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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Conta-me #15

Lembram-se do conto em que duas amigas falavam ao telefone? Sobre a impotência do marido de uma delas? Está AQUI.

Este é o outro lado da história. 

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- Andas muito calado... Está tudo bem?

- Tudo. - e, de um só trago, engoliu a cerveja que tinha acabado de chegar à mesa.

- Hummm. Não me estás a convencer. Passa-se alguma coisa? A Ana? Os miúdos?

- Todos bem. Quer dizer... foda-se, não é fácil falar disto. Nem sei bem por onde começar. 

- Ah, logo vi! É que só podia, meu, estás estranhíssimo! Conhecemo-nos quê? Há 30 anos? Ainda tens temas difíceis para falar comigo?

- Este é difícil, acredita. - respirou fundo como que para atirar a frase no meio do ar expirado - Acho que estou impotente. Pronto. É isso.

- Uiiii. Isso é... isso é realmente fodido. Estás nada impotente! Estás? Epá, tipo... tens a certeza? Isto é... que estupidez, claro que tens a certeza. Mas, digo: isso dura há muito tempo? Lá porque um tipo não levanta uma vez não quer logo dizer que esteja morto! Não estarás a exagerar?

- Não, Zé. Não estou. Já lá vão seis meses.

- Fuck! Seis meses? Não mandas uma há seis meses??? 

- Não estás a ajudar, Zé.

- Ai desculpa, foda-se, desculpa. E a Ana? Uiii... faço ideia, já a fazer uma série de filmes. Espera lá. Tu não... tu...

- Se tenho outra? Não. Nada. Achas? Tu sabes como eu gosto da Ana.

- Sei, claro que sei. Mas isto às vezes, sei lá. E há por aí muita gaja que consegue fazer a cabeça de um gajo. Literalmente. Ah ah ah. Desculpa. Não é momento para piadas.

- (sorrindo) Enfim, olha, é isto. Já não sei o que faça à puta da minha vida. Já pensei tomar Viagra mas quer dizer, se nem tenho 40 anos e já me meto nessas merdas, aos 50 já não deve haver comprimido azul que me valha. 

- Mas espera lá. Espera lá. Há alguma razão... sei lá, emocional que possa ter provocado isto? Ou seja: se não formos já pelo problema fisiológico, por teres isso avariado, achas que pode haver algum factor emocional por detrás? Quer dizer, a empresa, o teu pai... não está propriamente fácil.

- Pá, são merdas na minha vida, sem dúvida. Mas daí até perder a tesão? Não. Não me parece. 

- Não há mais nada? Um gajo às vezes encuca com coisas e nem se apercebe, meu. 

- Não. Acho que não.

- E a Ana? Como é que ela está a passar por isto?

- Oh, como é que achas que está? Na merda, claro. Acha que já não gosto dela, acha que é por estar gorda, acha que tenho outra... no outro dia apanhei-a a ver o meu telemóvel. Se fosse noutra altura tinha-me passado com ela, mas agora... não a posso censurar. O clima entre nós está péssimo, mal consigo olhar para ela, e depois na hora de irmos para a cama, foda-se, é uma tensão que nem te passa. Esta merda até podia funcionar mas com os nervos com que eu já vou é um milagre ter ponta.

- Foda-se... isso é um pesadelo.

- Ya. E eu que no ano passado a tinha ouvido a falar com a Sofia, a dizer que queria ter mais um filho. Imagino como é que ela está. 

- Mais um filho? Tás a gozar. Vocês têm três filhos, tu andas arrasado, sempre a queixarem-se de massas. Mais um filho como, meu?

- Cenas da Ana. 

- Mas tu queres ter mais um filho?

- Não!

- E disseste-lhe?

- Na altura disse-lhe que era uma loucura, que já era uma loucura termos três, que estávamos numa situação fodida com a empresa e o meu pai, os meus irmãos... mas tu sabes como é a Ana. E eu percebi que ela tinha sempre vontade de pinar ali numa altura do mês e depois lhe passava num instante. Bom, isto, claro, antes de me acontecer o que me aconteceu.  

- Pedro. Acho que acabei de desvendar o enigma.

- Vai-te foder, Zé. Isto não é uma das tuas charadas.

