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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Balancés: o equilíbrio entre o bem e o mal

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Fotos: Christian Chavez/AP

 

Chamam-se Ronald Rael e Virginia San Fratello, são arquitectos e professores, e acabam de entrar na minha lista de heróis. Foi deles a ideia, agora tornada realidade (esta segunda-feira), de construir balancés através do "muro" que faz fronteira entre os Estados Unidos e o México. Assim, crianças e até adultos separados por um muro que tem sido palco de mortes e detenções violentas, podem brincar "juntos", cada um do seu lado do gradeamento. Ronald Rael postou um vídeo no Instagram e escreveu que esta era uma das mais incríveis experiências da sua carreira e eu não duvido. O filme, de crianças a brincar com um longo e alto gradeamento entre elas, é o símbolo máximo de até onde chega a estupidez humana em contraste com a inocência e pureza infantis. É lindo e trágico, ao mesmo tempo. É o maniqueísmo no seu esplendor: o mau e o bom, a felicidade e a tristeza, a crueldade e a candura. 

Eis o vídeo, que o The Guardian publicou no Youtube, com os devidos créditos ao autor, Ronald Rael. E digam lá se isto não é das metáforas mais fortes que viram nos últimos tempos sobre o estado em que está o mundo.

Mateus, o fanático

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O meu filho mais velho deu cabo do meu filho mais novo. Poder-se-ia pensar que a frase anterior não passa de uma hiperbolização típica de quem quer cativar o leitor para o resto do texto, mas não. A verdade pura e dura é esta: o meu doce benjamim foi arruinado pelo meu garboso primogénito. Porquê? Porque o Manel, na ânsia de incutir no irmão a sua doença sportinguista, acabou a conseguir disseminar também a doença mais genérica, mãe da outra, que é, nem mais, a doença pelo futebol. Os mais apaixonados pelo chamado desporto-rei poderiam insurgir-se agora, irados pela afirmação de que transmitir este interesse equivale a destruir a criança, homessa!, desde que com conta, peso e medida, trata-se sem dúvida de uma bela "herança" que lhe deixa o irmão. Pois sim, tudo muito lindo. Mas é aí mesmo que a porca torce o rabo (neste caso o porco), na parte da conta, do peso e da medida. É que o Manel fala de futebol ao pequeno de manhã, à tarde e à noite. E o caçula, neste momento, já nem sabe falar de outra coisa. É vê-lo de manhã, à tarde e à noite a elencar jogadores, a pedir para ver jogos antigos no Youtube, a analisar jogadas e transferências. Tem 4 anos, relembro.

Há pouco, a minha mãe ligou-me só para contar, entre gargalhadas, o que tinha acabado de acontecer:

Parece que o Manel tem estado, nos últimos tempos, focado em ensinar ao petiz quem são os treinadores que interessa conhecer. E o Mateus, como bom aluno que se tem revelado (pelo menos nesta única matéria, que para já ainda não possui outras), lá repete os nomes até os fixar. Hoje, satisfeito por ter conhecimentos recém-adquiridos, abeirou-se da avó decidido a testá-la (e a exibir-se):

- Vó, sabes quem é o treinador do Porto?

A avó, exausta do mono-tema, respondeu um enfadado:

- Sei, Mateus. É o Sérgio Conceição. Mas olha, está na hora de aprenderes outras coisas, para não estares sempre a falar do mesmo. Sabes quem foi o primeiro rei de Portugal? Foi D. Afonso Henriques!

O Mateus olhou a avó, com aparente interesse, e respondeu:

- Ah. E qual era o número da camisola dele?

 

As grainhas sabem nadar, yô!

A história foi contada pela minha mãe, que está com os netos todos na casa de férias:

O Mateus estava a comer uvas numa tigela com água. Abria os bagos e tirava a grainha. Às tantas pergunta:

- Por que é que os caroços não se afundam?

A avó respondeu:

- Eeeer.... olha, não sei. 

Ele pensou um pouco e concluiu:

- Já sei! Têm braçadeiras!

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"Ah, as pessoas já não têm paciência para ler reportagens tão grandes..."

