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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Foi bonita, a festa. Foi mesmo bonita

Ontem foi um dia que nunca mais vou esquecer. Acho que nenhum dos que ontem teve o privilégio de lá estar vai perder da memória aquilo que ontem se viveu. Ontem foi dia de alguns fazerem o Half IronMan, outros fazerem a prova em estafetas (foi o meu caso, fiz parte da Team Vasco, com a Raquel e o Paulo - eu nadei 1900 metros, o Paulo pedalou 90km e a Raquel correu 21km), outros estarem todo o dia a apoiar (e quando digo todo o dia é mesmo toooodo o dia, das 6h da manhã até às 6h da tarde, 12 horas de claque fortíssima - são os maiores!).

Ontem foi o dia da superação. Uma nota para a Madalena, que completou o seu primeiro Half Ironman (parabéns, sua valente), outra para o meu marido, que fez 90km de bicicleta com muito pouco treino, para homenagear o amigo na Team Brinca (estou orgulhosíssima, caneco, que herói!), e outra para o Zé Carlos. O Zé Carlos esteve em todo o lado ao mesmo tempo, como Nosso Senhor, ora a homeagear o seu amigo Vasco, ora a acompanhar os Iron Brothers. Fez todo o percurso ao lado deles, a puxar por eles, ao mesmo tempo que o seu coração se multiplicava, entre eles e a homenagem ao Vasco. É simplesmente o maior e eu sinto-me muito sortuda por ser sua amiga, palavra de honra. 

(bom, e a propósito da prova dos Iron Brothers, sobre os quais falei aqui na semana passada, farei um post mais tarde). 

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Ontem foi o dia de lembrar quem nunca será esqucecido. Foi o dia do Vasco. Foi o dia da Raquel. Foi dia de dar tudo por quem nos diz tanto. 

A todos, muito obrigada por tudo! 

(algumas fotos (as melhores) são da Cristina Segurado. Obrigada pela grande reportagem fotográfica)

 

 

ATENÇÃO!

A pedido de muitas leitoras, o Clube de Leitura, que era hoje, passou para a próxima quinta-feira, dia 3 de Outubro!

Não vão até ao Brown's Hotel, que dão com o nariz na porta!

Ou então vão, tomem um copo, jantem, fiquem por lá a dormir, que é bem giro!

 

Burro velho aprende línguas (e muitas outras matérias)*

Este é o segundo ano que a minha mãe está a frequentar a Universidade Sénior e eu não podia estar mais contente com tudo o que ela me vai contando. Para começar, não podia estar mais contente com ela, com a minha mãe. A minha mãe, que é tradutora de alemão, trabalha há vários anos sozinha e não é propriamente daquelas pessoas muuuuuito dadas aos outros, no sentido de ter um milhão de amigos e convívios e cenas várias. É, de resto, mais para o reservada, fechada, metida consigo. De modo que, se me tivessem dito, há uns anos, que ela havia de ir para a universidade sénior e que até havia de ir a convívios e passeios com os novos colegas... eu era menina para acusar o mensageiro do futuro de ser um bêbado inveterado. E no entanto... lá anda ela, toda satisfeita da vida, cada dia com novas histórias, cada dia com um novo brilho nos olhos, cada dia com diferentes aprendizagens.

Este ano, além das Artes, da Filosofia e de mais umas disciplinas, a minha mãe escolheu Teatro (mais uma daquelas escolhas que julgaria absolutamente impossível) e Desenvolvimento Pessoal (WHAT?? A MINHA MÃE? Really???). E sabem que mais: está a adorar ambas. Até parece mais nova, o raça da rapariga! Mais alegre, mais solta, mais aberta a compreender-se e - quiçá - a modificar-se. Prova provada de que nunca é tarde para fazermos coisas que nos desafiam, prova provada de que nunca é tarde para aprender.

A minha mãe tem quase 74 anos e continua a surpreender-me e, mais importante ainda, a surpreender-se. 

