Da ira
No sábado tive um piquenique. Já não ia para aquelas bandas há um tempo, que agora que deixei de poder correr não tenho frequentado estes relvados. Ou devo dizer, estes ex-relvados? Passo a explicar: estávamos nós a chegar ao local do piquenique quando constatámos, em choque, que o anterior jardim tinha deixado de ter relva e tinha agora… palha. Seca. Morta. Por baixo, a terra gretada, partida, a gritar por ajuda. Parecia o deserto. Uma extensão imensa de desolação. Quando cheguei junto à mãe do aniversariante, só conseguia balbuciar um "mas o que é isto? O que aconteceu aqui?" Ela estava tão incrédula quanto eu e os demais convivas. Alguém deixou morrer um jardim gigante, que ao longo de anos esteve sempre viçoso.
Isto debaixo dos nossos pés não é relva. É palha seca.
Andei entretanto a informar-me e, ao que parece, tenho andado muito distraída sobre o que se está a passar com o Parque das Nações. Pelos vistos, desde que foi promovido a freguesia foi despromovido a terra de ninguém. Na reunião de moradores com a Junta, parece que foi dito que esta seca de morte se ficou a dever a uma burocracia idiota que impediu a actualização de contratos com os jardineiros a tempo de evitar que o verde virasse amarelo. Mas fico na dúvida sobre a verdade destas declarações quando tomo consciência de todas as degradações que se têm verificado no Parque das Nações, antes tão cuidado, tão arranjado, tão exemplar.
É lamentável que isto esteja a acontecer. As verdades são para se dizer e a verdade é que antes, quando estava a cargo da Parque Expo, estava tudo bem cuidado e cada falha era imediatamente corrigida. Temos de ser nós, moradores, a impedir que esta incúria se mantenha. Eu, que aparentemente acordei tarde para o problema, prometo não largar o osso.