Londres
Há cerca de um mês, quando estava aí a viver dias difíceis, dizia a uma pessoa que me apetecia fugir. Para onde?, perguntava a pessoa. Para Londres, ver museus.
O atentado que ontem aconteceu em Londres faz com que pareça em casa. Londres é casa. É óbvio que é sempre terrível, seja em Londres, na Síria ou no Bangladesh mas é evidente também que a proximidade, seja física seja emocional, nos faz sentir as coisas com outra intensidade. Não é por acaso que essa é, justamente, uma das regras do jornalismo. Nos jornais ou no alinhamento das notícias, o que vem primeiro é o que está mais próximo de nós - aquilo com que mais facilmente nos identificamos.
Estes atentados, perpetrados por indíviduos sozinhos ou por pequeníssimas células, não matam um grande número de pessoas mas deixam a ideia de que qualquer pessoa é um potencial assassino. Com a crescente caça ao Daesh, em vez de optarem por matar em larga escala, o que implica uma logística e um planeamento em rede que os deixa mais vulneráveis, escolhem esta fórmula. Um fanático na rua para matar o máximo que conseguir. Mesmo que sejam poucas as vítimas, se houver um atentado aqui, outro ali, alguns dias depois mais um acolá... está garantido o terror. E é triste. É realmente muito triste esta coisa de viver num mundo onde nunca nos sentimos seguros. Onde nunca sabemos se o fulano do lado não vai largar aos tiros, se vai desembainhar uma faca, se vai espetar com o carro de encontro a nós, se a mochila que tem às costas não irá explodir no minuto seguinte. Viver assim, acossado, é uma miséria. E, sinceramente, quando penso muito nisto custa-me pensar que tenho quatro filhos e em que mundo os pus a existir.