- Estou a falar a sério! Ouve: tu ouviste a Ana falar de querer ter mais filhos, chegaram a falar os dois sobre o assunto, tu topaste que ela estava a apontar para os dias certos do mês para te entalar, sim porque tu disseste que não querias ter mais filhos! O teu problema é esse!!!! Tu não consegues ter tesão porque estás à brocha! Não é consciente mas quando chega a hora da verdade deves começar a ouvir um puto aos berros e fraldas e leite e o caralho. Já pensaste nisso?

- Achas? Nah... isso é muito rebuscado.

- Qual rebuscado, caralho! É isso, de certeza, Pedro. 

- Epá, eu confesso que a ideia de ter mais filhos me deixa completamente fora de mim. Aliás, até cheguei a... tu sabes, tirar antes, para não acontecer.

- Aí tens! O teu problema chama-se fi-lhos! Se tirares o bebé da equação... voltas a ter tesão. Foda-se, sou um poeta.

- És é um pateta, caralho. Então e agora?

- Agora vais para casa e tens uma conversa com ela. Ou isso ou metes um preservativo. Ah ah ah! A sério. Vai por mim. Acho que acabei de te salvar. Paga aí mais uma imperial aqui ao psicólogo de serviço, anda!

- Chefe! São mais duas, se faz favor! Espero que tenhas razão, Zé. Espero mesmo que tenhas razão. 

- Ainda me hás-de dizer uma vez que eu não tenha tido razão. À nossa!

- À nossa.

 

*Conta-me é uma rubrica do blogue Cocó na Fralda com contos escritos pela autora (podem ver todos na pasta na parte superior do blogue, que diz "Conta-me")

Casas onde a Cocó não se importava de morar #107

Há duas pessoas em mim: a que adora a cidade e até se mudava bem para o centro, para as Avenidas Novas, ali onde há imenso comércio e metro e está perto do Saldanha e do Campo Pequeno e fica perto de tudo; e a pessoa que até se imagina a viver no campo, tipo eremita, a ler e a escrever, posta em sossego. O Ricardo garante que é mentira, que ficava doida se me mudasse para o campo, mas eu acho que ele não está bem a ver a minha vida: nos últimos tempos passo os dias enfiada em casa, precisamente a ler e a escrever, e a cidade não me vê nem eu vejo a cidade, pelo que não estou a ver de que modo é que ensandeceria se tudo se mantivesse igual, apenas mudando o cenário.

De maneira que podia bem mudar-me para esta casinha que agora mostro, perto de Melides, a 10 minutos da praia da Aberta Nova, tão próxima de Lisboa. Trata-se de uma casa de 300m2, num lote de 11 mil metros quadrados, com jardim e piscina. Tem uma sala com uma grande lareira, dois quaeros, um deles em suite e uma casa de banho completa. Depois tem uma casa anexa com a cozinha e mais dois quartos e uma casa de banho (imagino os mais velhos a viverem no anexo, todos contentes por terem uma "casa" só para eles; o pior era a cozinha estar também lá, não ia sobrar nada de um dia para o outro).

E pronto. É isto. Se o meu lado eremita vencer, qualquer dia poderei estar num sítio como este, a ouvir passarinhos.

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Clube de Leitura de Lisboa: dia 30 de Janeiro, com a presença do escritor João Tordo

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É a primeira vez que vamos ter a presença de um escritor nestes nossos encontros. Na verdade, já tinha pensado fazer convites aos autores mas depois ficava sempre com algum receio de que aquele ambiente intimista e descontraído conhecesse ali uma quebra, que ficasse tudo muito formal pela presença de um daqueles que costumamos ler e admiramos. Mas o nome de João Tordo é um daqueles que se repete. Há sempre alguém que traz um dos seus livros, mais recente, mais antigo. Já tivemos um livro dele como leitura "obrigatória". E agora estava muita gente a ler o seu último. E então decidi convidá-lo e ele disse logo que sim. De maneira que no dia 30 (quinta-feira) a partir das 19:30, quem quiser juntar-se no Brown's Hotel, em Lisboa, será muito bem-vindo. Vamos poder conversar sobre os livros deste autor de quem tenho gostado muito, nomeadamente do seu último, um thriller que me agarrou da primeira à última página (A Noite Em Que o Verão Acabou).

Obrigada, como sempre, à MultiOpticas por se aliar a este projecto de amor pela literatura. 

