O proibido loden verde
Freitas do Amaral morreu ontem e, além de dizer o que já muito se disse, sobre o facto de ter sido um dos fundadores da democracia portuguesa, relembro a campanha para as presidenciais de 1986 e o seu mítico loden verde. A minha mãe era PS, os amigos da minha mãe eram PS, e eu a filha dos amigos da minha mãe suspirávamos em segredo por aquele loden verde. Creio que terá sido das primeiras peças de roupa que desejei ter, assim mesmo muito, como mais tarde quis ter as calças Uniform, El Charro, Chevignon e os blusões Duffy. Mas aquele loden verde... aquele era proibido. Porque querê-lo era como se nos tivéssemos passado para "o inimigo". Vesti-lo era fazer um statement, era ser Freitas, era ser CDS, cruzes credo. No Colégio Moderno, onde eu andei do 5º ao 12º ano, andávamos com os crachás a dizer "Soares é fixe". E eu achava que era, gostava dele, identificava-me com os ideais mais à esquerda do que à direita. Havia muita gente com os crachás. Mas também havia muitos colegas com o loden. E entre os crachás e o loden... caraças, só pensava que podíamos ter tido mais sorte no símbolo da nossa ideologia.
Freitas do Amaral: 1941-2019