 

*Este título (antes que me apedrejem e digam que estou a chamar burra e velha à senhora minha mãe) é uma ironia ao ditado popular que diz justamente o contrário: "Burro velho não aprende línguas". Podeis respirar e... guardar a pedra. 

Mas afinal o que vem a ser isso do ensino articulado?

No outro dia escrevi no Instagram que a Mada tinha entrado no ensino articulado e houve muitas pessoas a perguntar o que raio vinha a ser isso.

O que é, então, o ensino articulado?

É o ensino artístico (Música ou Dança) leccionado em articulação com as disciplinas do ensino regular. Por outras palavras, é possível estudar música ou dança, no ensino público (leia-se gratuito), em articulação com o horário da escola (sendo que estes alunos ficam dispensados de uma série de disciplinas para poderem ter as de música, que implicam uma grande carga horária e são muito exigentes). As disciplinas de música são asseguradas por uma escola de ensino artístico especializado e, no final do 9º ano, os alunos têm direito ao diploma de Curso Básico de Música (equivalente ao do Conservatório). 

Como fazer para tentar entrar?

Os alunos que vão ingressar no 5º ano têm de prestar provas de selecção (em Maio ou em Junho, dependendo das escolas), numa das escolas certificadas pelo Estado para leccionarem este ensino especializado, e depois, mediante os resultados, os miúdos ou ficam ou não ficam. 

Quais as disciplinas do ensino "normal" a que têm dispensa?

Não tenho a certeza se é igual para todas as escolas ou se existe autonomia das escolas para decidir. No caso da Madalena, pode dispensar Educação musical, Oferta Complementar, TIC, Apoio de Português, Apoio de Matemática, EPS (Espaço de Promoção de Saberes). Como infelizmente nem tudo é perfeito, o horário dela tem muitas destas disciplinas a meio do dia. Ora, não faz muito sentido estar a dispensá-la de disciplinas para a ter uma hora parada no recreio a olhar para ontem. Não dá tempo para ir ter uma das aulas de música à outra escola, não dá para estudar, não dá para nada. Nesses casos, prefiro que contine a ter as disciplinas. No caso em que dá para dispensar uma tarde inteira, por exemplo, então vale a pena porque estes miúdos têm mesmo muito que trabalhar para conseguir completar este ensino especializado.

Que disciplinas de música têm, leccionadas pela escola certificada?

Formação musical (135 minutos por semana), coro (90 minutos por semana) e instrumento (no caso dela é o piano, 45 minutos por semana). A Mada não teve muita sorte porque, este ano, a escola de música decidiu dar a maior carga horária ao sábado, em vez de tentar articular-se com a escola básica (o ensino chama-se "articulado" e seria óptimo que na prática as coisas funcionassem realmente em articulação). Assim, a Mada tem aulas das 10h às 14h todos os sábados, e 45 minutos de piano durante a semana + 1 hora numa escola privada (que servirá de complemento ao estudo). 

Os miúdos podem chumbar o ano se não tiverem boas classificações na música?

Não. São coisas independentes. Podem não passar no ensino artístico (e não continuam) mas serem bem sucedidos no ensino regular.

 

E pronto. É isto. Vai ser duro, exigente, desafiante. Acho que é uma belíssima ferramenta, acho que estudar e saber música é sempre extraordinário, acho que aguça a concentração, a disciplina, a organização. Diz que até ajuda na destreza do raciocínio matemático. Depois, quando começarem as audições, prepara-os para se apresentarem em público, para perderem os nervos de estarem em destaque perante muita gente. Não tenho ilusões: acho que ela vai rosnar muitas vezes e arrepender-se outras tantas. Mas cá estaremos para dar aquele apoio.  

E eis que, de repente, o aquecimento global não interessa nada

Até porque é um tema que aborrece, não é? Tínhamos todos que fazer tantas cedências, mudar tanto as nossas vidinhas confortáveis... que maçador que é este tema, sempre o aquecimento global, sempre o ambiente, que enfastiante!