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Felizmente, tenho confirmado que não é verdade. Sempre que publico um "Mudar de Vida" noto que há imensa gente a ler e a comentar. E esta reportagem que fiz, e que é absolutamente gigantesca (tem 30 mil caracteres), foi lida, relida, partilhada, comentada. Prova provada de que há ainda quem tenha paciência para ler reportagens grandes, venham elas em revistas, jornais ou blogues. Eu acredito que o minimalismo do Instagram vai acabar por cansar. Acredito que o levezinho, o belo, o perfeito, o glamoroso não chega para nos alimentar a alma. É giro, é fixe para ir fazendo scroll down, mas não chega. Há histórias que nos fazem sentido, que nos tocam, que fazem vir ao de cima o melhor de nós. Há vidas que parecem as nossas ou podiam ser as nossas ou ainda bem que não são as nossas. Há sempre pessoas com tanto para contar. E felizmente há por aí muita gente com vontade de as ler. 

Parar, respirar, viver

Escrevi um texto parecido com este no Instagram (mais curto, assim a natureza da rede social "obriga") mas não queria deixar de escrever também aqui, porque há quem não tenha IG e há quem só me siga por aqui e, afinal de contas, foi por aqui que tudo começou.

Durante muito tempo, vivi a correr. Sofregamente. Só sabia existir assim. Quanto mais fazia, mais me sentia realizada. Ou pensava que sentia. As pessoas surpreendiam-se com o tanto que eu fazia. E quanto mais as pessoas se revelavam surpreendidas, mais validada eu me sentia. Ou pensava que sim.

Nunca fui dada à contemplação, no sentido de me obrigar a ter tempo para contemplar, para parar, para apenas reflectir. Andei anos e anos da minha vida como um ratinho na roda, a correr e a correr e a exibir ao mundo todos os meus muitos afazeres, como se só o aplauso externo me realizasse, como se só assim tivesse a garantia de que era válida, completa, próxima de uma "perfeição" que eu própria inventei para mim. Mas depois vieram tragédias avassaladoras na minha vida e a dúvida instalou-se: o que raio ando eu a fazer aqui, afinal? 

Foram precisos dois anos e meio de psicoterapia para aprender que não preciso provar nada a ninguém e que o modo "hamster" não me traz qualquer felicidade. Contemplar passou a fazer parte dos meus dias. E quando me perguntam em que mil projectos estou envolvida (porque a exaustão se tornou um símbolo social de sucesso), sinto um prazer absolutamente libertador em responder: "Pouca coisa. Só o que me faz sentido" (o que não é inteiramente verdade, porque tenho de ganhar a vida, mas o certo é que nunca mais fiz os mil projectos ao mesmo tempo por que era conhecida). É sempre delicioso observar a expressão confusa do meu interlocutor (seja ele quem for) porque no mundo em que vivemos só é alguém de valor quem está em burnout ou a caminhar a passos largos para lá.

Partilho isto porque acho mesmo que toda a gente devia cuidar da saúde mental tal como cuida da saúde do corpo (e é lamentável que, no SNS, ainda lhe dêem tão pouco valor). E não, não é preciso estar louco, não é preciso ser desequilibrado ou neurótico. Basta estar perdido e triste. Ou só a precisar de uma reorganização, uma espécie de reset. A ninguém passa pela cabeça não tratar de uma perna se estiver partida, mas muitos ainda acham tonto e desnecessário cuidar da mente quando ela está perdida. E é pena. Porque pode ser a diferença entre fingir que se vive e... realmente viver.

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Camp Abilities agora em "revista" (porque tenho um marido incrível)

Eu, o Martim, a Mada e o Mateus estamos em Monchique. Ontem à noite fui dormir às 23h e desejei que corresse bem o treino de rolos que o Ricardo, em Lisboa, disse que ia fazer. Hoje de manhã tinha uma mensagem dele, enviada ontem à meia noite e meia, com um link com a minha reportagem sobe o Camp Abilities em formato revista. "Esta foi a minha bicicleta desde que cheguei a casa até agora. Não está brilhante mas se achares bem acho que vai facilitar a leitura". 

Nem tenho palavras.  Obrigada é pouco mas já é um começo. 

 (não, ele não tem irmãos...)

CLIQUEM NA IMAGEM PARA VEREM A "REVISTA" TODA.

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Uma coisa importante que não disse mas que preciso dizer: esta colónia carece de muita ajuda. Há por aí tantas empresas que se podiam associar... os contactos da associação estão no fim. Terei todo o gosto em dizer que são as maiores por terem apoiado a AAMA e este campo de férias que faz mesmo, mesmo a diferença.

