Campainhas e alarmes e o raio que os parta

Digamos que o dia não começou bem. Eram 8 da matina quando tocaram à porta. Aquele "triiiiiii" prolongado aqueceu-me o sangue nas veias. Dormíamos profundamente, o que, aos fins-de-semana e feriados, nem sempre acontece (Os miúdos têm esta coisa de acordar às 7 em dias de descanso e, se pudessem, só se levantavam às 11 em dia de escola). De modo que ouvi aquilo e nem me mexi, a ver se ninguém despertava. Só que, passado 1 minuto, já eu estava a ferrar no sono outra vez, "triiiiiiii". Passou-me uma coisa pelos olhos. Levantei-me à bruta, disse cerca de vários palavrões, e caminhei batendo com os pés com tanta força que parecia uma manada furiosa de efefantes. Rodei a chave na fechadura as vezes necessárias para abrir a porta com estrépito, impusionei o corpo para a frente e vi a porta da frente aberta. Percebi imediatamente. Eram os homens das obras que, desprezando quem descansa, decidiram tocar à maluca para várias campainhas. Ainda assim, fiz-me de parva e comecei: "Quem é? Quem é? Quem é?"
E eis que, vindo da porta da frente, surgiu um homem, visivelmente assustado pelo ar de louca que eu certamente apresentava (o cabelo desgrenhado, os olhos a chisparem ódio, as sobrancelhas frisadas de raiva): "Não é ninguém, foi engano".
Engano? Engano? Eu estou a dormir, porra. O meu homem está a dormir! Os miúdos, veja bem, até os miúdos dormem. E pumba. Mandei com a porta e fiz todo o caminho inverso, dois corredores percorridos em passo bélico, um salto para a cama e mais uma chusma de impropérios.
Eram 9.30 da manhã. Dormíamos ainda (meu deus, meu deus! muito e muito obrigada). E é então que começa a tocar o alarme do prédio: tinóni-tinóni-TINÓNI-TINÓNI-T-I-N-Ó-N-I-T-I-N-Ó-N-I! Pensei que ia ter uma síncope. Os putos acordaram aflitos. Não, não era um incêndio. Eram os homens das obras, gente sem amor pela vida (agora percebo a quantidade de acidentes de trabalho na construção civil) e a abusarem da sorte. E assim começou o meu feriado.