 

12 anos de Cocó na Fralda

Fez no dia 19 e eu nem me lembrei. Curiosamente, isto já vem sendo recorrente. Fui ver a publicação de aniverário do ano passado e... aconteceu justamente no dia 22. Atrasada mas pontual no atraso, não se perde tudo.

De todo o modo, gostava de dizer que esta aventura tem sido um prazer, que o ter-me permitido ser livre (não totalmente mas muito mais livre do que era) é o maior de todos os prazeres, que poder viver da escrita e da comunicação com os outros é algo que sempre fiz, enquanto jornalista, mas que há 12 anos faço de outra maneira, mais próxima, mais pessoal, mais livre também. O Cocó já me proporcionou muitas coisas boas (tantas, tantas!) e poucas coisas más, mas que na verdade também foram boas (saber que há gente ruim como nas novelas, assim mesmo ruim-ruim e avariada dos cornos pode ser bom porque ficamos mais inteirados sobre a diversidade humana e mais preparados para o embate, quanto elas decidem investir a sua cornadura contra nós). 

Uma palavra de agradecimento (mais uma) à Ana Garcia Martins, que me chagou a cabeça para criar um blogue, na redacção da Time Out, e eu acho que o criei mais para a calar (consegue ser chataaaaaa) do que para qualquer outra coisa (falamos de um tempo em que ninguém sequer sonhava vir a ganhar dinheiro com blogues, logo o intuito de criar um era pura e simplesmente comunicar o que nos desse na gana). Se não tem sido isso, provavelmente ainda era jornalista, a ganhar miseravelmente e a trabalhar 12 horas por dia (se ainda tivesse emprego). Não me esqueço. Se há coisa que não sou é ingrata.

Obrigada por estarem desse lado, alguns desde o primeiro dia, outros mais tarde, outros mesmo recentemente. Tem sido uma jornada, hein? Vamos lá continuar!

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Então como é que está a correr o voluntariado do Manel?

Pois que está a correr lindamente. Depois da primeira noite, em que a chamada por FaceTime revelou um miúdo fragilizado, a descomprimir depois de dois dias a viajar sozinho, foi sempre a melhorar (como já imaginávamos). Aquele telefonema não chegou a preocupar-nos porque compreendemos perfeitamente a tensão em que tinha estado nas últimas 48 horas, pela primeira vez a viajar sozinho para África, com muito dinheiro na mochila (para ele e para outra voluntária, que lhe tinha pedido para levar - dinheiro para viver um mês inteiro), pernoitar em São Tomé, voltar a voar, chegar a Príncipe e deparar-se com a realidade que iria ser a sua nos próximos 30 dias, tudo sem poder comunicar (sendo que esta geração nem sequer sabe o que é isso de não poder comunicar). Não foi fácil, esse primeiro embate. Mas todos os dias depois desse têm sido dias de ânimo, de entusiasmo, de descoberta. Perguntei-lhe se queria contar aqui, por escrito, como têm sido estas duas semanas de voluntariado internacional, até porque há muita gente a enviar emails a perguntar como ele está, o que faz, e outros detalhes (por estarem a pensar sugerir aos próprios filhos esta experiência). Eis, então, o relato do Manel na primeira pessoa:

