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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Histórias da Quarentena #8

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E, de repente, a arte foi interrompida e cresceram plantas no seu lugar. Aspargus Setaceus em vez de concertos, Cotuledon Orbiulatas no lugar das luzes, colunas e parafernália técnica, Philodendron Erubescens a invadir espaços onde antes se planeavam tournées. Natureza a subsitutir a música, o teatro, as formas de expressão humana. Silêncio no lugar do som. 

Bruna Duarte, 33 anos é manager de artistas e Catarina Esperança, 36 anos, é produtora de espectáculos na UAU. Acontece que a pandemia fechou a cultura a sete chaves, baixou panos, desligou luzes, câmaras, e congelou a acção. Catarina estava a produzir a "Peça Que Dá Para o Torto", um nome ironicamente apropriado já que a peça foi, com efeito, dando para o torto de todas as vezes que foi adiada, pelos avanços da Covid e pelas medidas do governo. Foi como se, de um dia para o outro, alguém carregasse no "Pause" de um qualquer comando da vida e as deixasse a ambas assim, estagnadas, em modo "freeze". 

Só que, no caso da Catarina Esperança, o bicho carpinteiro consegue ser mais forte que o bicho Sars-Cov-2. Inventa coisas para fazer mesmo quando tudo parece mais parado do que o Bairro Alto a um sábado à noite, em tempo de confinamento. E entre as várias coisas que inventou para fazer, Catarina começou a transformar plantas em Kokedamas. Plantas que crescem numa espécie de bolas (damas) de musgo (koke, em japonês). No fundo, plantas confinadas, como nós. A ideia original é que fiquem suspensas, como se voassem, plantas confinadas mas em permanente levitação (como nós, confinados mas sempre a sonhar com futuros voos), mas também podem ser colocadas numa qualquer superfície, uma mesa, um parapeito, um soalho. Um dia, Catarina levou uma Kokedama para oferecer à amiga Bruna Duarte, e ela, que tende a ver negócios em quase tudo, não hesitou: "Isto é lindo! Temos de fazer qualquer coisa com isto! Está aqui um negócio!"

Bruna ofereceu-se para trabalhar as redes sociais do putativo negócio, mas Catarina, que não tinha pensado nas suas kokedamas em versão lucrativa, quis que avançassem a meias. Começaram então a fazer experiências. Com as plantas da mãe, da avó, da amiga. Umas davam melhor, outras não tão bem. Pensaram nos preços a pedir pelas plantas, pensaram nos nomes a dar a cada uma, para não se apresentarem com as designações científicas, em latim, pensaram no nome da marca. E a 14 de Maio de 2020 nasceu a Muski, um nome facilmente associável a algo ternurento, com o acréscimo do "ki", que reporta ao Qi oriental que significa "força vital". 

O negócio foi crescendo, devagarinho, até ao dia em que o Nuno Markl fez uma publicação e, assim, deu a conhecer a Muski a mais de 700 mil pessoas, como se fosse um borrifo de adubo que fizesse as kokedamas crescer. As encomendas dispararam e as sócias, que tiravam dois dias por semana para cuidar da Muski, passaram a ter um trabalho diário, entre criar a planta no seu ninho, embalar, enviar, responder a emails, tratar da faturação. 

Cada kokedama é uma espécie de pequeno tesouro. Uma fonte de vida que brota de um lugar sombrio e escuro, quase como um capricho, uma força indómita. Não me canso de usar a comparação com a vida que temos vivido, concluindo que, mesmo dos lugares mais umbríferos, pode brotar vida e beleza. As kokedamas podem ser a nossa metáfora perfeita. Elas que principiam no escuro mas crescem para a luz, dando vida ao que antes era vazio e silêncio. 

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