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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

E não foram felizes para sempre

No último ano, separaram-se dois casais que achava inseparáveis. Não sei bem dizer em que momento passaram a existir, na minha cabeça, casais inseparáveis, já que fui mais ou menos programada para nunca esperar pelo "e viveram felizes para sempre". Não foi por mal que essa programação ocorreu, nem tão pouco de forma deliberada, foi antes uma defesa que a minha mãe me quis incutir, não fosse eu estatelar-me ao comprido com essa ideia romântica das histórias infantis. Por isso - é verdade - não sei bem dizer em que momento passei a acreditar que determinados casais estavam destinados a ficar juntos até ao último suspiro mas sim, aconteceu. E, por isso, foi com choque que soube da notícia de um desses casais, há um ano, choque esse que se mantém nos dias de hoje, já eles vivem em casas distintas, com vidas apartadas, aparentemente bem resolvidos com a questão. Ou seja, dá-se o ridículo de eu ainda não ter ultrapassado o que os meus amigos já parecem ter transposto, sendo que o assunto é deles, não meu. 

Há dias, nova notícia de casal separado. Um daqueles que se afigurava sólido como uma rocha, feliz como o final de uma novela, sereno como um lago numa tarde de verão. 

O final dos casamentos, pelo menos destes de longa duração e cujos elementos nos pareciam "feitos um para o outro" (seja lá isto o que for), deixa-me sempre triste. O que é parvo. Porque muito mais triste é viver infeliz e não ir buscar a felicidade a outro sítio. Pois com certeza que sim, não é daí que vem a minha angústia. É mais esta sensação de que a magia de uma relação acaba quase sempre por se perder, algures no caminho. Talvez seja a monotonia dos dias, poderá ser o crescimento de um na direcção oposta ao crescimento do outro, quem sabe um terceiro elemento, o cansaço das piadas gastas, do sexo enfadonho, a estafa da educação dos filhos, talvez seja uma necessidade de voltar a sentir borboletas na barriga, aquele friozinho no coração, o frémito de um beijo e de um toque a alguém que se acabou de conhecer. Ou então tudo junto e mais coisas que não enumerei, para não cansar quem já chegou até aqui.

Compreendo todos os motivos e aplaudo quem não se deixa morrer à sombra de um casamento cómodo mas que já não satisfaz. Ainda assim, fica-me sempre aquela mágoa, aquele desgosto. Talvez seja uma espécie de síndrome das histórias infantis. Uma melancolia pelo "e foram felizes para sempre" que não aconteceu. Na verdade, continuo sem saber bem em que momento voltei a acreditar nestes finais, eu que fui programada para não ir em cantigas. Ora bolas.

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