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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Delhi: Dilli Haat Bazaar

Cabem quatro numa mota, na boa. Mãe atrás, filho mais velho, pai e bebé à frente

Dilli Haat Bazaar 



Nhamiiiiiiiiii! Cenas picantes!!! 

Ricardo a comprar especiarias 


Dentro do mercado havia uma exposição de fotografia chamada India Kliks. Fiquei completamente apaixonada por esta fotografia. 

Delhi: Qutb Minar e o regresso das malas perdidas

Acordámos e estava a chover. Delhi com chuva fica um caos ainda maior. O trânsito é ainda mais louco, parece que ainda apitam mais do que o costume (o que, na verdade, parece impossível). Mas, sobretudo, o piso fica impraticável. Há lama grossa por todas as ruas, mesmo as mais inesperadas.
Fomos ao Qutb Minar, que é o minarete de tijolo mais alto do mundo. Tem 73 metros de altura e foi construído em 1193 (há quase mil anos, portanto). É muito, muito bonito.







A seguir, fomos… BUSCAR AS MALAAAAAAAAS! É verdade, cinco dias depois (e na véspera de nos irmos embora), fomos buscar as malas. Não que precisemos delas - a esta altura do campeonato já me estou nas tintas - mas para evitar termos de estar muito cedo amanhã no aeroporto, para as levantar e, depois, embarcar.
Foi um filme, levantar as malas. No aeroporto, fomos levados para uma sala onde uns cinco homens mal encarados falavam em hindi e olhavam para os papéis com muuuuuito vagar. Depois, o Ricardo teve de ir sozinho (só podia ir ele) e eu fiquei cá fora, a imaginar toda a sorte de coisas (ele demorou muito tempo). Às tantas, vejo dezenas de elementos da polícia do exército, armados até aos dentes, a entrarem pelo aeroporto adentro. Pensei: pronto! Alguém nos abriu as malas durante estes dias, meteram lá droga dentro e já fomos! Meia-hora depois do homem ter entrado mandei-lhe uma mensagem: "Tudo bem?"
Quando ele voltou, com as malas, contou que lá dentro só se via gente a entregar notas por debaixo da mesa, para acelerar o processo (algo muito comum na Índia - o nosso guia diz que todos os polícias, excepto os do exército, são corruptos e basta dar-lhes uma nota para resolver os problemas). O armazém onde estavam as malas era imenso e mais sujo que algumas casas de banho. Lá dentro foi um filme para reaver as malas, com a conversa a meter rupias pelo meio, mas lá vieram. O momento foi assinalado com uma foto, claro! Está desfocada - acho que foi da emoção de o ver. Já o imaginava numa qualquer prisão em Delhi (e essa ideia… não é nada boa).


Agora vamos passear. O homem não se sente bem. Está febril, tem arrepios, está mal disposto e diz que as tripas já tiveram melhores dias. Hoje íamos ao cinema e dançar mas… quer-me parecer que já não será nada mau se não formos malhar com os ossos ao hospital. Ah! Mas teremos sempre que ir ao privado! O guia conta que, nos hospitais públicos, às vezes os médicos tiram os rins às pessoas para os venderem. Cool!!!
Nota: nunca mais dizer mal dos hospitais portugueses, sim?

Delhi: primeiríssimas impressões

Chegámos a Delhi à tarde. Não tem nada a ver com Jaipur ou Agra. Aqui há prédios altos, grandes empresas, um cosmopolitismo que não existia (DE TODO) em qualquer uma das outras cidades.
Ainda posso dizer pouco desta imensa cidade (tem 18 milhões de habitantes - contra 5 milhões de Jaipur e 2 milhões de Agra). Apenas que já posso andar na rua sem sentir que olham para mim como se fosse um bicho raro. Que, apesar de moderna, continua a ser muito suja - eles atiram todo o lixo para o chão, mascam tabaco e cospem uma gosma castanha para o chão de cinco em cinco minutos (e para as paredes - hoje passeámos por uma zona de prédios brancos e os pilares estavam todos cuspidos de castanho), que o caos no trânsito permanece igual, que apesar de haver empresas e movimento e homens de negócios e grandes avenidas e jardins, não deixa de haver uma pobreza gritante. Estávamos a passear sozinhos (acabados de chegar a Delhi) quando uma menina se abeirou de nós. Não tinha mais de 5, 6 anos. Pediu esmola. O Ricardo disse que não tinha e ela atirou-se aos seus pés, a beijar-lhe os sapatos. Eu larguei imediatamente a chorar. Demos-lhe esmola, claro, e ficámos os dois parados, a vê-la afastar-se, imunda, com a nota na mão. Só queria trazê-la comigo, juro. Dar-lhe um banho, vestir-lhe um pijaminha, dar-lhe um jantar dencente, ler-lhe uma história e adormecê-la com festinhas. Hoje foi muito, muito duro. Não é que a gente não saiba que isto existe. Mas uma coisa é saber. Outra é ter uma criança aos pés, a implorar por algum dinheiro que lhe tire a fome. 