"Passaram precisamente duas semanas desde que aterrei neste pedaço mágico da Terra. É difícil descrever uma experiência que me tem marcado tanto. As palavras não parecem suficientes e parecem nunca descrever na totalidade os sentimentos e sensações que o voluntariado internacional nos proporciona.
Assim que aterrei em São Tomé, onde tive de passar uma noite antes de partir para a ilha do Príncipe, percebi que era muitíssimo diferente. Tentei preparar-me para tudo, ir de mente limpa, sem preocupações, sem expectativas, mas mal pus um pé no país que tem sido a minha casa, percebi de imediato a intensidade da experiência que me esperava. Apesar de ter investigado a cultura do país, alguma da sua história e de saber as suas fragilidades, percebi naquele momento que não conhecia nada mais do que isso. Depois dessa noite de choro, apanhei a avioneta para a Ilha (que medo que tive) e rapidamente me apercebi da dinâmica de tudo. Os primeiros dias foram penosos e duros. Não estava habituado a tamanha pobreza. Não estava nem estou habituado a viver sozinho, de forma independente e autónoma, e isso trouxe algum desconforto e tensão. Agora as coisas estão mais normalizadas, o único problema são mesmo as saudades. Saudades da minha família, namorada, amigos, e do meu Sporting. Mas a verdade é que agora sinto que quando voltar vou ter saudades de tudo isto. Saudades das coisas mais simples, dos abraços de manhã, à tarde, à noite, ao chegar a casa e ao sair de casa. Vou ter saudades do ambiente tranquilo vivido aqui e da felicidade que estas pessoas têm, mesmo sem ter nada. Parecem clichês, mas são factos que vos transmite alguém que ainda está a experienciar estes momentos maravilhosos, e que se está a conhecer a cada dia que passa nesta Ilha única.
Em relação ao projeto, neste caso em concreto, não posso dizer mil e uma maravilhas. De facto, quando cheguei, nada estava feito. Tivemos de planear um horário semanal, criar e começar atividades de todo o tipo e pô-las em prática. Não foi fácil, porque fomos as cobaias deste projeto acabadinho de nascer, mas a partir do momento em que começou a criar-se uma rotina de atividades, tudo se tornou espetacular: a reação dos miúdos e graúdos tem sido perfeita! Desde aulas de inglês à consciencialização dos perigos do plástico, todos se mostram completamente abertos a aprender coisas novas. Notámos muitas debilidades na noção geográfica, a maior parte dos miúdos não sabe identificar o seu próprio país no globo, nem o seu próprio continente. Para os ajudar neste aspeto, temos feito inúmeras ações práticas, como desenhar e pintar os continentes, o jogo do quente e do frio no mapa-mundo, entre outros tipos de dinâmicas. O nível de inglês também é muito baixo, algo que já esperávamos, mas como exige algum grau de concentração, fazemos muitas brincadeiras com material reciclado: bowling com latas numeradas, obrigando cada criança a acertar num certo número pedido em Inglês; jogo das cadeiras com cores, pedindo, em Inglês, para não se sentarem numa determinada cor; o jogo da macaca com cartão reutilizado, com números escritos em Inglês; etc. Por usarmos todo este tipo de material que, em condições normais, iria para o lixo, pedimos às crianças que nos tragam rolos de papel higiénico, cartão, garrafas e latas. Como podem ver no quadro abaixo, temos, todas as semanas, aulas de reciclagem, onde ensinamos em que contentor colocar certos produtos. Há imenso lixo na praia, e isso tem de ser visto como uma das principais preocupações de qualquer voluntário que para cá venha. Não basta apanhar lixo do chão. Consciencializar os miúdos pode ajudar a mudar todo um paradigma, toda uma geração que não sabe o quão prejudicial pode ser atirar alguma coisa para o chão ou para o mar.
Este tipo de atividades elucidativas têm corrido muitíssimo bem, assim como as mais recreativas. Pinturas, desenhos, jogos de cartas, dominós, desporto, tudo isto tem sido relativamente fácil de colocar em prática, e parecendo que não pode fazer a diferença na vida dos pequenos São Tomenses, e claro, nas nossas!
Deixo abaixo algumas fotos da beleza da ilha e daquele que tem sido o nosso gratificante trabalho, que vai continuar por mais duas semanas."

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Cabelo: esse símbolo

Quando o cabelo começa a cair, com os tratamentos oncológicos, há alguma coisa que inevitavelmente se quebra. É real mas é também profundamente simbólico, sobretudo - creio - se se tratar de uma mulher. Não é que um homem não valorize a sua densidade capilar mas a verdade é que é muito mais frequente vermos homens saudáveis carecas, sem se ralarem muito com o assunto. Já as mulheres não levam a coisa com essa leveza, e mesmo que a queda de cabelo seja "natural" e não provocada, é vê-las a arranjar estratagemas para disfarçar o problema. Por isso, quando o cabelo cai, devido aos tratamentos contra o cancro, é uma dupla dor: por um lado verem-se sem cabelo, importante moldura do rosto, importante elemento da sua feminilidade; e por outro saberem que aquela calvície é como que um letreiro que carregam, todo escrito a néon, para toda a gente ver: "Aqui vai alguém com cancro". E se há quem não se importe de levar letreiros escarrapachados na cabeça, há quem se sinta devassado naquela que é uma luta íntima. Tem graça. Estava a escrever isto e a lembrar-me da senhora que se sentava ontem ao meu lado na sala de espera do hospital (enquanto eu esperava pela pessoa que acompanho). Eu estava a ler o último livro do João Tordo e a senhora meteu conversa: "consegue ler com todo este barulho?" Eu sorri e compreendi a pergunta. Sou geralmente muito distraída e é verdade que qualquer ruído me distrai, mas expliquei-lhe que, como se trata de um thriller e está muito bem escrito, não estava a ser difícil. De seguida, encetámos conversa. E às tantas ela diz-me isto, que me fez agora sentido no que estava a pensar sobre o cabelo: "Eu não consigo ler com barulho e também nunca trago o livro assim, com a capa à mostra. Visto-lhe sempre um forro. E nem é por vergonha do que leio, acho que até leio literatura muito recomendável (risos), mas não gosto que saibam o que leio. Sinto-me exposta." Ora, se até na leitura de um livro, há quem queira preservar a sua intimidade, o que dizer de expor para o mundo que se está a travar a maior batalha da vida?

