Crescer, amar, apoiar
Quando tive o meu primeiro trabalho, creio que pelos 18 anos, a servir às mesas numa hamburgueria chamada "Yellow Cab" nas Amoreiras (aaaaaaaaah, que saudades), aconteceu mais ou menos isto: toda a família quis lá ir assistir ao momento, os amigos, os amigos dos pais, foi uma festa. Não havia era telemóveis para registar o momento (e que pena porque hoje adoraria recordar com o auxílio de imagens e não apenas com recurso à minha terrível memória) mas lembro-me de ter muitas visitas que me sabiam sempre pela vida (e as gorjetas também).
Com o Manel tem sido parecido. Nós já fomos umas três vezes, sozinhos e com os irmãos, e na segunda o meu pai e a minha boadrasta também quiseram lá ir espreitar. Enquanto lá estávamos, uns amigos do Manel chegaram também, para assistir ao momento. Acho delicioso este acompanhamento dos nossos, um pouco como quando os ensinamos a andar de bicicleta. Largamos mas estamos sempre a correr ali atrás, capazes de lhes deitar a mão se for caso disso. Aqui não íamos propriamente salvá-lo de se espalhar ao comprido, mas estar por perto deixando voar é coisa que até os pais pássaros fazem com os filhos.
Na noite em que fomos lá jantar com os irmãos foi impagável ver a cara da Mada a olhar para o irmão quando ele assomou à nossa mesa, de pólo com o nome do restaurante e avental. Mandou uma daquelas gargalhadas genuínas, e não se calava de um riso enorme, que era de espanto e orgulho no irmão mais velho. Foi tão bonito que será impossível esquecer.
Já o Martim, esteve a vingar-se de todas as prepotências que os irmãos mais velhos sempre exercem - de uma forma ou de outra - sobre os mais novos. Chamava-o por nada, obrigando-o a regressar com a bandeja cheia, perguntou-lhe se tinha fome enquanto se deliciava com uma bolinha de alheira, entre outras patifarias do género. Claro que lhe fomos dizendo que "cá se fazem cá se pagam" e daqui a 3 anos, se tudo correr bem, vai ser ele a dobrar a mola e o outro pode bem ir para lá dar-lhe cabo da cabeça diariamente.
Na segunda o avô e a avódrasta apareceram, pediram a sangria que ele prometeu saber fazer bem (e sabia, que estava óptima), e ficaram enternecidos com o tanto que o miúdo cresceu. Se a mim me provoca esta mistura de sentimentos que vão do achar que isto é tudo encantador, ao ter pontadas no peito pelo tempo que passa quase sem darmos conta, nem imagino aos nossos pais, que já nos viram a nós bebés e agora vêem-nos adultos com filhos a caminhar para adultos também. A vida e a sua perpétua transmissão de testemunho não cessam de me maravilhar.