A história de amor que deu origem ao Taj Mahal

Ora vamos lá à história:
Shah Jahan, príncipe mogol, foi certo dia ao mercado (Meena Bazaar) e ficou extasiado com a beleza da jovem Arjumand. Perguntou-lhe então o preço de uma peça de vidro que ela tinha à venda. A rapariga, trocista, respondeu que não era um vidro mas sim um diamante e que custava 10 mil rupias. Evidentemente que ela não fazia ideia de que se tratava de um imperador. Shah Jahan pegou no vidro, pagou as 10 mil rupias e virou costas. Quando chegou ao palácio, disse ao pai que se queria casar com aquela divertida e linda rapariga. O pai disse que sim, mas eles precisaram de esperar 5 anos até poderem casar e, durante esse tempo, nem sequer se puderam ver. O dia do casamento, em 1612 foi uma festa memorável. Foi nesse dia que o imperador Jahangir (pai de Shah Jahan) deu o nome de Mumtaz Mahal (que significa: a escolhida do palácio) à noiva.
Os dois viveram muito felizes durante muitos anos. E tiveram 13 filhos. E foi no parto do 14º filho (por acaso uma filha) que Mumtaz Mahal acabou por morrer. Há quem diga que foi ela que lhe pediu que fizesse um monumento em sua homenagem, há quem diga que ela não disse nada e que a ideia foi do viúvo. Também se diz que Shah Jahan gritou muito alto quando a mulher morreu. E que ficou tão triste que, em três dias, a sua barba (que era preta) ficou completamente branca. O imperador não comia, não bebia, e só chorava. Depois do desespero veio a decisão de mandar construir o mais imponente mausoléu em homenagem ao grande amor da sua vida: o Taj Mahal. E ele aí está, para deslumbramento de todos, tantos séculos depois.
Shah Jahan acabou preso no Forte Vermelho, pelo próprio filho, a escassos quilómetros da sua obra grandiosa. A guerra entre os dois, pela sucessão, acabou na prisão do pai e na subida ao trono do filho. Diz-se também que o filho prendeu o pai porque ele queria fazer, do outro lado do rio Jamuna, em frente ao Taj Mahal, um outro Taj Mahal em mármore preto (e todo o tesouro do império já se tinha ido, com a construção do Taj Mahal). E até se diz que a sua megalomania de viúvo louco de amor e saudade o fazia pensar em edificar uma ponte sobre o rio Jamuna, que ligasse as duas construções. Aparentemente, o filho decidiu pôr um travão em tanta loucura. Diz-se ainda que Shah Jahan morreu olhando para o mausoléu que construiu em homenagem à sua amada, preso a escassos quilómetros e com vista para o Taj Mahal. Triste mais triste não há.

A última imagem que Shah Jahan terá tido do magnífico Taj Mahal, que mandou construir em homenagem ao grande amor da sua vida




Não sei se foi por causa da história, se pela beleza estonteante do Taj Mahal, o que sei é que, além da comoção da chegada, tive uma imensa comoção à saída. Custou-me horrores virar costas a este monumento de uma riqueza imensa (tem mármores de Jaipur, jade e cristal da China, turquesas do Tibete, Lápis Lazuli do Afeganistão, ágatas do Yemen, safiras do Sri Lanka, ametistas da Pérsia, corais da Arábia, malaquite da Rússia, quartz dos Himalaias, pérolas do Oceano Índico). Sabia que, em princípio, não o verei mais (há muito mundo para conhecer!) e primeiro que conseguisse virar-lhe costas foi um problema. Queria guardar aquela imagem bem dentro dos meus olhos, mas não apenas a imagem: a sensação impressionante de estar ali. Queria que me ficasse agarrado à pele, impresso na carne, queria ter a certeza que nunca mais me esquecia do que senti ao estar ali. O Ricardo sentiu exactamente o mesmo (com menos drama pelo facto de não ser gaja) e só disse "mas que raio de nó por me vir embora... nunca me aconteceu". Foi aí que percebi que talvez não fosse só mariquice minha e que o Taj Mahal deve ter mesmo um magnetismo especial, difícil de explicar por palavras.