 

Camp Abilities: "Aqui aprendemos que é possível ver sem olhos"

Marta está sentada em cima da prancha. Tem os olhos postos no mar, dir-se-ia que o contempla. E é verdade. Só que não é com os olhos. Marta tem 14 anos e nasceu cega. "Nasci com amaurose congénita de Leber e por isso nunca vi. A vida sempre foi assim para mim." Talvez por isso ou porque os pais sempre a ensinaram a ser tão autónoma como se visse, é fácil esquecermo-nos que Marta não contempla o mar com os olhos, mas com o corpo inteiro. E ainda mais fácil se torna esse engano quando a vemos em cima da prancha, a apanhar ondas, com a destreza que os visuais creem ser só sua, numa arrogância que rima com ignorância. Marta é campeã europeia de surf adaptado e é a terceira melhor do mundo inteiro. 

Ao seu lado, na praia do Castelo, há muitos cegos e outros tantos normo-visuais (que serão designados, a partir daqui, apenas por visuais) prontos a experimentar uma aula de surf. Alguns pela primeira vez, outros a repetir. Ao todo são 44 crianças e jovens que participam num campo de férias completamente diferente de todos os outros. Chama-se Camp Abilities Portugal e é uma adaptação de um modelo americano de colónias de férias para jovens com deficiência visual com apoio individual. A diferença é que o campo originalmente criado por Lauren Lieberman em 1996, em Nova Iorque, tem um monitor adulto para cada criança cega. A colónia criada pela AAMA (Associação de Actividade Motora Adaptada) em 2015 tem uma criança visual por cada criança cega. É o primeiro campo do país em que os monitores são crianças e é essa diferença que faz desta colónia um lugar mágico. Não só os miúdos cegos sentem uma maior proximidade com os seus monitores, com toda a envolvência que essa empatia promove, como os miúdos que vêem recebem ali grandes lições que levam para a vida. Dos 44 participantes, 22 são cegos, 22 são visuais. Há 11 rapazes e 11 raparigas cegos; 11 rapazes e 11 raparigas visuais. Os cegos podem repetir a experiência até ao ano em que perfaçam 18 anos. Os outros só podem ir uma vez.

Guilherme, 16 anos, é o monitor da tarde de Abulai, de 13 anos (os monitores mudam duas vezes por dia para que todos se dêem e para que ninguém fique preso a um companheiro com quem não sinta empatia ou, pelo contrário, para que não se formem relações tão intensas que não sobre espaço para novas interacções). Estão ainda na areia, a aprender os movimentos necessários antes de se fazerem ao mar. Pega-lhe na mão, cuidadosamente, e leva-o a sentir a prancha de surf. A superfície, o rebordo, o bico. Explica-lhe os movimentos, conduz o seu corpo pouco hábil levando-o deitar-se, levantar-se, dobrar os joelhos para ficar em posição de equilíbrio. Abulai responde com a cabeça que sim ou que não às perguntas que lhe são feitas. Abulai não fala. Ou melhor, fala com dificuldade mas no campo optou pelo mutismo total. Não proferiu uma única palavra. Rita Costa, presidente da AAMA e mentora do Camp Abilities Portugal, explica que não é o primeiro: "Temos aí outro miúdo que no primeiro campo não abriu a boca, no segundo campo disse umas palavras, e hoje fala pelos cotovelos. Há crianças e jovens que têm pouca interacção, pouco estímulo na vida de todos os dias, e que reagem assim, à defesa." O silêncio como uma espécie de concha protectora. 

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Na água, Abulai sorri. O corpo, pouco acostumado à vastidão da água, começou por estar retraído, mas foi-se soltando como num regresso a um meio familiar, seguro. Parece um contrasenso, porque o mar é tudo menos segurança e familiaridade. Mas para Abulai e para muitos cegos a sensação de liberdade do mar traz consigo paz e remanso. Abulai desliza pelas ondas até à areia com uma expressão de alegria que já ninguém lhe tira. Ao lado havia miúdos cegos que nunca tinham ido à praia. Claudina, de 15 anos, por exemplo. Depois da aula de surf, Claudina pediu se podia ir ao mar, sem prancha, "tomar banho com o corpo todo". Mamadu, 8 anos, também nunca tinha ido à praia e, ao sentir o mar nos pés, exclamou: "Ah! Mas isto é mesmo muita água! Muita água..."

