Clube de Leitura: um livro apenas, muitas interpretações
Desde que este Clube de Leitura nasceu, há um ano (foi precisamente no dia 18 de Março), que tem sido sempre na base do "cada um lê o seu e conversamos sobre o que lemos". As pessoas podem achar redutor por acharem que o que cada um faz é basicamente uma leve sinopse do livro (até porque não quer ser spoiler e lixar a leitura a todos os que possam estar interessados no mesmo livro), e passa adiante. Mas não é bem assim porque há sempre quem faça mais perguntas, porque há sempre quem já tenha lido esse mesmo livro (nesse mês ou alguma vez na vida) e tenha uma ideia completamente distinta ou muito parecida, e quando damos por isso já estamos a falar de outras coisas e da vida em geral. De maneira que não, na verdade não tem sido nada redutor, pelo contrário, porque saímos de lá todos com ideias de livros que, pela descrição, queremos mesmo ler, ou o contrário: livros que não vamos perder tempo a ler, porque a descrição de quem os leu foi arrasadora e, com o tempo, já vamos conhecendo os gostos de cada um e percebendo se coincidem ou não com os nossos.
Ainda assim, de quando em vez havia alguém que sugeria fazermos como habitualmente se faz nos clubes de leitura: lermos todos o mesmo livros e discutirmos sobre ele durante todo o nosso encontro. Foi desta vez. A Isabel Sobrinho sugeriu o Nobel Kazuo Ishiguro e o livro "Os Despojos do Dia", ainda ninguém tinha lido e, por isso, era o livro perfeito para experimentarmos. Assim foi. Confesso que estava com receio. Não sou escritora, não sou especialista em literatura, levava alguns tópicos para discussão mas não sabia até que ponto ia conseguir espicaçar a audiência para que não terminássemos a nossa tertúlia em 10 minutos. Qual quê. Éramos 25 e ficámos lá até quase às 21h (as nossas conversas começam às 19h).
Começámos com a descrição da leitura da Isabelinha (7 anos) e do Rodrigo (8 anos), filhos da Isabel Sobrinho e da Sónia Envia, respectivamente. Ela leu "Tea Stilton e o Código do Dragão" e ele leu "O Bando das Cavernas - Aventuras Radicais". Amorosos, ambos, ela a citar partes do livro que a fizeram rir, ele a explicar que já leu vários da colecção mas este foi o preferido. Amo que as crianças se juntem e estou aqui a tentar que pelo menos a Mada vá ao próximo. Vamos ver se tenho sorte. Ainda conseguimos fazer um Clube de Leitura infantil, paralelo ao nosso, vão ver!
Quanto ao nosso livro... foi muito interessante perceber que muitas de nós tivemos a mesma percepção de um livro sobre devoção, entrega, dignidade, arrependimento, sobre os caminhos que a vida nos mostra e se somos ou não capazes de os ver e de nos desviar daquilo que definimos para nós, bem como se depois nos perdoamos pela escolha que fizemos, ainda que ela se tenha revelado uma má escolha. Mas cada nova achega fazia com que o livro ganhasse novas tonalidades, como que ia ficando progressivamente mais denso e misterioso. Ou seja: em vez de este esmiuçar se converter numa espécie de esvaziamento do mesmo (quase como se o sugássemos até se transformar numa passa), deu-se o contrário: ele tornou-se mais completo, mais rico, com múltiplas camadas que, se calhar a um primeiro olhar, nos passariam despercebidas.
Gostámos tanto do resultado que ficou combinado assim:
Num mês faremos como fazíamos antes, ou seja, cada um lê o seu livro e diz o que achou dele; no mês seguinte lemos todos o mesmo livro para depois o examinar em detalhe.
Assim, sendo as sugestões da Fnac para a próxima sessão são:
- A Arte Japonesa da Terapia da Floresta, de Shinrin Yoku
- Lição de Tango, de Sveva Casati Modignani
- Publicação da Mortalidade, de Valter Hugo Mãe
- Ensina-me a Voar Sobre os Telhados, de João Tordo
- The Female Persuasion, de Meg Wolitzer
O nosso próximo encontro é dia 27 de Abril, às 19h, na Fnac do Colombo. Cada um lê o que quer.
Podem inscrever-se em baixo.