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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Em 5 meses...

... ele decepcionou-me seis vezes.
A primeira foi às 5 semanas. Uma dor na barriga levou-me ao consultório e, depois da ecografia, ele disse que achava o saco pouco redondo, que talvez fosse uma gravidez ectópica. Assim, como quem diz: "Tens aí um abcesso, que chatice." Mandou fazer a análise de sangue. E eu, a tremer e chorosa, fui.

A segunda foi quando lhe liguei, contente com o resultado da análise, com valores elevados, que apontavam para aquele número de semanas de gestação. Do outro lado da linha, limitou-se a dizer, como quem fala de outra merda qualquer, "Isso é um fraco positivo". Quando, perante todos os resultados que vi na net, não era verdade. Não era um fraco positivo. Um outro obstetra sossegou-me ao telefone, mandou-me ir ter com ele, fez-me uma ecografia e disse que tudo lhe parecia perfeitamente normal.

A terceira foi umas semanas depois quando o mesmo dente que ainda me está a lixar a vida me começou a doer muito. A dentista disse que era preciso tomar antibiótico, mas pediu para ser o obstetra a indicar qual devia tomar. Ao ligar, respondeu: "Olha lá, eu não sou dentista!" A perder a paciência, repliquei que não, pois não, mas que era obstetra e tinha, por isso, obrigação de saber que antibiótico faria menos mal ao feto. Respondeu: "Os dentistas também sabem. Ela que te diga." E mais nada.

A quarta foi com as contracções. Às 13 semanas comecei com contracções. Tratou-me como uma atrasada mental: "É impossível ter contracções às 13 semanas". Eu, que além de não ser atrasada mental já tenho dois filhos, sei o que são contracções. Calei-me, para não me arreliar. Mas as contracções continuaram.


A quinta decepção foi agora. Que as contracções se tornaram mais fortes e dolorosíssimas. Fui lá, entre consultas, num instantinho. Admitiu, a custo, que podiam ser contracções provocadas por "aderências das anteriores cesarianas". Fez análise à urina (insistindo em infecção urnária, que não tinha),receitou magnésio (coisa que devia ter feito, pelo que percebo, desde a primeira queixa), ferro (porque estou anémica) e no final, claro, fez-me pagar tudo-tudinho, mesmo a estúpida e inútil análise ao chichi, mesmo depois do erro ter sido dele, que insistiu em infecção urinária e não acreditou quando lhe disse: "Você pode chamar-lhe outra coisa qualquer, bicos de papagaio, artrose, até cancro. Mas o que eu tenho são contracções".

A sexta decepção foi esta semana. A dor de dentes violenta, a dentista sem me conseguir tocar, a pedir desculpa mas que não podia receitar anti-inflamatório, e que o dente só lá ia com anti-inflamatório, mas que isso só o obstetra poderia permitir. Ou não. Mandei-lhe um fax, não respondeu. Liguei-lhe. Enfadado, atirou: "Diz lá...". Expliquei o drama, em lágrimas, e ele, à pressa, só respondeu: "Anti-inflamatório não. Só Benuron." Mas, mas, mas... O Benuron não me faz rigorosamente nada, o dente está muito infectado, não posso ficar 4 meses a chorar de dores. "Pois. Benuron. Adeus."

Em desespero, falei com outro obstetra, o mesmo que me descansou ao princípio. "Pode tomar Ananase ou Maxilase. São enzimáticos, não fazem mal ao bebé. E para as dores tão fortes pode tomar Nolotil. E ponha-me a par, as melhoras, um beijinho." E no dia seguinte eu já não chorava de dor. E já não tinha o olho deitado abaixo e o ouvido a doer. E estou a melhorar e, em princípio, na quinta-feira, a dentista já vai conseguir desvitalizar-me o dente e acabar-me de vez com o sofrimento. E que sofrimento...
Obrigada, Dr. Fernando Cirurgião. Muito obrigada mesmo.

Entretanto, sinto-me burra. Sou burra.
Sou burra porque estou triste de o deixar, apesar de seis decepções em cinco meses. Mas foi ele quem me tirou dois filhos de dentro da barriga. Foi ele que mos tirou, coisa que eu não conseguiria ter feito sozinha. De certo modo, foi ele quem mos apresentou, quem mos meteu no colo. Conheço-o há oito anos. Confiei nele. Confiei-lhe a minha vida, a nossa vida.
Mas a verdade é que, das outras vezes, tudo correu bem. Nunca lhe liguei. As consultas eram rotineiras e decorriam sem espinhas: balança, eco, audição do coração, análises, ctgs.
A verdade é que quando tudo corre bem, tudo corre bem. O problema é quando as coisas correm mal. É aí que se vê. E desta vez tem-se visto. E o que se tem visto não é bom. Não é bonito.
Sou burra porque estou triste, estou decepcionada. E perdida. É o fim de uma história. E eu, talvez pela história da minha infância, gosto muito pouco de finais assim.

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