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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Nós #3: Dona Ajuda

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Rubrica sobre associações que ajudam pessoas. Porque juntos somos mais fortes.

 

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No princípio de tudo eram duas irmãs a recolher roupa e brinquedos, sobretudo no Natal, para dar a quem precisava. Mas, há 6 anos, a ajuda já tinha uma consistência e uma coerência que justificavam a criação de uma associação. Assim nasceu a associação Boa Vizinhança, que hoje se chama Dona Ajuda.

A Dona Ajuda fica no Mercado do Rato, em Lisboa. Naquele espaço emprestado pela Câmara Municipal de Lisboa, há várias lojas que vendem produtos em segunda mão. Como é que lá vão parar? Quem pode entregá-los? Quem pode ir comprá-los? Passamos a explicar, já de seguida. A ideia é simples e engenhosa ao mesmo tempo. A Dona Ajuda recebe tudo o que as pessoas já não queiram. Móveis, roupa, sapatos, brinquedos, livros, discos, loiças, electrodomésticos. Tudo o que possam imaginar. Essas coisas chegam e é feita uma espécie de triagem: tudo o que está impecável fica nas lojas, para ser vendido ao público (a preços muito simbólicos); tudo o que está medianamente bem conservado segue para bairros sociais que estão a precisar ou até outras associações que precisam de bens específicos; tudo o que está estragado e não é passível de ser entregue a absolutamente ninguém vai para a Associação Reto à Esperança, que vende a peso (possivelmente para futuras reciclagens daquele material, não sei).

Assim, naquele espaço bonito do Mercado do Rato, podem encontrar uma livraria, lojas de decoração, lojas de roupa de criança, de senhora, de homem, sapataria, loja de malas. E podem comprar, mesmo que tenham dinheiro para ir à Louis Vuitton. Há lá peças de roupa como novas, até de belíssimas marcas, vestidos de noite, até vestidos de casamento. Ao comprarem estão a ajudar de várias maneiras: por um lado, o dinheiro reverte na totalidade para a associação (e já veremos, mais adiante, o que é feito com ele), por outro, estão a dar uma nova vida a bens que, de outro modo, até podiam acabar no lixo. Há ainda a vantagem de pouparem umas coroas (mesmo que estejam financeiramente à larga, que isto nunca se sabe o dia de amanhã).  Quem não tem dinheiro para fazer compras (e a associação só aceita pessoas referenciadas por outras instituições) pode ir às lojas, escolher,  e levar sem pagar.

Então e o que faz a associação com o dinheiro das vendas ou dos donativos? Simples: sustenta-se, por um lado (há sempre despesas inerentes a uma organização), e por outro lado continua a ajudar pessoas que não precisam de bens mas de outro tipo de apoio. Por exemplo: imaginem alguém que precisa de uma prótese dentária. Sem ela, dificilmente consegue um emprego. Mas não tem dinheiro para a pagar (porque não tem emprego). É a típica pescadinha de rabo-na-boca da pobreza. Pois bem, a Dona Ajuda está lá para - nem mais - ajudar. Já pagaram próteses dentárias, óculos, consultas, compraram electrodomésticos, fizeram obras em casas. 

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Nestes anos de entrega do tempo a ajudar quem precisa, Rita Costa Pinto e a irmã Cristina Velozo (a presidente da associação) já viram muita coisa. Tanta que dava para escrever um livro, ou até uma colecção deles. Coisas boas, coisas más. Tanto de quem dá, como de quem pede. Rita esmiúça: "Há extremos. Uma vez apareceu aí uma senhora toda muito 'tia'. Trazia sacos de coisas para dar. Quando estávamos a ver, com ela, o que tinha, vimos um sapato sem par. Ficámos incrédulos a olhar para ela, e respondeu-nos com altivez: 'o que foi? Não pode aparecer alguém só com um pé?' Esse foi um dos episódios que me marcou. Já pela positiva, marcou-me a senhora que trouxe a roupa do marido, que tinha morrido. Ainda vinha com as etiquetas da lavandaria. Mandou limpar e trouxe tudo, impecável. Há de tudo, o bom e o menos bom. Mas ver a alegria de quem não tem nada e recebe a nossa ajuda supera qualquer situação menos agradável."

Entretanto, e como parar é morrer, a Associação Dona Ajuda tem-se transformado num polvo com vários braços. Fez uma parceria com uma associação cultural, a Pousio, e inauguraram a P.R.A.Ç.A, um projecto que é um espaço cultural que tem como matéria-prima as doações feitas à Dona Ajuda e que são reaproveitadas por artistas convidados para alguns espaços livres do mercado, que vão rodando, numa oferta cultural que se quer diversificada e rica, para envolver a comunidade neste dar e receber que (para rimar) era assim que sempre devia ser.

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