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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Pálpebras coleccionadoras

É esquisito mas verdadeiro. As minhas pálpebras gostam de coleccionar cenas. Açambarcam. Guardam. Têm vida própria. A primeira vez que isto aconteceu, senti um raspar no olho horrível. Foi no Verão, tinha ido à praia. Achei que era areia, pus soro, pestanejei mil vezes. Nada. No dia seguinte fui à urgência e o oftalmologista removeu uma mini-concha do interior da minha pálpebra. Deve ter achado que era bonita e tratou de a guardar, lixando-me a córnea. Andei 7 dias a antibiótico, um ou dois dias de olho tapado, óculos por duas semanas. 

Desta vez foi ao retirar as lentes, à noite, para ir dormir. Uma sensação de ter algo no olho, pensei que fosse uma pestana, ali andei eu a olhar para o chão e a piscar como se tivesse um tique irritante. Nada. Pus soro, soprei, chamei o Ricardo que inspeccionou, soprou, nada. Dormi pessimamente, sempre com aquela sensação. No dia seguinte acordei na mesma e foi então que me lembrei do evento anterior. Seria a açambarcadora da pálpebra a coleccionar lixarada? Vai daí e fiz a experiência: apesar de me doer o olho, meti as lentes. E, claro, passou. Porque o que quer que lá estivesse passou a roçar na lente e não no olho, de cada vez que eu pestanejava. Marquei consulta urgente para o primeiro oftalmologista que tinha vaga. E fui ontem à consulta. Dormi na noite de terça para quarta com a lente porque, quando a tentei tirar à noite, ia ensandecendo com a sensação de ter um vidro a cortar o olho. Antes a lente! 

Quando cheguei à consulta, o médico mandou-me tirar as lentes. Depois, rectificou: só precisava de ter removido a do olho afectado (mas já era tarde - uso lentes diárias e já tinha mandado as duas para o lixo). Senti logo que o que quer que lá tivesse estado já tinha saído, mas a dor no olho era evidente. O médico pôs um corante no meu olho e depois analisou criteriosamente, por detrás de uma máquina que deve ter aumentado o meu olho para um tamanho gigantesco. Revirou-me a pálpebra e confirmou que já lá não estava o causador do dano. Mas o dano era evidente: algumas lesões na córnea.

E pronto. Saí de lá como uma toupeira. De olho direito tapado e o esquerdo - que é o que vê pior - sem lente. Nem sei como cheguei a casa (apesar de ter ido a pé, garanto que não foi fácil). Uma sensação de bebedeira e de ressaca ao mesmo tempo: tonta, desequilibrada, enjoada. 

Hoje já estou sem a pala à Camões, felizmente. E dou muito valor a todos os que não vêem de todo ou vêem muito mal. Como sempre, só damos valor ao que temos quando deixamos de ter. E a visão é, sem dúvida, o sentido que mais prezo. Isto é só uma coisinha sem importância, nem consigo imaginar um problema maior com os olhos (um grande beijinho para a Soraia, a quem aconteceu uma coisa bem grave num olho mas que vai conseguir continuar a ver a beleza da vida por inteiro).

Tenho antibiótico para os próximos 7 dias e nada de lentes de contacto. Raios partam as minhas pálpebras coleccionadoras e os sarilhos que me trazem as suas colecções.

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