Assim, vamos todos virar-nos contra uma rapariga de 16 anos que teve a ousadia de se exaltar num discurso, que teve o atrevimento de se comover, a grande falsa! Sim, vamos todos malhar nela, raios partam a miúda, pumba na Greta (isto agora soou péssimo), ciber-bullying à bruta contra a adolescente, vamos embora! É uma teatreira, é uma maluquinha de Arroios, é uma marioneta de poderes escondidos. É uma idiota, é uma mimada, é uma espertalhona que está a ficar rica à conta da conversa sobre isso do ambiente ou lá o que é.  

Sabem o que é que isto tudo me faz lembrar? A Geni e o Zepelim. 

 

Casas onde a Cocó não se importava de morar #105

Tinham saudades de casinhas jeitosas, tinham?
Então tomem lá esta moradia T4 com 480 m2 de área bruta de construção, inserida num lote de terreno de 1.304 m2, na Quinta da Marinha, em Cascais.
Sala de estar com acesso a jardim privado, sala de jantar, cozinha totalmente equipada, escritório. Suite principal com walk in closet.
Anexo com lavandaria, quarto e casa de banho.
Jardim com rega automática. Muito boa exposição solar.
Quatro lugares de estacionamento.
A dez minutos da ciclovia e praias. Parece-me lindamente.

Mais AQUI.

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Os Papa-Léguas #8: Iron Brothers

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Faltam 7 dias para o grande dia. No próximo domingo, 29 de Setembro, Miguel e Pedro vão completar o seu primeiro Half IronMan juntos. Para quem não sabe, o Half IronMan é uma prova de triatlo que consiste em fazer 1,9km a nadar, 90km de bicicleta e 21km a correr, ou seja, metade das distâncias do Full IronMan (3,8+180+43km). Para quem também não sabe, Pedro tem paralisia cerebral e é Miguel, o seu irmão mais velho, quem vai transportá-lo nas três modalidades. Eles são especiais. Eles são determinados. Eles são super-atletas. Eles são os Iron Brothers.

Tudo começou com a água. Os pais do Miguel queriam que ele soubesse nadar e, aos seis anos, meteram-no no Algés e Dafundo. Aos oito, e apesar de andar ali contrariado, fez uma prova interna de natação que ganhou. E foi então que o convidaram para a competição. Ainda sem pinga de paixão, Miguel aceitou o convite. Sempre foi competitivo e aquele era o incentivo que faltava. Pouco depois, estava mais do que convencido. Tão convencido que os pais passaram da ameaça "se não fizeres isto obrigamos-te a continuar na natação" para a oposta: "se não fizeres isto tiramos-te da natação" (os pais que nunca usaram o velho truque da ameaça que atirem a primeira pedra).

Miguel especializou-se em Mariposa, nos 100 e 200 metros. Chegou a ficar em segundo lugar nos Nacionais em Mariposa. Treinava 5 horas por dia. Mas, aos 14 anos, uma lesão num ombro, que teimava em não passar nem com fisioterapia, e que o fez passar um ano a treinar um mês e parar fê-lo dizer "basta". Só há pouco tempo soube o nome do problema que o afastou das pistas: conflito subacromial. Nos tempos que se seguiram, dedicou-se a experimentar um sem número de desportos, mas sem nunca lhes dar a importância que tinha dado à primeira modalidade. "Joguei ténis, fiz motocross, kung fu, rugby...  dos 14 aos 23 ou 24 anos andei a saltitar mas nunca fiquei parado. A verdade é que o desporto sempre fez parte da minha vida. Posso mesmo dizer que faz parte do meu ADN: o meu pai foi nadador e campeão nacional de ténis de mesa, o meu avô foi nadador... e para mim o desporto é mesmo essencial."

Entretanto, e continuando com a cronologia exclusivamente desportiva, Miguel meteu-se no crossfit de competição e, três anos depois, teve uma compressão na coluna que o obrigou a ficar 6 meses sem levantar pesos. "Pensei: vou aproveitar para trabalhar a minha debilidade no crossfit, que é a resistência. Faltava um mês para o triatlo de Oeiras quando a minha amiga Rita Machado me desafiou a participar. Nunca tinha feito um triatlo. Mas fui". Foi, fez um tempo dos diabos e, claro, quis mais. Uns dias depois estava a inscrever-se no Half IronMan de Cascais. "Comecei a treinar com o Pedro Almeida (do Treino em Casa), tinha a expectativa de terminar a prova em 6h30 e, afinal, terminei em 5h39." 

