Rota da Saúde #7: Como lidar com o mau humor dos adolescentes?
Sou uma afortunada (por enquanto, que cheira-me que quando chegar a vez da Madalena vai ser um vê se te avias). O Manel tem por vezes mau feitio e algum mau humor mas é raro (e, em bom rigor, quem não tem?). Regra geral é um miúdo incrível, que ajuda imenso, que resolve problemas como se fosse pai, que ralha connosco quando acha que estamos a deseducar o Mateus (e às vezes estamos mas a paciência já não é a mesma e praticamos muitas vezes o "deixa andar" para desespero do mais velho), que sai à noite de vez em quando mas sem exageros, que é super tranquilo, que estuda sem ser preciso mandar, que gosta de estar em casa, que não se isola no quarto sem pachorra para nós. O Martim, que vai fazer 14 anos, é o maior porreiro e nunca está de mau humor. É o que eu digo: é aguardar pela adolescência da Mada, que aí é que - acho - vão ser elas!
Bom, mas tudo isto para dizer que a adolescência pode ser uma fase conturbada. Podem existir guerras de palavras, conflitos com os pais, discussões a toda a hora que ameaçam dar cabo da harmonia familiar. O pediatra Sérgio Neves, da Clínica de Stº António e da Clínica Lusíadas Almada, diz que é importante ter noção de que a adolescência implica mudanças físicas significativas: "As hormonas sexuais influenciam o desenvolvimento do cérebro, modificando o comportamento do adolescente, nomeadamente ao nível do humor e da impulsividade, bem como os seus interesses e capacidades intelectuais".
A verdade é que, para os próprios jovens, também pode ser angustiante lidar com as mudanças de idade e, por isso, o ideal é que os pais tenham alguma empatia para com todas estas alterações de que eles estão a ser alvo.
Autoridade versus permissividade
Educar torna-se, nesta fase, quase sempre um quebra-cabeças para muitos pais. Muitas vezes, o que antes tinha um efeito positivo, de repente parece ter deixado de resiltar e vice-versa. "Será que sou demasiado autoritário? Ou, por outro lado, muito permissivo? Para o especialista, no entanto, a resposta é óbvia: nenhum dos métodos resulta. O melhor é mesmo optar por um meio-termo, recorrendo ao sempre tão elogiado bom senso e praticando aquilo a que se chama um "método autoritativo". Ou seja, uma educação baseada em:
- Regras bem definidas (de preferência discutidas previamente com o adolescente);
- Sanções conhecidas ao não cumprimento e com uma duração definida;
- Adaptação das regras e limites à maturidade do adolescente (flexibilidade, equidade e justiça);
Sérgio Neves lembra ainda que:
- As sanções não devem envolver actividades promotoras de saúde, como o desporto;
- Há que promover a autorregulação do adolescente (para melhor lidar com a frustração)
- Poderá ser benéfico chamar à negociação pessoas que sejam significativas para o adolesccente (por exemplo, outro familiar, um treinador, um professor);
- O diálogo deve ser tido depois do "episódio de conflito";
É importante promover e valorizar as qualidades e ganhos dos filhos.
"Onde é que eu errei?"
A experiência de Sérgio Neves permitiu-lhe, ao longo dos anos, identificar quais as situações que os pais devem evitar, de modo a facilitar a relação com os filhos adolescentes. Os erros mais comuns são:
- Exaltarem-se e perderem a calma;
- Os pais sentirem que já não são exemplo ou importantes na vida dos seus filhos;
- Os filhos serem vistos como um foco permanente de conflito;
- Não serem capazes de reforçar os ganhos e aspectos positivos dos filhos;
- Sentirem que estão sozinhos na educação dos seus filhos;
- Fazerem comparações entre os filhos e os seus amigos e/ou colegas;
- Projectarem nos filhos as suas próprias vivências como adolescentes;
- Não aceitarem a diferença (crenças, orientação sexual, opção religiosa...)
Por vezes há sinais de alerta a que os pais devem mesmo estar atentos. Leiam mais AQUI.
(esta rubrica é uma parceria com a Lusíadas Saúde)