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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Ainda a Cuf

Recebi um telefonema da agência de comunicação do Hospital Cuf Descobertas. A explicação para que uns sejam filhos e outros sejam enteados parece residir no facto de alguns médicos quebrarem as regras impostas pelo hospital, caso que "está a deixar o hospital com um grande incómodo", porque, de facto, cria situações de desigualdade intoleráveis. Sendo assim, o que me foi dito ao telefone foi que, a partir de agora, o hospital ia envidar todos os esforços no sentido de permitir que todos os pais que assim o desejassem pudessem assistir às cesarianas. A conversa, no entanto, prosseguiu por email. Precisava de mais detalhes, para perceber se isto não passava de uma intenção vaga ou se as coisas iriam realmente mudar. A essa questão não sei responder. Sei que no último mail que recebi se lia:
"O Hospital está a desenvolver esforços no sentido de criar condições que permitam a todos os pais (que o queiram, naturalmente) assistir aos partos dos filhos, desde que não existam indicações médicas em contrário e caso o parto não decorra no bloco operatório."

Se tiverem relatos contrários a isto... façam o favor de me mandar emails a contar (sonia.morais.santos@gmail.com). Isto já não é só por mim. Isto é por todos aqueles que não suportam discriminações. E pelos que querem estar AO LADO (E NÃO COM A CABEÇA DENTRO DA BARRIGA ABERTA) das mulheres, naquele que será o dia mais feliz das suas vidas.


Ah. Antes de ir, só mais dois apontamentos, que decorrem de alguns comentários que me deixaram no post anterior:

1- Eu não vou fazer cesariana porque ache muito giro ter uma cicatriz nova. Nem porque não queira aguentar as dores de um parto natural. Infelizmente, a Madalena irá nascer, em princípio, de cesariana, porque já fiz outras duas cesarianas e porque, segundo o que me dizem os médicos, o risco de ruptura do útero talvez não compense as alegrias de um parto natural. As outras duas cesarianas que fiz também não foram por um qualquer prazer perverso que eu tivesse em ter as entranhas ao léu. A primeira aconteceu depois de ter estado em trabalho de parto, a soprar como devia, e a dilatar como devia, mas sem que o meu filho enorme se dignasse a descer para a porta de saída. A segunda cesariana foi feita porque o meu anterior obstetra me disse que depois de uma cesariana tinha obrigatoriamente que ser outra cesariana. E eu, apesar de jornalista, apesar de me considerar uma pessoa informada, falhei. Não ouvi outras opiniões. E acreditei na palavra do médico. É das poucas coisas da minha vida em que, se pudesse, adoraria poder fazer o tempo voltar atrás.

2- Não tenho nada contra quem tem crianças em hospitais públicos. Eu própria, se me rebentassem as águas e a criança me começasse a escorregar pelas pernas abaixo, iria seguramente ter com o Dr. Fernando Cirurgião ao São Francisco Xavier, cujas instalações, médicos e enfermeiros são excelentes. Mas em tendo de ser cesariana, e tendo um bonito seguro de saúde, desculpem lá mas prefiro escolher o conforto. Manias.

3- Algumas pessoas escreveram a dizer que acham bem que os hospitais não deixem os pais assistir às cesarianas. É a sua opinião, que respeito. Mas o meu post não era sobre isso. Serei a primeira a respeitar um hospital (ou outra instituição) que crie uma regra, desde que ela faça sentido, que esteja devidamente justificada e, mais importante ainda, que seja para TODOS. O meu post não era uma birra contra o facto de o hospital não aceitar que os pais assistam às cesarianas. O meu post era - é - uma indignação contra as regras que só servem a alguns. Estando outros (supostamente só porque são Vips) livres de a cumprir.

4- Houve uma pessoa que disse que achava bem que os pais não pudessem assistir às cesarianas porque eram uma cirurgia e porque, de hoje para amanhã, estava o maralhal todo a assistir a cirurgias ao coração e aos rins e ao fígado. Eeeeerrr... Ora bem. Entre uma coisa e outra, parece-me a mim, há grandes diferenças. Uma cesariana, apesar de ser uma cirurgia, não se realiza porque há uma doença. Realiza-se para o nascimento de um filho. Que é, deve ser, uma alegria. E uma alegria que não é, não deve ser, só da mãe. Em princípio é uma alegria de duas pessoas. Uma mãe e um pai. Duas mães. Ou então uma mãe e uma avó, no caso de não haver companheiro(a) que partilhe a parentalidade. Sinceramente, acredito que começa aí, nessa discriminação do pai, um processo que vem de longe. De deixar os pais noutro campeonato, no que toca à parentalidade. E o nascimento de um filho é, quanto a mim, um momento de partilha. Em que dois se tornam três. E, sendo cesariana ou não, sou da opinião que devem estar os três juntos nesse momento único. Que não se repete. E que muda tudo.

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