Mudar de Vida #11: Sofia Craveiro
E por falar em "Mudar de Vida", aqui está mais uma história!
SIC, be my guest. 😉
Na sua primeira vida, foi engenheira. Sofia Craveiro licenciou-se em 2001 em Engenharia do Ambiente, e especializou-se em gestão de resíduos. Durante 15 anos trabalhou na gestão de resíduos urbanos e industriais, e na fase final da carreira dedicou-se aos resíduos industriais perigosos. Sempre gostou do que fez, sempre que mudou de empresa foi por ter vontade de abraçar novos desafios, sempre se sentiu bem na escolha da sua vida profissional. Até que foi mãe. E as coisas começaram a mudar. "Sentia-me cansada. Queria ter mais tempo para a minha filha, trabalhar sem estar dependente de horários e não me via a fazer o que fazia para o resto da vida."
Em conversa com um antigo chefe, desabafou sobre a sua vontade de ter uma vida diferente, de acompanhar a filha, de não ser escrava do tempo. O antigo chefe, que era também um amigo, aconselhou-a a não se precipitar, a preparar tudo primeiro, a fazer um plano B e, se o plano B resultasse, então logo mudava de vida. E foi o que ela fez.
O que podia fazer sem ser engenharia do ambiente? A resposta foi fácil e imediata. "Cresci com a minha mãe a costurar, fazer tricot, crochet e a bordar. Quando foi o 25 de Abril, esteve fechada em casa e bordou uma toalha que ainda tem - a sua toalha do 25 de Abril. O meu interesse pela costura de repente apareceu em força, fiz um workshop incentivada por umas amigas e fui continuando a aprender. Até aos dias de hoje, adoro dar, mas também ter aulas. Às tantas pensei: isto vai ser a minha vida. E comecei a tratar de tudo para essa mudança. Fui montando o meu plano B."
Quando a empresa onde trabalhava a dispensou, por redução de pessoal, já Sofia tinha a sua alternativa montada. Só foi mais complicado porque aconteceu tudo ao mesmo tempo: o diagnóstico de carcinoma na tiróide e sete dias depois o despedimento. Mas Sofia Craveiro aguentou-se e acreditou que era uma porta a fechar-se para se abrir outra, com um novo sentido, numa nova etapa. Uma espécie de reset seguido de restart. "O plano B passou rapidamente a plano A e com o dinheiro da indemnização abri a Companhia das Agulhas, uma escola de costura e malha."
Talvez alguns dos que estavam por perto não imaginassem que esta escola tinha pernas para andar. Como assim, uma engenheira larga tudo para se dedicar à agulha e ao dedal? Mas isso lá vai dar para viver? Redondo engano. Hoje, na Companhia das Agulhas trabalham três designers de moda, uma especialista em costura, duas professoras de tricot, uma professora de macramé, uma professora de tecelagem, uma professora de feltragem, uma de bordado e arraiolos. Além da própria Sofia e da "outra" Sophia, que ajuda na parte administrativa da empresa. A escola tem aulas de segunda a sexta, de manhã, à tarde e à noite e aos sábados durante o dia. Por vezes também existem aulas ao sábado à noite e ao domingo. E aulas privadas, para ajudar em questões concretas de alguns clientes. Nas férias há sempre as semanas intensivas de aulas para os miúdos - "Temos cá umas miúdas espectaculares de 14 anos que frequentam as aulas como actividade extra-curricular. É giro porque fazem cá os presentes de aniversário e de Natal, bem como o seu guarda roupa e dão uma dinâmica muito gira à escola."
Além disto, a Companhia das Agulhas lançou uma revista, está a actualizar o site com vista a vender também material de costura, malha e não só. "O nosso curso de iniciação à costura tem o material todo incluído para que os nossos alunos não passem por aquela frustração inicial de irem a uma retrosaria e não fazerem ideia do que comprar. Mas depois há os outros cursos e faz sentido vendermos online todos os materiais, pelo que estamos a tratar disso também." E ainda está nos planos aumentar as instalações, pois precisa de mais espaço.
Sofia Craveiro sente-se profundamente feliz nesta nova fase da sua vida (que já não é tão nova assim - a Companhia das Agulhas abriu em Setembro de 2015). Não sente saudades da Engenharia do Ambiente mas não rejeita o seu passado nem o seu percurso: "Foi muito importante na minha vida, fez e continua a fazer todo o sentido. De resto, acho que a gestão que hoje faço é resultado também do que aprendi nas empresas em que trabalhei."
Quanto aos objectivos da escola, diz que são vários e têm sido todos cumpridos: "O primeiro de todos era que fosse uma escola completa. A escola onde eu gostava de ter aprendido quando era eu a aluna. Porque temos tudo. Não é preciso andar a fazer workshops diferentes em sítios diferentes. Está cá tudo. Outro dos objectivos óbvios era o de trazer para os dias de hoje as artes de antigamente. E cultivar esta ideia de que se formos nós próprios a fazermos as coisas elas tendem a durar mais, porque são feitas com amor e não são descartáveis. Outro dos objectivos foi o de chamar a atenção das novas gerações, o que também tem sido conseguido, com as nossas alunas mais novas que passam a palavra e a paixão a outras. Além disto, há um lado ambiental - ou não fosse eu engenheira do ambiente de formação - e solidário. Criámos o Taleigo Amigo, um projecto em parceria com a AMI - Assistência Médica Internacional, que nasceu em 2017 e vai continuar em 2018. O Taleigo é um saco feito com restos de tecido, retalhos esquecidos ou que iriam parar ao lixo por não servirem para mais nada, e roupa sem uso. Contactámos ateliers de costura de norte a sul do país, mais as ilhas, divulgámos amplamente nas redes sociais e toda a gente aderiu e promoveu o Taleigo. Juntos, conseguimos produzir e doar mais de 300 taleigos, que depois foram vendidos pela AMI a 5€/cada, o que permitiu fazer cabazes de Natal para famílias que a AMI apoia. No que respeita ao ambiente, ainda não estamos satisfeitas, queremos aumentar a consciência de quem nos segue, sentimos que o devemos fazer e estamos a preparar umas novidades para 2018."