Índia: Taj Mahal

Só me tinha acontecido isto uma vez, aos 15 anos, quando vi a Torre Eiffel ao vivo. Nessa altura, lembro-me de gaguejar, de ficar estarrecida, de pensar "caramba, eu estou mesmo aqui a vê-la!"
Hoje foi igualmente intenso, talvez mais porque a idade é outra e as sensações distintas.
O Taj Mahal é soberbo. Magnífico, deslumbrante, avassalador. Provavelmente a construção mais bela e grandiosa que já vi. Foi de tal forma arrebatador que agradeci o facto do Ricardo ter ficado a negociar o preço das fotos que um local insistiu em nos tirar, para poder afastar-me e comover-me à vontade. E com "comover-me" quero dizer chorar mesmo. Sim, chamem-me palhaça à vontade: eu chorei diante do Taj Mahal, muito disfarçadamente, a limpar depressa as lágrimas para ninguém ver, a sentir-me muito ridícula. Mas há ali uma energia qualquer que não sei explicar. Uma pessoa sente-se esmagada.
E depois há a história de amor por detrás, que também ajuda a sentir que aquele sítio é mágico e único e que é bom que seja eterno.






 A história de amor que deu origem ao Taj Mahal já de seguida. 

Agra - Parte II

Agra pertence a um estado diferente de Jaipur. Jaipur é do Rajastão, Agra é do estado de Uttar Pradesh.
Disse-nos o nosso guia, Maendra, que o estado de Uttar Pradesh tinha tudo para ser rico. Para começar tem muita água, o que permite cultivos totalmente diferentes (e diversificados) do Rajastão, que é muito seco; por outro lado, tem o Taj Mahal (vamos ver amanhã!!!) que gera milhões. Mas, ao que parece, os governantes têm conseguido torrar muito dinheiro e desenvolver muito pouco o estado.

O Forte Vermelho também foi mandado construir por Akbar e acabou por ser o lugar onde o seu neto, Shah Jahan.
É uma história triste, que conto amanhã, quando for ao Taj Mahal (é longa e tenho um sono que não vos passa pela cabeça). Por agora… as imagens do Forte.



Ali ao fundo, o Taj Mahal. O homem que o mandou construir, Shah Jahan (neto de Akbar), acabou preso pelo seu próprio filho, Aurangzeb. Aqui ficou durante 8 anos. Conta-se que acabou os seus dias a olhar para o monumento que mandou edificar em homenagem ao grande amor da sua vida, Mumtaz Mahal (Arjumand, de seu verdadeiro nome), que morreu ao dar à luz o 14º filho (por acaso uma filha).


































Amanhã, toda a história do Taj Mahal e do grande amor entre Shah Jahan e Mumtaz Mahal...