Enquanto se encontrava a treinar para a prova, que era em Setembro de 2018 e, de férias para o Algarve com a mulher, o filho, o irmão Pedro e a irmã Catarina e o marido, Miguel recebeu um vídeo que a amiga Rita Machado enviou, em que dois irmãos ganham o slot para o IronMan do Hawai (os irmãos Pease). Mal acabou de ver o vídeo, Pedro exclamou um: "Também queria!". Miguel, que nem sabia se conseguia terminar um Half IronMan sozinho (quanto mais acompanhado), respondeu: "És maluco!" Depois de terminar o seu primeiro Half a resposta mudou para um promissor "Se calhar vamos!" (que, na verdade e para quem o conhece, era já um categórico "É claro que vamos!")

Uns dias depois estavam os dois juntos, pela primeira vez nestas andanças, no super sprint "My LX Triathlon Experience", em Algés. "Fizemos juntos a natação e a corrida. A bicicleta fiz sozinho. Foi uma primeira experiência, para ver como corria. Correu bem e o Pedro continuava motivadíssimo."

Foi então que criaram o nome, o logotipo, a página, o conceito. Seriam os Iron Brothers. 

Quando começou a treinar para a prova que agora se aproxima, Miguel percebeu que tinha de melhorar a natação. Para isso, começou a treinar com o CNATRIL (Clube de Natação e Triatlo de Lisboa). "Além da natação, comecei a dar voltas de bicicleta de 110, 140km com eles. Custou-me deixar de treinar com o Pedro, que além do mais é meu amigo, mas sentia que rendia mais a treinar com uma equipa que, toda ela, estava envolvida no mesmo objectivo. Comecei a treinar com os melhores no triatlo em Portugal, o que dá uma motivação brutal." Os treinos foram aumentando de intensidade até às 25 horas por semana. "O meu treinador, Hugo Ribeiro, foi importantíssimo nisto tudo. Ele é daquelas pessoas que acredita em nós, muito mais do que nós próprios. Tem sempre uma palavra de incentivo e de tranquilidade. Foi graças a ele e à equipa que consegui fazer tudo isto."

Depois daquele primeiro Half IronMan de Cascais em 2018, Miguel fez o Setúbal Triathlon em 2019 ("Foi muito duro. Foi tão duro que já me inscrevi para ir outra vez para o ano"), e o Triatlo Longo de Caminha, em Junho deste ano. Com o irmão, fez duas meias-maratonas, 1 triatlo super sprint, 1 sprint e uma maratona (Maratona de Aveiro). Pergunto-lhe se costuma comover-se. "Não. Excepto na maratona de Aveiro. Tinha prometido ao Pedro que ele ia acabar a prova a pé. E assim foi. Tirei-o da cadeira e cortámos a meta juntos, ele apoiado a mim. Aí chorei. (silêncio) Aí chorei mesmo."

Mas, afinal, quem é o Miguel e quem é o Pedro e que aventura é esta?

Miguel tem, como se disse logo no início deste texto, 33 anos. Lisboeta de gema, tornou-se advogado, como o pai. É casado há 4 anos com a Maria, têm um filho com 3 anos, o Manuel. Cresceu com dois irmãos mais novos: Pedro e Catarina. A paralisia cerebral do irmão, de 31 anos, nunca foi tema para nada. É só uma condição. "O meu irmão percebe tudo o que o rodeia. Não anda, mal mexe os braços, fala com dificuldade (apesar de eu entender tudo o que diz), mas tem um enorme sentido de humor, e é muito inteligente. É tão inteligente que usa aquilo que tem para ter aquilo que quer." A condição de Pedro, porém, pode bem ter sido a salvação da sua família nuclear, afirma Miguel: "Acho que se não fosse o meu irmão Pedro nós éramos todos uns idiotas. Às vezes as pessoas com algum conforto financeiro tornam-se auto-centradas, arrogantes, completamente alheadas daquilo que realmente interessa. Estou em crer que o meu irmão nos trouxe sabedoria. E o coração no lugar certo."

