Autoridade poucochinha
Ontem fui entregar a minha carta de condução. Por dois meses, terei de andar de transportes públicos, de bicicleta ou a pé, para não ser burra.
A multa data de 2014 mas foi a tribunal, onde se conseguiu reduzir a sanção de 4 meses para dois. Se 60 dias já é mau, 120 nem imagino.
Quando fui levar o documento à esquadra da minha residência, o agente foi amoroso. Olhou para mim com uma expressão solidária, quase dolorida, desabafando que também ele tinha recebido uma multa por excesso de velocidade há pouco tempo, uma distracção à hora errada e pumba, já foste. Fiquei surpreendida com aquele desabafo, que o tornou um cidadão comum, e que me deixou a mim com uma menor sensação de culpa pelo meu desaire.
Enquanto lá estava, à espera que ele tratasse das papeladas da ordem, apareceu um outro agente a dar notícias de um terceiro, hospitalizado. Esse teria então sido brutalmente agredido em Loures, tendo ficado com a cara em muito mau estado, pelo que teria sido operado para levar parafusos e uma placa de titânio.
Fiquei a pensar naquilo. No difícil que é ser polícia, ainda para mais num país que não compensa devidamente a autoridade. Além do perigo que correm todos os dias, ainda há a velha questão de terem de pagar pelos seus uniformes, já para não falar dos carros a precisar de reforma e de poupanças diversas em material de que supostamente precisavam para exercer condignamente a sua profissão.
Dizia-me o chefe da esquadra, que me atendia: "Sabia que não temos subsídio de risco? Arriscamos a nossa vida todos os dias, mas ninguém nos paga para isso. Ouviu o que o meu colega disse? Aquele agente que foi agredido ficou mesmo mal tratado... mas enfim, é uma luta perdida."
Ser agente da autoridade neste país mais parece voluntariado. E isso abre caminho para uma série de problemas de segurança que nos deviam inquietar a todos. Bem sei que o cobertor é curto. Se tapamos o pescoço, destapamos os pés. Mas há partes deste corpo que deviam estar mais aquecidas que outras. Digo eu.