde estamos é linda de morrer.

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Ontem andámos a passear e vimos a Trinity College e, lá dentro, a exposição "Turning Darkness into Light" onde vimos o Book of Kells, e depois subimos ao primeiro andar para nos deslumbrarmos com The Long Room, uma biblioteca absolutamente esmagadora.

The Book of Kells foi escrito provavelmente por monges de Iona no início do século IX e contém um texto em latim dos quatro Evangelhos, que são ornamentados por iluminuras incríveis que nos deixam de queixo caído pela sua riqueza. 

A biblioteca da Trinity College possui a maior colecção de manuscritos e livros impressos da Irlanda. Desde 1801 que tem o privilégio de receber um exemplar de qualquer obra publicada na Grã Bretanha ou Irlanda. Actualmente, a biblioteca tem cerca de 3 milhões de volumes, repartidos por oito edifícios. O mais antigo, a Antiga Biblioteca, foi contruída entre 1712 e 1732.

A sala principal desta Antiga Biblioteca chama-se The Long Room, e tem cerca de 200.000 livros, dos mais antigos que a biblioteca, no seu conjunto, possui. É absolutamente deslumbrante.

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Saímos e fomos para a zona dos bares à procura do Temple Bar. Encontrámos e ainda bem. É imperdível. 

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Uma nota: as pessoas são simpatiquíssimas. A título de exemplo: ontem, quando entrámos no autocarro para o centro da cidade, pagámos com uma nota de 20€. O condutor não tinha troco, pediu desculpa, e sugeriu que fôssemos à procura de alguém que tivesse notas mais pequenas para trocar pela nossa de 20€. Avancei pelo autocarro, perguntei a um senhor, não tinha. O senhor do lado, solícito, começou a ver na carteira. Não tinha. Levou então a mão ao bolso, tirou todas as moedas que tinha e entregou-as. Fiquei a olhar para ele, sem saber o que fazer. Ele insistiu. Eram para nós. Ficámos parvas a olhar para ele e agradecemos umas 600 vezes. Mas a história não ficou por aí. A seguir fomos ter com o motorista. Perguntámos quanto era, de novo. 5,40€. Comecei a contar. "Not enough", lastimei eu. Quanto tens?, perguntou. Contei as moedas. Três euros e pouco. "Ok, it's ok". Ou seja, ainda que não tivéssemos o suficiente, o motorista aceitou assim. 

Isto é apenas um exemplo. Até agora só temos apanhado irlandeses simpáticos, prestáveis, cheios de vontade de ajudar.