Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Sobre a falta de empatia

Anteontem fui comprar uns frangos porque os nossos primos vinham ver o jogo de Portugal cá a casa. Aproveitei enquanto esperava para ir ao Pingo Doce em Alvalade fazer umas compras de última hora. Estava na fila para a caixa quando uma senhora pede encarecidamente ao cliente que se seguia se pode passar só um creme. A mulher à minha frente bufou, inquietou-se, e questionou:

- Desculpe lá mas eu também só tenho uma grade de cervejas e não percebo por que está a passar à frente.

A senhora, super educada, explicou que tinha as compras todas na caixa do lado, já pagas, mas que aquele creme em específico tinha de ser passado naquela caixa - tinha sido a operadora da outra que a tinha mandado para lá, pedia desculpa, mas já tinha estado na fila para passar as compras todas, não achava justo ficar de novo na fila apenas para um creme, quando a culpa não era sua. A mulher lá se conformou, mas com cara de poucos amigos.

A seguir, azar dos azares, apareceu uma grávida. Muuuuuito grávida. Que pediu licença mas tinha prioridade. A outra passou-se.

- Desculpe lá, mas a senhora tem alguma doença?

Eu, que estava atrás dela, revirei os olhos e disse, alto:

- Uiiiiiii... 

- Tem alguma doença? É que gravidez não é doença!

A grávida ficou estarrecida a olhar para ela. Nem conseguia falar. Consegui eu. Disse-lhe que estava na lei e assunto arrumado. Ela argumentou. Que tinha tido 3 filhos e nunca tinha passado à frente de ninguém. Nunca passou porque ainda não estava na lei. Se estava foi burra por não ter usufruído de um direito que era seu. E se se sentia bem para não o fazer o mesmo não pode garantir sobre aquela pessoa que ali está, que pode ter tensão baixa, tensão alta, contracções, diabetes gestacional, uma panóplia infindável de questões de saúde sobre as quais nada sabe. A petulante, no final, ainda teve a distinta lata de desejar "boa sorte com os clientes" à funcionária da caixa. "Bem precisa, se forem todos como você", rosnei. 

 

A falta de empatia, de cuidado com o outro põe-me doente. É por isso que digo: prefiro mil vezes criar filhos que saibam o valor da empatia, do respeito pelo outro, da solidariedade, do que génios, academicamente falando, que depois têm uma pedra no lugar do coração. 

grávida.jpg

 A ilustração não se refere propriamente à situação descrita mas vai dar ao mesmo (e está maravilhosa)

 

84 comentários

Comentar post