Felizmente hoje existem imensas soluções muito interessantes, nomeadamente perucas (que hoje se chamam pomposamente "próteses capilares") tão realistas que conseguem devolver ao doente a sua imagem, tão semelhante à anterior que é como se, por momentos, oferecessem a ilusão de que a doença não passou de um sonho mau. É verdade que a ilusão passa mas a auto-estima permanece. E todos sabemos como a auto-estima é importante, tão importante que até há teorias a apontá-la como causadora ou curadora de muitos males. Se o doente conseguir olhar-se no espelho e reconhecer-se naquela imagem... já é um bom primeiro passo. Para não se perder a identidade física, num percurso que, psicologicamente, já é tão duro.

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Nota 1: obviamente que isto não é válido para todas as mulheres e há aquelas que não se importam rigorosamente nada com o facto de estarem carecas, que até acham importante serem essa bandeira, que gostam de se ver sem cabelo! Todas as opções são válidas, desde que as pessoas estejam confortáveis com elas, que para desconforto já basta o maldito.

Nota 2: Não ganho nada com isto mas acho importante revelar: a pessoa que eu acompanho comprou uma peruca absolutamente espectacular no cabeleireiro Great Lenghts, no cruzamento entre a Av. EUA e a Gago Coutinho. O atendimento foi personalizado, numa sala privada e recatada, feito por uma funcionária simpática e eficiente sem ser demasiado nhenhenhe (às vezes as pessoas tratam os doentes como se eles tivessem regredido em idade), e a peruca é tão incrivelmente natural que ninguém conseguirá adivinhar que é falsa. Mais: fica-lhe tão bem que rejuvenesceu 10 anos! Recomendo este sítio.

Apartamento em Nova Iorque

Tenho sido bombardeada com o pedido: podias dizer-me qual o apartamento onde ficaste em Nova Iorque? Já respondi a algumas perguntas mas... elas continuam a chegar e a chegar e a chegar. Vai daí que, olhem, decidi partilhar o link para ficar mais fácil, ok? Ora então atentem:

http://airbnb.com/h/ManhattanGem

Muito simples, sem luxos mas muito limpinho e funcional: só uma sala com kitchenette totalmente equipada (onde há uma cama e um sofá que, no nosso caso, também serviu de cama) e um quarto com cama de casal e outro sofá (que também serviu de cama - somos muitos!). No mesmo andar, existe uma lavandaria, onde podem lavar e secar roupa.

Uma nota: eu não fazia ideia mas aparentemente o airbnb tem algumas restrições em NY. Supostamente não é possível arrendar um apartamento inteiro por menos de um mês. Ou seja: só seria possível arrendar partes de uma casa. Ora, quando percebi que hotel para os 6 ia obrigar-me a vender algund dos meus órgãos vitais e alguns do Ricardo também, e comecei a procurar apartamento, eles eram aos magotes no airbnb e, por isso, não podia supor que havia esta questão (não estava minimamente informada, confesso). De maneiras que... olhem, informem-se e vejam se, ainda assim, querem arriscar. Como vos digo: como não fazia ideia, fui à vontade e a verdade é que correu tudo pelo melhor. Mas não me sentira bem se não vos alertasse, agora que soube desta situação. Vocês são crescidinhos, de modo que... decidam!

