Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Nova Iorque em família - Parte I

Há uma coisa que o mundo tem que é uma maçada. Há tanto para ver mas depois existem assim uns sítios onde queremos sempre voltar, de vez em quando. E não faz mal nenhum, claro, mas é dinheiro e tempo que se canaliza para locais que já conhecemos, quando podíamos focar-nos em todos os que queremos descobrir - E SÃO TANTOS! Nova Iorque é um destes lugares. Esta foi a minha quarta visita e tenho a certeza de que, se puder, voltarei. Bom, mas desta vez havia uma desculpa óptima: dar a conhecer a grande maçã aos nossos quatro filhos. O mais novo vai esquecer tudo mais dia menos dia (que desperdício, caneco!), a Mada, se for desmemoriada como a mãezinha, também esquece grande parte, mas os mais velhos creio que se vão recordar desta viagem para todo o sempre. E nós, claro. Nós vamos recordar esta viagem para todo o sempre, sobretudo porque foi a melhor viagem que fizemos a Nova Iorque. Porquê? Porque não há melhor prazer do que proporcionar felicidade. E ver, na cara deles, o espanto, o deslumbramento, a avidez de conhecer, a emoção... é ainda melhor do que sentir isso sozinho. Dar mundo aos filhos é um dos nossos objectivos de vida e, por isso, esta viagem foi perfeita.

Não foi fácil decidir onde ficar hospedados. Os hotéis são caros, ainda mais em Dezembro (época super alta em NY) e mesmo os apartamentos não são baratos. Algumas pessoas aconselharam-nos a ficar em Brooklyn, que está muito cool (e está), mas acho que fizemos uma belíssima escolha em não ter ido para tão longe. Se assim fosse seria mesmo complicado andar por Manhattan até à noite, e depois voltar a casa (demorando mais tempo), sobretudo quando se viaja com um miúdo de 5 anos (mas esse ainda levava o carrinho) e uma miúda de 10 anos (que foi uma heroína e andou quilómetros por dia, mas esticar essa corda para a noite e para Brooklyn talvez não desse tão certo). A decisão foi do Ricardo e agora acho que foi uma boa decisão (apesar de, na altura em que ele andava a ver da estadia, já me estar a enervar por demorar tanto tempo e por não escolher Brooklyn de uma vez). Ficámos em East Village, entre a 1ª Avenida e a rua 14, num apartamento muito simpático que encontrámos no Airbnb, inserido numa espécie de parque com tabelas de basquet, parques infantis, e uma profusão de esquilos. A casa tinha uma sala com kitchenette, um quarto e uma casa-de-banho. Na sala havia uma cama de casal e um sofá (dormiram o Manel, a Mada e o Martim), e no quarto dormimos nós e o Mateus (num sofá). A cozinha tinha tudo o que era preciso e foi lá que fizemos os nossos jantares, quando já estávamos todos rebentados e sem fome (aquela junk food ao almoço deixou-nos invariavelmente enjoados e enfartados todos os dias, de modo que, quando chegávamos a casa, pelas 21h, o corpo clamava por iogurte, fruta e sossego). O bom de viver em apartamentos é que se tem uma ideia muito próxima de como é viver como um local, neste caso, como um nova-iorquino. Giro encontrar os "vizinhos" na sala das máquinas de lavar, na entrada do prédio, perceber a dinâmica da vida acaba por permitir ter uma visão menos turística e mais próxima da realidade (ainda que sejamos, obviamente, turistas).

Dizer que, do aeroporto até ao apartamento, escolhemos um serviço de transportes chamado Carmel, que era significativamente mais barato do que o Uber e do que os táxis. Não esquecer que somos 6 mais malas, o que significa que o carro tem de ser king size (logo: caro).

Dia 1

No primeiro dia, fizemos logo aquela primeira abordagem à cidade. Fomos a pé de casa, passámos pela biblioteca de NY e pelo Bryant Park (que é um amor) e continuámos a subir até àquele ponto que é, quanto a mim, o de "no return". Há qualquer coisa que nos enfeitiça para sempre em Times Square (ou então não, que também existem excepções). Quando estávamos a chegar, peguei no telefone, liguei a câmara e fiquei à espera das reacções dos mais velhos. Tive a sorte de captar o momento. Aquele momento em que nos sentimos esmagados por prédios gigantes, luzes que encandeiam, informação em excesso, gente e gente e gente. 