Nas ondas, Marta mostra como se faz. Os que a podem ver olham-na com espanto e respeito. Os cegos ouvem os relatos sobre os feitos da companheira de campo e alguns hão-de pensar que se ela consegue eles também podem conseguir. "O surf surgiu na minha vida há dois anos. Sou de Viana do Castelo e costumava andar de skate à porta do café da minha mãe. Uns professores do Surf Clube de Viana viram-me e disseram que se sabia andar tão bem de skate podia tentar o surf. Eu, que sempre gostei de desporto, aceitei o desafio. Comecei a treinar e rapidamente fui chamada à Selecção. E foi assim que me tornei campeã." Para quem não sabe, fica a explicação: o surf adaptado é igualzinho ao surf "normal". A única diferença é que, nas provas, o treinador está com os atletas dentro de água, para ser os seus olhos (mas não lhes pode tocar). Tudo o resto é igual. "A minha mãe não consegue ver as minhas provas e fica muito aflita. Mas foram eles, foram os meus pais que me deram toda esta autonomia. Quando eu nasci e eles perceberam que eu era cega quiseram que tivesse as mesmas oportunidades que a minha irmã, que é visual. Sempre fiz tudo: equitação, natação, goalball... sou aluna de mérito e excelência na escola e a minha disciplina preferida é a Matemática. Gostava de ir para Ciências mas, assim como os meus pais me ensinaram que podia ser uma pessoa normal, também me ensinaram desde sempre que não podia fazer tudo, tudo o que quisesse. Ser médica, por exemplo, não está ao meu alcance. Os professores dizem-nos sempre que se tivermos boas notas podemos ser tudo. Nós, cegos, não podemos. Mesmo com as melhores notas. E isso é frustrante. Mas pronto, é a vida. Agora tenho de escolher, dentro da área de Ciências, algo de que goste e que seja simultaneamente possível."

Nem todos os cegos no campo de férias têm a autonomia da Marta. Há aqueles que, nascidos em famílias menos favorecidas, são menos estimulados, há os que são demasiado protegidos porque os pais têm medo do que lhes possa acontecer, há os que, além da deficiência visual, têm outros problemas de desenvolvimento. É também por isso que o autêntico "Tetris" que a equipa de 7 coordenadores faz diariamente, para conjugar pares de cegos/visuais, é tão importante. "É crucial saber 'casar' uns e outros. Um exemplo: se de manhã um visual tem pela frente um cego difícil, pouco autónomo ou mais fechado, tentamos à tarde pô-lo com um cego totalmente diferente. Para que ninguém sinta que isto é mais do que consegue aguentar. Para não ser demasiado desgastante, frustrante", explica Rita Costa.

Mas a chave de tudo está na escolha das crianças que irão ser monitoras. Alguns pais não percebem, julgam que basta querer que os filhos vão, ou que basta os próprios filhos manifestarem o desejo de frequentar o campo. É um bom princípio, sem dúvida. Mas não basta. Há uma primeira entrevista, que pode ser logo eliminatória (ou não), e um teste na piscina. "Os visuais têm de ser mesmo miúdos muito especiais. Não quer dizer que os que não ficam não sejam óptimos miúdos, cheios de qualidades. Mas para fazerem esta colónia têm de ter uma responsabilidade acima da média. Têm de ser generosos, simpáticos, descomplicados e têm de gostar muito de desporto uma vez que este campo é de desporto adaptado. Preferencialmente devem ser miúdos já com experiências várias de outros campos de férias. Os pais às vezes lidam mal com a rejeição dos filhos. Ficam ofendidos, acham que é inacreditável, quem é que eu me julgo para excluir assim miúdos que eles acham perfeitos? Tento explicar. Por vezes é apenas uma questão de maturidade, no ano seguinte muitos estão prontos. Outros nunca estarão."

Os que passam na entrevista nem sempre são bem sucedidos no teste da piscina. Os coordenadores observam o modo como os visuais se relacionam com os cegos no balneário, o modo como oferecem ajuda (ou não), como resolvem problemas que surgem, como o contacto com a intimidade. A sua e a do outro: "Na piscina, cerca de 50% de visuais são excluídos. Uns porque desistem, compreendem que aquilo não é para eles, outros porque falham no teste. Há imensos miúdos que bloqueiam, sobretudo no balneário. Tenho notado que há muitas crianças e jovens com muitas dificuldades na relação com o corpo. Não conseguem expôr-se em frente aos outros e congelam quando têm de ajudar os cegos a vestirem-se ou a despirem-se. Além disto, as actividades na piscina são exigentes, obrigam a uma proximidade e a uma interacção que, tratando-se de estranhos, é vista como intrusiva por alguns."

