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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Fada dos dentes

O Manel e o Martim sempre se contentaram com o facto de a fada dos dentes só entregar presente ao primeiro dente caído. Foi assim que lhes vendi a coisa e eles, rapazes, aceitaram e seguiram com as suas vidas. Mas depois veio a Madalena. E as raparigas não se contentam assim tão facilmente.

Quando lhe expliquei que a fada só presenteava os meninos quando caía o primeiro dente não se conformou. Então e os outros? Só o primeiro era merecedor de celebração? Que injustiça.

Desde então, por cada dente caído é uma dor de cabeça de perguntas. Porque é que ela não dá outro presente? Só uma coisa pequenina? Então e se lhe pedir muito? Pode ser que ela não se lembre que já me cairam os outros...

No outro dia chegou a casa indignada. Os amigos recebiam sempre qualquer coisa por cada dente caído. Um brinquedo pequenino, um cromo, uma moeda. E ela nada??? Que raio de fada era a dela? Expliquei que a fada dela tinha esta filosofia de vida, que não achava bem tanto consumismo, tanto presente a que ela acabava por não ligar nenhuma, e que só vinha ao primeiro dente, tal como tinha feito com os irmãos (é uma fada por família).

Quando caiu este dente, ela meteu-o debaixo da almofada (também já tinha metido de outra vez mas eu ignorei). Só que desta vez fechou os olhos e pediu baixinho. Fiquei com pena dela. Pensei: "tenho que lhe deixar uma porcaria qualquer debaixo da almofada". 

Quando ela acordou no dia seguinte, a primeira coisa que fez foi levantar a almofada. Constatou, com horror, que o dente já lá não estava e, no seu lugar, nenhum presente. Passou-se. "Esta fada é mesmo má! Levou o dente mas não trouxe nada! Das outras vezes ainda deixou o dente, mas agora foi demais!"

Tive de me controlar para não largar a rir. Realmente... que fada mais mal agradecida! Sempre a receber dentes e sem dar nada em troca! Então disse-lhe:

- Madalena, hoje à noite quando te fores deitar pedimos em voz alta à fada que te traga qualquer coisa. Fazemos uma espécie de pedido cantado, em verso. Vais ver que ela se comove.

E assim foi. Ontem à noite fizemos o pedido e ela deitou-se com um sorriso.

Já lhe tinha comprado um miminho na  Imaginarium (um passarinho que pia quando assobiamos).

Hoje de manhã, quando a fui acordar, meti-lhe com muito cuidado o embrulho debaixo da almofada. Quando ela se virou, ouviu o barulho do papel e levantou-se, muito depressa. Fez a cara mais querida do mundo, um misto de espanto e alegria. A fada, afinal, não tinha um coração de pedra. Foi para a escola com uma felicidade enorme, que só prova que os melhores presentes são aqueles que se fazem esperar.

 

(também aproveitei para lhe dizer que a fada não pode MESMO trazer mais presentes porque a vida está difícil e ela não pode ser tão abusada. Espero ter paz, agora, sempre que lhe cair um dente. Raça da miúda, que é persistente!)

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