IMG_6546.JPG

Depois disto, foi o tentar absorver o máximo, que é difícil. O cérebro bem tenta mas é tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo... Times Square (e Nova Iorque, em geral) cansa muito. Só de estar. Porque é excessiva, é uma espécie de choque eléctrico, um desfibrilhador emocional. 

IMG_6557.JPGIMG_6564.JPGIMG_6567.jpgIMG_6571.jpgIMG_6574.jpgIMG_3831.jpg

Dali, da demasia, da exurbitância, da overdose, seguimos para o Central Park, como se precisássemos mostrar-lhes, rapidamente, que Nova Iorque pode ser isto (e é muito isto) mas também pode ser uma vastidão de árvores, caminhos, lagos, silêncio. Como se fosse preciso uma limpeza rápida, um digestivo, para que pudéssemos depois continuar. E o que sempre impressiona no Central Park, além da sua gigantesca dimensão, é o silêncio. Como é que se consegue aquele silêncio e aquela paz, no meio de uma cidade tão frenética? 

IMG_6584.jpgIMG_6588.JPGIMG_6625.jpgIMG_6630.JPGIMG_6634.jpg

O passeio continuou, pelas avenidas principais, que só de se percorrerem já dão uma excelente noção do que temos pela frente, nos próximos dias. Os edifícios causadores-de-torcicolos, a azáfama permanente, o fumo que sai das sargetas ou de tubos que emergem do solo, o individualismo presente em todo o lado, nas ruas, no metro, nos supermercados onde se vêem tantas pessoas a comprarem o jantar só para 1, para aquecer no microondas, nos sem-abrigo que jazem no chão, imóveis, e que podem estar mortos que ninguém sabe nem quer saber. Ainda houve tempo para ir a Rockefeller Center, ver a árvore de Natal e a pista de gelo, e de os levar a conhecer a Central Station (até os pequenos a conheciam do filme Madagáscar) e ficar - de novo - embasbacado com a dimensão daquela estação.

IMG_6658.jpgIMG_6661.jpgIMG_6671.jpgIMG_6679.JPG

À noite voltámos a Times Square, porque uma coisa é vê-la de dia, outra totalmente distinta é vê-la de noite, em que as luzes ainda se destacam mais (e porque todos os caminhos vão lá dar e porque os pés parece que se encaminham naturalmente para lá, como se houvesse um íman que nos puxasse) e depois demos por terminada a sessão, afinal caminhámos nada mais nada menos que 20km. O Ricardo reconheceu que a ideia de levar o carrinho da Chicco emprestado (porque já demos o nosso a famílias carenciadas) foi uma decisão muito acertada. Ele achava que o miúdo já é grande para essas mariquices mas digo-vos uma coisa: esta viagem não teria corrido tão bem se não fosse este carrinho. Não tínhamos visto metade, ele teria feito birras de exaustão (perfeitamente compreensíveis), e a paciência de todos seria totalmente distinta. Assim, o pequeno texugo caminhava até conseguir e, quando se sentia cansado, sentava-se no seu trono. Por outro lado, nas lojas dava muito jeito para pousar os casacos. Diria que também tinha dado muito jeito para carregar os sacos das compras mas... não houve compras. Ir a Nova Iorque com 6 pessoas não dá para tudo. E ir é muito melhor do que comprar (se bem que, obviamente, adoraria poder ter feito as duas coisas).

 

Dia 2

Começámos por ir ao Museu de História Natural, que é um verdadeiro ícone da cidade e tem a vantagem (para quem está mais ou menos em contenção de custos) de se poder pagar "aquilo que se entender". Porreiro. O museu é um colosso e é praticamente impossível visitá-lo todo num só dia mas há alguns sítios que valem mesmo a pena, como a sala que tem a enorme baleia azul pendurada no tecto (em tamanho real) , a sala dos mamutes, dos dinossauros, e um labirinto de salas cheias de história e da evolução das espécies.