Vasco tem 14 anos e falhou duas vezes.

 

100 Lugares para conhecer Portugal com as suas crianças

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Passear com os filhos é construir memórias. Como poderia eu esquecer tantas viagens que fiz com a minha mãe, dentro e fora do país? A mais incrível de todas foi a viagem que fizemos pela Europa, só as duas, conhecendo (ou reencontrando) tantos países e tantos locais que me marcaram tanto. Por isso, quando fui mãe quis repetir o que foi importante para mim e mostrar-lhes o nosso país e também todos os bocadinhos de mundo que lhes conseguir mostrar. Por cá já fomos juntos para o Algarve (todos os anos), já fomos imensas vezes para o Alentejo, para a Madeira, para os Açores, para Trás-os-Montes, para o Minho, para o Douro... Às vezes eles protestam. Que estão fartos de andar de carro, que ver igrejas e espigueiros e miradouros. Mas depois as memórias que construímos são aquelas que ficam: "Lembram-se daquela vez quando fomos a uma piscina de água termal quente no meio de um frio desgraçado? E o fumo que aquilo deitava!!!!", "Lembram-se quando descemos nos cestos, na Madeira?", "E daquela vez que..." É sempre assim. Uma família que passeia junta unifica-se, aprende, deslumbra-se ao mesmo tempo, ri, sente nervoso miudinho com algumas peripécias que o desconhecido sempre traz. 

O jornalista Paulo Nogueira acabou de publicar um guia completo de lugares em Portugal a visitar com os filhos. Está dividido por regiões e é perfeito para levar no carro, quando se vai de viagem para qualquer sítio, para ir fazendo um "check" em todas as sugestões. Ou então para ter em casa e tirar ideias para o fim-de-semana, naqueles dias em que nos falta imaginação para saber o que fazer com eles. Porque mesmo quando torcem o nariz... acabam sempre por deixar imprimir novas memórias que os acompanharão para sempre. 

Férias da miudagem

Não é fácil lidar com tantas férias dos miúdos. Odeio dizer "no meu tempo" porque isso implica uma espécie de assunção de que este já não é o meu tempo (e se estou viva, este tempo é ainda meu também, homessa!), mas cá vai: "No meu tempo" gerir as férias não era assim tão complicado porque ficava com a minha avó a tomar conta de mim ou então passava os dias na rua com os meus amigos. Esta malta é mais complicada. A cena de brincar na rua está afastada e o pior é que mesmo que não estivesse acho que tinha de os empurrar para a rua porque o que mais querem é... ficar em casa a jogar ou a ver vídeos. Raça de gente mais esquisita. No outro dia o Martim contava-me que tem amigos que faltam aos jantares de aniversário porque preferem ficar a jogar. Say WHATTTTT???? 

Em bom rigor, se os deixasse ficariam todo o santo dia de roda de jogos e vídeos e telefones e o demo. Por isso, enquanto não vão para as semanas de férias com os avós, têm actividades programadas. A Madalena e o Martim estiveram uma semana num campo de férias (Sniper) e aí bem que podiam sonhar com as tecnologias que o que tinham era aventura ao ar livre e 30 minutos de telefones por dia. Na semana passada, ela foi para uma escola de surf e ele pediu muito para ficar em casa. Para não ficar todo o dia agarrado às máquinas, teve de fazer 1 hora de bicicleta por dia, ler um determinado número de páginas de um livro, teve de aprender uma música e saber tocá-la na guitarra no final da semana. E, entretanto, tem ido e continuará a ir esta semana fazer voluntariado umas horas por dia. Está entusiasmado como há muito não o via (de facto não há maior verdade do que aquela que diz que recebemos muito mais do que damos quando nos damos aos outros). 

Esta semana a Madalena também fica por casa e também terá actividades para fazer. Lamento mas era isso ou transformarem-se em pequenos zombies. Se uma pessoa não contraria esta tendência qualquer dia, além do osso a mais nas costas e de um polegar maior, ainda são capazes de deixar de saber falar.

E vocês? Também na luta para entreter criaturas desocupadas?

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