Acordar
Cá em casa cada um tem um acordar diferente.
O Manel acorda com o seu despertador, primeiro era um batuque animado que ecoava pela casa, parece que entretanto se fartou e agora é um cântico sportinguista qualquer. A Madalena acorda com um beijo e alguns mimos, não é muito difícil, mais beijo menos cócega e já está a sorrir. O Mateus geralmente desperta sozinho, com os sons próprios de uma casa cheia que inicia o reboliço.
O Martim é o caso bicudo. Para acordar é preciso engenho e arte e, aparentemente, sou eu quem está mais habilitada para o fazer porque antes era o pai e o caldo entornava-se quase sempre. O Martim não pode simplesmente ser arrancado à bruta do sono, é preciso resgatá-lo com sabedoria e tacto. É preciso chegar devagarinho, beijo, abraço, o seu nome repetido até se tornar uma espécie de prece. Segue-se o desfilar de animais que carinhosamente lhe chamo, com o intuito de o fazer rir. Crocodilo desdentado, aranha perneta, zebra espacial, girafa aquática, mosca coxa, lagarta vesga, tigre cor-de-rosa, esquilo escaganifobético. São às dezenas os animais esquisitos que invento, até que lá lhe arranco um sorriso, sinal inequívoco de um bom desfecho.