 

Rei morto, rei posto (e muito bem posto, por sinal)

No início de dezembro, a minha máquina de lavar morreu. Na altura fiz um post no Instagram sobre o assunto, uma espécie de bonito e agradecido epitáfio à falecida, e logo houve quem achasse que a intenção era ganhar uma máquina nova, como se aqui a decana nestas vidas ainda se desse a estas artimanhas manhosas para conseguir porras à borla. Nah. A máquina nova já abrilhantava a minha cozinha enquanto eu escrevia o elogio póstumo da anterior, ou não fosse ter com a AEG uma relação profissional já de alguns anos, mas é sempre divertido assistir aos acessos nervosos de algumas boas almas (seguramente que são boas almas, lá beeeeem no fundo). Adiante.

A nova máquina tem estado aqui à prova. Entrou linda e cintilante e eu mirei-a com um misto de espanto e desconfiança. Foi assim como se a minha velha assistente se tivesse reformado e, de seguida, entrasse pela porta uma boazona com ar eficiente. Sorri-lhe mas, ao mesmo tempo, torci o nariz. Tão linda, com um óculo enorme, com uma capacidade de carga superior à anterior, toda digitalona, cheia de opções, com apitos para isto e para aquilo e ainda com a possibilidade de secar, além de lavar, o que pode muito bem vir a permitir o fim de poéticas instalações de roupa pendurada em estendais dentro de casa, quando chove. Esperei um mês de labuta para dizer umas palavrinhas sobre ela.

Para começar, quis começar esta relação com o pé direito. Ora, como todos sabemos, não há melhor forma de uma relação ter sucesso do que conhecermos muito bem o outro. Assim, sentei-me muito concentradinha a ler o manual de instruções todo, coisa que (atirem as vossas pedras, nomeiem-me a pior "dona de casa" da História) NUNCA na vida tinha feito. Uma nota só para referir que usei sempre a máquina anterior (a falecida) no programa automático. Sempre. E demo-nos lindamente. Só que esta bichinha nem sequer tem o milagroso botão do automático. Há programas para algodão, algodão ECO, há programas para sintéticos, para lãs, programas para roupa de outdoor (por exemplo, roupa de correr), há um que diz "vapor" (ops, constato agora que não sei ainda para que serve este), há o enxaguamento, e ainda há tudo o que diz respeito à secagem. Os programas de lavagem e secagem ajustam automaticamente a duração e os consumos à quantidade de roupa que colocamos na máquina (mesmo que seja só 1kg!). O programa "Outdoor" tem sido uma excelente surpresa: serve para restaurar a impermeabilização de vestuário outdoor impermeável e com propriedades técnicas. Como? Basta colocar um agente impermeabilizante no compartimento do amaciador, em vez do amaciador. A seguir, selecionar programa outdoor, colocar a roupa na máquina (respeitar a carga máxima do programa) e iniciar a lavagem. 

Para já, está a ser um enamoramento. Sinto-me como nos primeiros tempos das relações. É tudo perfeito. Ela é linda, ela faz tudo o que lhe peço e mais ainda, ela é silenciosa, não incomoda, resolve, surpreende. Tem um sistema que pesa a roupa e, consoante o tipo de peças que vai lavar, decide quando já tem peso que chegue para que fique tudo bem lavado. Espertíssima. Quando faço alguma coisa errada, ela apita e acende luzes, como quem diz "não sejas otária, vê lá o que estás a fazer" mas tudo com delicadeza e sem histerias.  A roupa sai bem lavada, há programas especiais para nódoas difíceis, há programas para deixarem a roupa menos engelhada (que a dona Emília agradece) e o de secagem só ainda experimentei uma vez e parecia uma criança que recebeu um brinquedo novo: a cada peça que retirava seco da máquina era ver-me com um sorriso enorme e uma exclamação "Eishhhhh! Sequinho! Sequíssimo!"  Enfim. Vamos ver como continua esta união, pelos anos fora. Dou-lhe muito trabalho, coitadinha, mas ela tem ar de aguentar tudo sem queixumes. Em troca, prometo continuar a consultar o manual de instruções, a oferecer-lhe produto para combater a acumulação de calcário, e a limpá-la com carinho. Se durar tanto como durou a sua antecessora, será um casamento longo e feliz. 