Pedro passa os dias num centro da APCL (Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa). A associação depara-se (como tantas) com dificuldades financeiras e tem umas carrinhas velhas, sem ar condicionado, que transportam os utentes. A luta do Pedro tem sido, ao longo dos anos, a de pedir dinheiro ao pai e aos amigos do pai para ajudar a APCL a renovar a frota ou para outras melhorias que podiam ser feitas. Quando Miguel fez o primeiro Half IronMan (ainda longe de imaginar que havia de se meter a fazer uma prova com o irmão), pediu 112€ (o equivalente à soma dos quilómetros feitos entre a natação, o ciclismo e a corrida) a várias empresas para apoiar a causa de Pedro. Em troca prometia levar o logótipo das empresas no seu fato. Correu bem. "Tão bem que no dia da prova eu parecia um palhaço, todo cravejado de logótipos. Conseguimos angariar 4 mil euros."

A missão dos Iron Brothers tem sido, além de treinar, a de contar a sua história. Por um lado, querem mostrar que a paralisia cerebral não tem de ser um entrave a coisa alguma, por outro lado querem ter um papel de inclusão das pessoas com deficiência no desporto, despertando consciências. Mas querem mais. Querem angariar fundos para ajudar a APCL, querem criar uma associação que, em breve, possa ter 20 canoas, 20 cadeiras de correr e 20 bicicletas para que 20 pessoas com deficiência possam participar em futuras provas. Querem criar um podcast que conte a história do triatlo em Portugal. Querem continuar a participar em eventos desportivos e a levar o nome Iron Brothers mais longe, evoluindo para novos projectos. Para o ano, já há várias ideias, nomeadamente fazer o IronMan (o completo) em Barcelona (mas ainda estão à espera de autorização). E, claro, o ultimate goal seria participar na prova-rainha das rainhas: o IronMan do Hawai (o berço da marca IronMan, desde 1978). Há tanto para fazer, tanto para conquistar: "Acho que esta foi a oportunidade de o Pedro passar a sua mensagem. De participar em algo que é muito mais do que pedir dinheiro ao pai ou aos amigos do pai para ajudar a associação onde passa os dias. De se envolver. De perceber que a paralisia cerebral não o define e que pode mais do que imagina. Porque isto para mim é duro mas para ele também. É verdade que eu é que faço a força, eu é que nado, pedalo, corro e ele parece que vai ali na boa. Mas não. Ele vai em esforço. São muitas horas na mesma posição, ao sol, ou ao frio, ou à chuva, ou ao vento."

Para a prova que está mesmo, mesmo à porta, os Iron Brothers quiseram construir uma bicicleta de raiz, inspirada na bicicleta dos irmãos Pease, já que foram eles que espoletaram tudo isto. "Nós não podíamos ter uma bicicleta que tivesse a cadeira atrás porque o Pedro não consegue comer nem beber sozinho. A bicicleta tinha de permitir que eu estivesse à distância de um braço dele. Só que mandar vir uma custava perto de 20 mil euros. Era impossível. Então lançámos um pedido de ajuda e fomos contactados por duas pessoas que disseram que faziam. Escolhemos o Rodrigo Coelho que, além de desenhar, trabalhava na fábrica que faz as bicicletas da Decathlon. Depois foi preciso procurar apoios. E tivemos muitos, felizmente. O Hospital da Luz ofereceu 4 mil euros para a bicicleta, porque era esse o valor que estimávamos que custasse. Afinal custou bem mais..."

