Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

A efemeridade aborrece-me.

A efemeridade é, possivelmente, das questões da vida a que sempre tive dificuldade em acostumar-me. Esta coisa de tudo não parecer mais do que uma brisa que passa, um punhado de areia que nos escorrega pelos dedos. Não é de agora. Não é uma daquelas constatações de quem chegou à meia-idade. Sempre me custou. Ser jornalista não foi, nessa perspectiva, uma escolha assim muito inteligente. Não há nada mais efémero do que uma peça de jornal. Num dia aquilo até pode ter um belo eco, de gente que se revê, que se interessa, que acha importante, no dia seguinte está a forrar o local onde se depositam as tigelas do cão (ou, pior ainda, no caixote do lixo). Poder-me-ão falar em reportagens mais bombásticas, que efectivamente mudaram vidas, e que, por isso, quebraram a barreira da efemeridade. Verdade. Nesses casos acontece, e é quando sabem mesmo bem. Mas talvez devesse ter sido arquitecta ou engenheira. Produzir algo que não é facilmente deglutido pela voraz passagem do tempo. "Olha, aquele prédio fui eu que desenhei". "Este edifício foi obra minha". Ainda assim, teria que dizê-lo em voz alta (e quem escuta podia acreditar ou não) porque raramente os prédios têm essa assinatura visível, perpetuando o nome dos autores. Nesse aspecto, os escritores, quando são mesmo bons, ganham a todos os outros. Não só deixam obra como ela está assinada com o seu nome, para toda a gente ver. Escrever um livro aclamado é algo que tansforma aquela pessoa num ser perene, contínuo, inextinguível. 

Serve esta introdução para dizer que um blogue também é uma daquelas criações caducas, sobretudo se pensarmos em cada post. E é por tudo isto que me custa escrever novos posts, depois do último, sobre o DNA. Porque cada novo texto remeterá aquele mais para baixo, e mais para baixo, e ainda mais para baixo, até se sumir para uma página que já mais ninguém visitará, até ao derradeiro esquecimento. Foi sempre esta a minha vida. Há mais de 20 anos que escrevo coisas que têm um prazo de validade, como os iogurtes. Hoje em dia então tudo o que fazemos tem um prazo cada vez mais curto. A efemeridade nunca foi tão absoluta e isso custa-me. Sempre me custou. Mas, neste caso em particular, está a custar-me mais que nunca. 

24 comentários

Comentar post

Pág. 1/2