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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Mada e a catequese

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Quando ela pediu para ir para a catequese, esperei. Ela de vez em quando tem ideias e mete-se em coisas e depois o entusiasmo perde-se pelo caminho. Eu não posso falar muito, que sou igualzinha (ou ela a mim) mas neste trabalho de educar temos também de tentar corrigir defeitos que, lá por serem como os nossos, não quer dizer que não sejam... defeitos. Ou seja: lá porque eu faço não quer dizer que seja para continuar e, se der para corrigir nos filhos, que ainda estão em formação, então vamos a isso. De maneira que só este ano é que ela foi, apesar de já algumas vezes ter falado no assunto. Repare-se que, não sendo eu crente, também não foi propriamente de ânimo leve que tomei a decisão de a inscrever. Porque isto dá trabalho: é preciso levá-la, ir buscá-la e depois tentar que ela acompanhe os momentos importantes da paróquia. Quando não é algo que faz parte de nós fica mais difícil de integrar num dia-a-dia que, com tanta gente, não é propriamente fácil. Adiante. Quando a inscrevi reforcei que este era um compromisso que era para levar a sério e que não podia desistir quando começasse a querer brincar ou descansar ou se começasse a ser chato. Ela assentiu e quase se ofendeu por duvidar das suas intenções cristãs (juro).

De maneira que foi com alguma fúria que recebi as suas queixas: que estava farta da catequese, que a turma que lhe tinha calhado era tão barulhenta que ninguém se entendia, que não percebia nada, que os meninos já sabiam imensas coisas e que ela passava o tempo a apanhar bonés. Passei-me: "Minha menina, assumiste um compromisso e agora vais ter de o cumprir." Mas ela continuava a bufar e eu, que não sou crente, comecei a sentir que era meio esquisito ser eu a insistir para ela ir à catequese. Vai daí e marquei uma reunião com a catequista e, no final da catequese, conversou connosco e foi muito querida. Pediu-lhe mais uma oportunidade, disse que vão dividir a turma em duas para que o ambiente fique mais tranquilo (houve mais meninos a queixarem-se do bruá), deixou-a à vontade para lhe perguntar tudo o que não percebesse durante a aula ou, se se sentisse desconfortável, no final, e terminou da melhor maneira: "Se depois de dares uma oportunidade vires que não consegues mesmo, que não te apetece, que não dá... dizes-me e vais embora. Eu também tive vários momentos ao longo da vida em que não tive vontade, em que me afastei, para depois voltar. Conversamos e voltas depois, talvez para o ano. Mas agora peço-te mesmo que tentes, que não desistas à primeira."

A Mada veio de lá com vontade de continuar. E, no carro, teve comigo uma das conversas mais bonitas e comoventes, sobre Deus, sobre a certeza que tem de que Deus olha por nós, e que nem sempre consegue chegar a todo o lado mas que tenta sempre, sobre o amor que Deus tem por todos, crentes e não crentes, sobre o facto de ser tão maior que nós. Dei por mim sinceramente tocada com tanta convicção num corpo tão pequeno. 

Não sei de onde lhe vem tudo isto mas é genuino e, como tudo o que é genuino, seria uma pena que se perdesse. 

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