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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Não sabia que os vidros explodiam

Saímos de Póvoa Dão logo a seguir à hora do almoço, para dar tempo para irmos votar. O GPS dava previsão de chegada para as 17.45, o que significava uma boa margem.

Nunca na minha vida falhei um dia de eleições, não ia ser desta.

Estávamos em plena Auto-estrada a caminho de Lisboa quando, de repente, há um estoiro que parecia um tiro. Dentro do carro, subitamente uma ventania, vidros pelo ar, os miúdos que vinham a cantar e a brincar calados e atordoados, o Ricardo a sacudir vidros da cara só perguntava, aos gritos, "estão todos bem? Só quero que me digam se estão todos bem!" e, apesar de todos respondermos que sim, ele continuava numa tentativa desesperada de se certificar que estávamos MESMO todos bem. Eu não conseguia falar, só tremia e olhava para todos para perceber se ninguém estava ferido, mesmo que ainda não tivesse compreendido bem o que raio nos tinha acontecido. Só percebia que o vidro do lado do Ricardo já não estava lá, desfeito em milhões de pedaços.

Felizmente estávamos perto de uma área de serviço. Encostámos, saímos do carro, todos às apalpadelas em busca de vidros, a Madalena com um dedo a sangrar, eu abraçada ao Ricardo com as pernas como varas verdes.

Até agora não sei o que nos aconteceu. Juro que pensei que tivesse sido um tiro mas nem o Ricardo é o Kennedy nem eu sou a Jackie, e não me parece muito plausível que alguém tivesse decidido disparar contra nós e ainda estivéssemos vivos (mas ainda andei à procura de uma bala no carro, só para perceberem o estrondo que foi). Lembro-me de ver um carro ao nosso lado, não sei porque é que tenho essa imagem na cabeça, mas provavelmente terá sido uma pedra que saltou quando esse outro carro passou por nós.  

Ligámos para a assistência em viagem, porque não nos parecia possível continuar de Pombal até Lisboa com o carro naquele estado. Mas, depois de uma hora e meia à espera que a companhia se decidisse se era para mandar o reboque e o táxi ou não, lá veio o veredicto: a seguradora não cobre vidros que explodem sem razão aparente. De maneira que pagavam o nosso transporte mas nós teríamos de pagar o transporte do carro. Sendo assim, deixa lá, obrigadinha. Abrimos as malas, vestimos camisolas e casacos, gorros, embrulhámo-nos em mantas, ligámos o ar condicionado e seguimos viagem. Todos um bocado aparvalhados com o que nos aconteceu.

Chegámos bem mas já não a tempo de votar.

Expliquei aos miúdos o que eles estão fartinhos de saber: que nunca na vida deixei de votar e que tenho algum desprezo por quem o faz por displicência, preguiça ou por os políticos "serem todos iguais". Morreram muitas pessoas para que tivéssemos este direito e acho que o mínimo que podemos fazer para as honrar é ir lá e meter uma cruz num dos quadradinhos ou fazer um falo impertinente, para mostrar a nossa indignação. Não ir é que não. A não ser nestes casos, em que um imprevisto nos lixa os planos. Ontem acabou por ser um dia um bocado triste para mim. Felizmente não nos aconteceu nada de grave, e isso é o que mais importa, mas não exercemos o nosso direito e o nosso dever e isso deixa-me mesmo frustrada.

 

Ah, dizer que quando cheguei a casa e mudei a fralda ao Mateus... havia vidros lá dentro! Foi mesmo uma cena do demo. 

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