Miguel é perseverante. Insistente. Persistente. Há quem lhe chame teimoso. O certo é que não desiste. Perseguiu todas as empresas de que se lembrou ao longo de meses. Tocou a todas as portas. Várias vezes. "Todos os dias dedicava uma hora do meu dia para isso." Ai de quem lhe diga que não consegue isto ou aquilo. É certo e sabido que vai conseguir. Nos últimos três meses, a sua vida tem sido uma loucura, para conseguir ter a bicicleta pronta a tempo. Infelizmente os desenhos que eram para ter ficado prontos em Abril só lhe chegaram em Agosto e só então se começou a sua construção. Só há duas semanas é que Miguel conseguiu ir fazer o treino com a bicicleta nova e terá sido o dia mais duro da sua vida: "Não sou nada de me queixar mas foi mesmo muito difícil. Levei o peso equivalente ao do meu irmão (para lhe poupar a viagem) e, tudo junto, eu, a bicicleta e o meu irmão, são 150kg que tenho de transportar. Nunca sofri tanto na vida. Subir a estrada da Lagoa Azul com tanto peso é realmente muito puxado."

A mulher de Miguel não se queixa mas ele sabe que tem feito falta em casa. Treina de manhã, treina ao final do dia, treina aos fins-de-semana de manhã. Nos últimos três meses andou de um lado para o outro por causa da construção da bicicleta, entre o Algarve e Coimbra. O telefone toca com novos apoios, perguntas, situações, imprevistos. É como um trabalho a tempo inteiro, sendo que ele não tirou uma licença. Nem se percebe bem como consegue, mas para ele não há impossíveis. A partir do momento que se compromete... a coisa dá-se. 

E a coisa está mesmo prestes a dar-se. Faltam 7 dias para o grande dia. No próximo domingo, 29 de Setembro, Miguel e Pedro vão completar o seu primeiro Half IronMan juntos. Pergunto se tem algum objectivo de tempo para cumprir. Miguel sorri e responde: "Se me perguntasses isso há uma semana diria que queria acabar em 6 horas e meia. Agora, e depois de ter feito aquele treino duríssimo, digo-te que o meu objectivo é só mesmo acabar. Também tenho aprendido a desfrutar do desporto sem ter de ser o melhor da minha aldeia. Quero divertir-me com o meu irmão e aproveitar o privilégio de poder estar com ele tantas horas seguidas. E homenagear os meus pais, que são o meu grande exemplo. O nosso grande exemplo."

Boa sorte, rapazes! Estamos a torcer por vocês.

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Acompanhem as aventuras dos Iron Brothers AQUI ou AQUI.

Não se morre nunca quando se é boa gente

No sábado homenageámos o Vasco. O Vasco deixou-nos no início do mês, depois de travar uma brava luta contra o cancro. Mas, como disse o Frei Bento Domingues, "morrer é só não ser visto". Quer isto dizer que, apesar de não ser visto, o Vasco continua - e continuará - por cá, dentro de cada um de nós, nas memórias que temos dele, nas fotografias, nos vídeos, nas inúmeras histórias que todos temos para contar sobre ele, e sobre o modo como tocou cada um de nós. 

Este sábado a casa dos meus amigos encheu-se, como eu sabia que se ia encher, e foi uma festa bonita e comovente. Não houve lágrimas (vá, só uma ou outra quando uma ou outra foto das que iam passando em loop amachucava mais um ou outro coração), mas houve partilha, houve risos, houve memórias. E houve a certeza de que, quando se semeia amor e amizade como o Vasco semeou, o que se colhe é a eternidade. Creio que este privilégio não acontecerá a quem não tem o coração grande, a quem não saiba dar-se aos outros, a quem não saiba amar. Talvez esses, os que - por uma razão ou por outra - fizeram da sua vida uma terra seca, infértil, árida, talvez esses estejam condenados a morrer quando morrem. Porque não ficam vivos dentro de ninguém. Agora... o Vasco? Vivíssimo durante todo o tempo em que as centenas de amigos continuarem por cá, vivíssimo durante o tempo em que os filhos dos amigos viverem e recordarem o tio ou, pelo menos, as festas incríveis em homenagem ao tio. Um bocadinho como o filme "Coco", lembram-se? Enquanto nos lembrarmos de quem partiu, a morte não vencerá. É este o segredo da imortalidade. Não se morre nunca quando se é boa gente. 

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