A noite em que eu morri
Foi há umas semanas. Andava numa fase maluca, super frenética, que me estava a roubar o sono. Depois de umas duas semanas quase sem pregar olho uma amiga médica receitou-me um medicamento para dormir. Disse-me para não abusar, que era mais um SOS, mas que não podia simplesmente continuar naquela loucura, sob pena de ainda fritar a pipoca. E assim ficámos. Das duas ou três vezes que o tomei dirigi-me logo para a cama e pronto, história terminada. Mas naquela noite não foi assim.
Era sexta-feira, tínhamos vindo de um jantar. Tinha prometido ao Ricardo que lhe ia mostrar uma coisa no computador. Cheguei a casa, tomei o comprimido, vesti o pijama, lavei os dentes, fui para a cama. Ainda vi umas coisas no telemóvel antes de pegar no computador. Depois, sentei-me na cama, pus o portátil no colo e...
...
Eram 10h da manhã quando acordei. Naqueles minutos que se seguem ao despertar pensei: "Não me lembro de adormecer... espera... eu ia mostrar uma coisa ao Ricardo e não me lembro de mostrar. Não me lembro de nada." E comecei a agitar-me na cama. Nisto, o Ricardo acordou:
- Estás viva?
- Estava aqui a pensar que não me lembro de te ter mostrado o que prometi. Lembro-me de ter o computador no colo mas depois não sei mais nada...
Foi então que ele me contou o que se tinha passado. Como eu nunca mais lhe mostrava nada ele, que estava deitado ao meu lado, refilou: "Então? Mostras ou não?" E eu, nada. Ele repetiu a pergunta. E não recebeu resposta. Seguiu-se o susto. Deu-me um encontrão, eu nada, gritou pelo meu nome, e eu nada, abanou-me, e eu nada. Nisto, apareceu a Mada, alarmada com os gritos do pai. Ele tentou sossegá-la, disse para ela sair, e talvez tenha sido quando tentou justificar o que se estava a passar com a mãe que lhe ocorreu que eu pudesse ter tomado o comprimido (não o avisei previamente).
Depois de muito me abanar e até de me tentar pôr de pé, eu lá terei revirado um olho e ele acreditou que a razão para aquela morte aparente seria o bendito (naquele momento mais maldito) comprimido. Foi contar os já tomados e, feitas as contas, achou que batia tudo certo. A culpa era do dito cujo. Saiu do quarto, deu com 3 filhos à porta com ar de pânico, tranquilizou-os.
E assim foi. Ou terá sido. Que eu cá... tive um apagão geral. Creio (e ele também crê) que até podia ter sido intervencionada cirurgicamente que nem assim acordava. Espero que isto não lhe dê ideias, senão qualquer dia ainda acordo sem um rim. De todo o modo não tenciono voltar a tomar aquilo. Demasiado creepy até para mim, que geralmente não tenho medo destas coisas.