IMG_6733.jpgIMG_6716.jpgIMG_6722.JPGIMG_6726.jpgIMG_6731.jpg

Depois, e já que estávamos mesmo ali ao lado, mais uma incursão pelo Central Park, que é tão grande que se tem de ver em dias distintos. A seguir, paragem técnica para almoço, no famoso Shake Shack. Os nossos almoços foram sempre um horror, bombas calóricas, erros categóricos de nutrição. Mesmo assim, cada almocinho ficava em perto de 100 dólares. E cada lanchinho a meio do dia, no Starbucks, por exemplo, ou no Dunkin Donuts, não ficava por menos de 60 dólares. Não é fácil, malta. Não é fácil. Claro que NY não é só fast food, há restaurantes mesmo muito bons (fomos a alguns há dois anos, quando fomos só os dois) mas a seis... é mesmo duro e há que aguentar as artérias e fechar os olhos aos quilos que se levam a mais (felizmente ainda não se paga excesso de peso no aeroporto, "desculpe, mas os senhores levam daqui mais 12 kg no lombo, no total, há que pagar aqui uma taxa") e pensar que depois logo se remedeia com sopa e muita malhação.

IMG_6742.JPGIMG_6748.jpgIMG_6775.JPG

 

Depois, mais passeio. Fomos ver o Saks, que no Natal faz um espectáculo de luzes e música que é um autêntico chamariz de gente e de "ahs" e "ohs", demorámos uma eternidade para sair dessa parte da 5ª Avenida mas lá conseguimos, continuámos a andar e demos uma volta por Bryant Park, que é tão lindo, (mas estava tão à pinha que quase não dava para ver nada), fomos mostrar-lhes a loucura que é a loja American Girl, que é uma loja gigantesca, com dois andares, onde há as bonecas propriamente ditas (e é possível personalizar a boneca de modo a que fique o mais parecida possível com a "dona"), os acessórios e um salão de beleza para as crianças e para as bonecas. Sim, para as crianças e para as... bonecas! De modo que ambas podem arranjar o cabelo, arranjar as mãos, colocar brincos. É o paradigma americano no seu esplendor (ou terror, riscar o que não interessa). Ainda demos uma saltada ao Macy's e ficou feito o dia. Mais 19km nas pernas, que isto não há como andar a pé para se conhecer uma cidade. 

IMG_6818.jpgIMG_6831.jpgIMG_6687.jpgIMG_6797.jpgIMG_6810.JPGIMG_6811.jpgIMG_6824.JPGIMG_6847.jpg

 

Dia 3

Era domingo e ao domingo existe, em Brooklyn, algo de verdadeiramente imperdível. Infelizmente, das duas vezes que fomos não conseguimos assistir ao coro "normal" de Gospel no Brooklyn Tabernacle, justamente porque das duas vezes que fomos acertámos em cheio no dia em que o coro da igreja se juntou para levar a cabo o espectáculo de Natal. Bom, o espectáculo de Natal também vale muito a pena mas... há mais canções natalícias do que propriamente as de oração em gospel puro e duro. Ainda assim, aproveitámos para ir a Brooklyn neste dia e deliciar os miúdos com todo o evento, que é muito bom, até mesmo o discurso do pastor James Cymbala, que apesar de ser um bocadinho "lavagem cerebral" deixou-nos a todos colados na cadeira com o seu "Jesus is good, with Jesus nothing is impossible". Amén.

Atravessar a Ponte Brooklyn é, por si só, um happening. A ponte é linda, a vista é incrível, apetece fotografar a cada nano-segundo e as fotografias são sempre bonitas.

IMG_4747.JPGIMG_6906.jpgIMG_6931.jpgIMG_6963.jpgIMG_6941.jpgIMG_6942.jpgIMG_6895.jpg

Quando chegámos ao outro lado já era quase hora de almoço. Ainda andámos a passear por ali mas depois encontrámos o Time Out Market e senti aquele orgulho em conhecer as pessoas que idealizaram estes mercados pelo mundo (este incluído) e por já ter trabalhado com elas e por ser portuguesa, em geral. 😊

IMG_0349.JPGIMG_0830.JPGIMG_6981.jpgIMG_7007.jpgIMG_5910.JPGIMG_6987.jpgIMG_7005.jpgTABERNACLE.jpg

Esta foto não é minha porque não deixavam fotografar o espectáculo (retirei da net)

 

(A Parte II deste relato de viagem segue dentro de momentos)

 

17 comentários

Comentar post

Pág. 1/2