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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Prisão segura/ liberdade mortal

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Há uma história da minha infância que por vezes revisito, com ternura, e que espelha bem quem sou, desde tenra idade. Teria uns 5 ou 6 anos e lembro-me de passar muito tempo a olhar para uma gaiola que a minha avó materna tinha na cozinha. Inquietava-me a vida daquele periquito, angustiava-me o inútil bater das suas asas, fazia-me falta de ar o seu cárcere sem crime. Um dia, empoleirei-me numa cadeira, abri a gaiola e dei-lhe um empurraozinho para a liberdade. “Vai!”

Sucede que em casa da minha avó havia uma gata, chamada Pirulita. Atenta, mal vislumbrou o pássaro fora das grades, impulsionou as felinas patas traseiras e abocanhou a ave no seu voo inaugural, deixando-me perplexa, triste e esmagada pela culpa. Por minha causa, o periquito tinha morrido.

Seguiram-se algumas infantis considerações sobre o que seria melhor, a vida em cativeiro ou um único voo, ainda que para a morte, considerações que talvez não tenha feito logo mas que fui elaborando ao longo dos anos, sempre que recordava este episódio. De qualquer modo, aquela foi uma lição que levei para a vida e que se aplica até a estes dias de confinamento: não gosto de estar presa, ninguém gosta, mas neste momento a liberdade pode significar coisa pior. Aninho-me na gaiola e vou cantando, como fazia o pássaro da minha avó na sua prisão segura. Melhores dias virão, com voos sem gatos à espreita.

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