Agra: Parte I

Saímos de Jaipur e seguimos em direcção a Agra. Cerca de cinco horas de carro. Apesar de não querermos dormir - dá um certo medo dormir num carro que pode ser abalroado a qualquer instante por um veículo ou animal - adormecemos profundamente durante um tempo. É que na noite anterior estivemos acordados até às 4h da manhã. Primeiro porque queríamos falar com os filhos, o que só foi possível às 2.30 da manhã - que são 21h em Portugal; depois porque o homem quis ver o seu Sporting pela internet (oh, desaire); e depois porque entre descarregar fotos e pesquisar mais informações e ler tudo… o tempo voa. Conclusão? Dormimos 2 horas e meia.
A primeira paragem foi em Fatehpur Sikri.
Mal saímos do carro, apareceu um miudinho junto a nós que disse: "Hello!" Habituados a alguma insistência de miúdos e graúdos para ganharem a nossa atenção, dissemos um "hello" sem grande entusiasmo e preparavamo-nos para seguir caminho (é preciso apanhar um pequeno autocarro que nos leva lá acima, ao Fatehpur Sikri propriamente dito) quando a criança começa a falar:
- De onde são? Madrid? Barcelona?
Bom… o miúdo era a coisa mais querida do mundo. Chamava-se Samir, era espertíssimo e cheio de noções de marketing. Disse que eu era "mui guapa" (algo que evidentemente foi bem ensaiado para dizer a todas as turistas), que sabia falar sete línguas, que não nos podíamos esquecer de visitar a banca da sua família, à saída: "É a 62, não se esqueçam!"
O Ricardo deve ter começado a rezar a todos os santos (do cristianismo, hinduísmo, islamismo, budismo e outras) para que eu não perdesse a cabeça por causa do miúdo. "Esquece, não o podemos levar connosco!"
Fatehpur Sikri é um testemunho excepcional da civilização Mongol dos finais do séc. XVI. Foi construído entre 1571 e 1585, pelo imperador Akbar. Reza a lenda que, apesar das suas 300 mulheres, Akbar não tinha um filho. Então, neste lugar a 40 km de Agra, terá rezado a um santo (Shaik Salim Chisti) e o santo ter-lhe-á dito que ele iria ter um filho, dentro de 9 meses. E assim nasceu Jahangir e, numa espécie de homenagem, começou a construção de Fatehpur Sikri.
A construção é incrivelmente eclética. Akbar, muçulmano, queria agradar também aos hindus. Apesar de ter muitas mulheres, uma delas era hindu e construiu-lhe uma parte do palácio cheia de elementos hindus: elefantes, suásticas (não sei se sabem mas a suástica não é um símbolo apenas do nazismo mas um símbolo comum a muitas culturas, nomeadamente a hindu), pinturas de Krishna, etc. Numa parte da construção, erguida para receber hóspedes, havia entradas em forma de cruz - para que, assim, se agradasse também aos cristãos. Akbar era um conciliador.
Porém, Fatehpur Sikri ou "a Cidade da Vitória" teve uma existência efémera como capital do império Mongol. A falta de água acabou por obrigar Akbar a mudar-se dali e a abandonar Fatehpur Sikri.




À saída, tínhamos o Samir à espera. Lá fomos à banca 62 e, claro, comprámos duas coisas bem bonitas (e bem mais caras que o habitual - o Ricardo coibiu-se de negociar por causa dos olhares que eu lhe deitava, num beicinho de quem queria ajudar o querido Samir)
Boa sorte, Samir! Este miúdo merecia estudar… Tanta esperteza merecia um futuro diferente. 
Mas, como disse o nosso guia, "primeiro está a barriga, e a família precisa comer"


Dali… Agra. No caminho, o nosso guia perguntou: "Que ideia fazem de Agra?" Calculámos logo que a pergunta tinha alguma coisa por detrás. Dissemos que não sabíamos muito bem mas que achávamos que devia ser bastante mais pequena que Jaipur. Ele sorriu. E disse:
- Sim. Mais pequena e muito diferente. Não tem nada a ver com Jaipur. Jaipur é muito limpa. Agra não tem a limpeza de Jaipur.
Nós nem queríamos acreditar nos nossos ouvidos. Se para o nosso guia Jaipur é "muito limpa" e Agra "não tem a limpeza de Jaipur"… então só podíamos estar a aproximar-nos de uma lixeira a céu aberto.
Não estávamos muito longe da verdade. Se Jaipur é pobre, Agra é uma miséria que dói.





 

Ok… Jaipur é realmente limpa… quando comparada com Agra! De facto, tudo depende das perspectivas.
Em Agra, fomos ver então o Forte Vermelho. Lindo, lindo. Mas sobre isso… farei outro post depois. Que agora vou jantar.
Ah, e nunca mais digam que a vossa cidade (ou vila ou aldeia) é suja. Vale?

Há fogo!!!


O jantar de ontem foi como o anterior: uma mistura de váriasespecialidades indianas. Estava eu na alegria da degustação quando, de repente,fiz-me de todas as cores. O Ricardo a continuar a conversa, sem perceber que euprincipiava a deitar fumo pelas orelhas. O problema foi que, no meio do meufrango, havia uma malagueta. Meti-a na boca, mastiguei-a e só depois percebi doque se tratava. Quando já era tarde demais. As lágrimas correram pela caraabaixo, o nariz a fungar, eu a pedir líquidos para afogar aquele incêndio.Gosto tanto de spicy food! Mas uma malagueta assim inteira, mastigada eengolida, não é fácil.
A A malagueta ali misturada, escondidinha, a grande sacana…