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C'um caraças

Aqui há tempos apaixonámo-nos por uma casa. Tinha onze assoalhadas, 300m2, chão de tábua corrida, tectos trabalhados, enfim... cheia de cachet, como se diz na gíria (ver AQUI). Mas, como a malta não é rica, tínhamos de vender a casa onde vivemos para comprar aquela e, no entretanto, a nossa adorada foi vendida. Fiquei ali arremelgada durante uns dias mas depois voltei à carga. Estava mesmo empenhada em mudar de casa e pus-me de novo em campo (em campo, na verdade, estou sempre, mas naquela altura era mesmo uma procura activa). Foi então que descobri uma casa parecida com aquela, mas mais velha, mais estragada, a precisar de obras várias. Achei-a linda e com potencial mas... o Ricardo não gostou. Achou-a escura, achou-a sem alma, houve ali qualquer coisa que não lhe caiu bem. Como tínhamos ido lá num dia cinzento, combinei nova visita num dia de sol. Que não. Havia um quarto interior, havia outro muito pequeno, a varanda, apesar de muito grande, tinha uma vista deprimente... enfim, não parou de botar defeitos e, como não ia morar ali sozinha, deixei a coisa cair. Passado um tempo (muito tempo mesmo) vi que foi vendida. 

Ora hoje vi que o prédio onde ontem houve um ameaço de derrocada era exactamente o prédio da casa que andei a namorar. Mal olhei para a fachada achei que era mas, quando li a notícia e vi o número da porta, fui logo confirmar nas minhas mensagens com o agente imobiliário e... era mesmo. Segundo li, apareceram fendas no prédio supostamente causadas por uma obra que se está a fazer no terreno contíguo e "as pessoas só deverão regressar às suas casas depois de se realizarem as obras necessárias a conferir segurança ao edifício, sujeitas a prévia fiscalização por parte da CML" (citando fonte da autarquia). E eu só pensava: OLHA SE TÍNHAMOS COMPRADO A CASA!!!!!! Obrigada, homem, por teres aí um sexto sentido qualquer que nos evitou agora uma dor de cabeça que nem quero imaginar. Dasssssssse! De facto, sou apaixonada por casas velhas, devidamente recuperadas, mas é bom ter em atenção o estado do prédio e as movimentações que se passam em redor. Caso contrário... pode ser um problema do catano.

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É sempre bom voltar a Aveiro

Desde que conhecemos a festa de São Gonçalinho que procuramos não perder uma. Primeiro, porque é uma excelente "desculpa" para irmos visitar a minha irmã a Aveiro (não é que precisemos de desculpas mas também temos a nossa vidinha e as nossas coisas e afazeres e às vezes não é fácil estar a deslocar toda a gente desta casa até Aveiro, com as respectivas agendas). Depois, porque a festa é mesmo gira e gostamos sempre do ambiente que ali se vive e de ir atirar cavacas do alto da igreja ou de ficar simplesmente a vê-las cair e tentar não apanhar com um no alto da pinha. 

No ano passado lembro-me que não conseguimos casa e, apesar de conseguirmos ficar no apartamento da minha irmã, achei que era confusão a mais e acabámos por não ir. Este ano, fomos mais espertos e marcámos tudo com antecedência. Se é verdade que eles agora têm uma moradia gigante acabada de estrear e que dava para todos, também não é menos verdade que ainda estão em fase de mudanças e não queríamos nada ir para lá perturbar (ainda mais) o momento de transfega de uma casa para a outra. Assim, descobrimos uma casa linda e grande, desafiámos uns amigos a irem connosco e pronto: estava feito o fim-de-semana de São Gonçalinho e de espécie-de-inauguração da casa nova da minha irmã.

Eu e ela ainda conseguimos ter um momento "Back to Christmas", quando foi preciso ir buscar cerveja e parámos no quiosque natalício Quebra-Mar para fazer de conta que ainda era Natal e ainda estávamos na nossa tradicional viagem.

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A casa onde ficámos está mesmo em frente à ria, mesmo ao lado da Ponte do Laço, e por isso não podia estar melhor localizada. Com a vantagem de  ser grande, com dois andares, e de ter camas para nós e para os nossos amigos: um quarto com um duplex, dois quartos com 2 camas cada um, outro quarto com cama de casal e, na sala, ainda ter um sofá que dava para um ou então para duas crianças que durmam como anjos (porque não é assim tão larga e se forem diabinhos a dormir pode vir parar um ao chão). Além disso, era mesmo gira, muito bem decorada e até parecia uma das "Casas onde a Cocó não se importava de morar" (podem vê-la AQUI)

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