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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Madrid me mata

Não fazia mais nada da vida, se pudesse. Aliás, gostávamos mesmo muito de passar um ano inteiro a viajar com os nossos filhos, quando todos tivessem idade suficiente para se lembrar dessa aventura, mais tarde. Perdiam um ano de escola mas ganhavam seguramente muito (ou então até conseguíamos fazer tudo, não sei). Adiante.

Viajar a dois é gostoso mas viajar com todos é uma alegria. Estamos próximos, rimos, conversamos, experimentamos coisas ao mesmo tempo. Tínhamos esta ida a Madrid engatilhada há algum tempo. O Ricardo ainda não conhecia, queríamos levar os miúdos ao parque Warner e queríamos fazer a meia-maratona (eu já tinha feito há 4 anos). E assim foi. Marcámos nas agendas, reservámos casa bem no centro de Madrid na Homeaway e lá fomos. No primeiro dia foi só chegar e ir jantar a casa de uns amigos que vivem em Madrid, no segundo dia andámos 11 quilómetros a pé (o Mateus portou-se como um herói) e vimos os pontos principais da cidade (passeámos pela Gran Via, fomos aos mercados de San Ildefonso, de San Antón, fomos ao Círculo de Bellas Artes e subimos ao roof top que tem uma vista incrível, andámos pelo Bairro das Letras, espreitámos o mercado de San Miguel, fomos ver o Palácio Real e a Catedral, passámos pela Plaza Mayor).

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Mercado San Ildefonso

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Mercado San Antón

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Vista do terraço do Círculo de Bellas Artes

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Bairro das Letras

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Não me lembro onde foi mas a parede era linda

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Catedral

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Plaza Mayor

 

No terceiro dia fomos ao Parque Warner. No início foi difícil controlar o Mateus

 

Comentários brilhantes

Há muito tempo que não fazia isto: destacar um comentário pela sua estultícia. Mas este definitivamente é merecedor.

Sobre o facto de haver 58 inscritos no Clube de Leitura, escreve esta perfeita iluminada:

"Pois...Com tantas mordomias, bom hotel, experimente num sitio com cadeiras de pau,vai ver quantas respostas tem."

É esplêndido, verdade?

Portanto, 58 almas inscrevem-se para ir ao Clube de Leitura no Porto, não porque gostem de ler, não por terem lido, não por quererem ouvir falar de livros mas porque... querem ficar bem abancadas numa sala de hotel. Ali fechadinhas, em círculo como nos AA, a aturar ouvir falar de livros, apenas e só para poderem dizer que estiveram de rabo bem acomodado numa cadeira fofa.

Sobre as mordomias que supostamente vão existir... minhas boas pessoas, não se iludam. Não vai haver banquete real, faisões, perdizes, lagostas, champanhe ou caviar. Não serão servidas iguarias em porcelana  de Limoges, não sairá do armário o faqueiro de prata. Não vai haver senhores fardados (ou nus) a abanarem-vos com grandes penas, se porventura a canícula apertar. Se estavam a contar com este cenário... então o melhor é retirarem o vosso nome da inscrição. Só cadeiras (possivelmente não de pau) e livros.

Há pessoas que não se endireitavam nem com a leitura de 2 mil livros, benza-as Deus. Nem sequer com uma cadeira de pau pela cabeça abaixo. 

Uma alergia não é uma coisinha sem importância. É preciso tratá-la com respeito. Uma alergia pode ser... uma Senhora Alergia

Tenho sabido de cada vez mais casos impressionantes de alergias. Não sei se estão a aumentar ou se se fala mais neles mas a verdade é que há alergias que são graves, tão graves que podem levar à morte e, por isso, nunca é demais alertar para isto. Por vezes confundem-se intolerâncias alimentares com alergias e não é, de todo, a mesma coisa. No caso da alergia alimentar, existe uma reacção do sistema imune contra as substâncias presentes nos alimentos. A reacção do nosso organismo pode ser ligeira (urticária, inchaço da pele, dores de barriga, vómitos ou diarreia) ou muito grave, tão grave que pode lecar à morte em minutos - estas reacções graves e sistémicas chamam-se Anafilaxia. Os sintomas da anafilaxia são: dificuldades respiratórias, sensação de aperto na garganta, queda da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca, perda de consciência e... morte. 

A Sofia é médica imunoalergologista e tem três filhos. Numa daquelas ironias com que o destino por vezes nos brinda, aconteceu que esta médica imunoalergologista (repito para que fique reforçada a sua especialidade) tenha um filho com uma alergia grave aos ovos. Tão grave que já teve reacções anafiláticas que puseram a sua vida em risco. Para a sua sobrevivência, anda sempre com uma injecção com ele (Epipen). E isto, meus amigos, não é pera doce. Saber que o que comemos pode matar-nos é algo que tem de ser interiorizado por estes miúdos desde cedo e pela comunidade. Às vezes as pessoas, por confundirem alergias com intolerâncias (ou simplesmente por ignorância do quão fatal pode ser uma alergia) descuram cuidados básicos. Há pessoas que não podem sequer comer algo que tenha estado em contacto com o alimento a que são alérgicas. Por exemplo: uma colher de pau, que tenha mexido o alimento a que se é alérgico, pode ser suficiente para fazer estragos severos. Apenas pelo contacto. Há quem seja tão alérgico que não possa nem passar perto (uma prima de um amigo meu não podia sequer passar à porta de uma marisqueira, que ficava um bicho!)

Posto isto... vão até ao Senhora Alergia, no Facebook e no Instagram, para saberem mais sobre alergias, para descobrirem formas de lidar com este problema, encontrarem truques, receitas, marcas de produtos. Por lá, podem mesmo ficar a saber como se administra a injecção de adrenalina na coxa, numa situação de emergência.

Esta plataforma fazia muita falta em Portugal, para ajudar as famílias que passam por isto! 

No Facebook: https://www.facebook.com/senhoraalergia/

No Instagram: @senhora_alergia

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Test drive: Citroen C5 Aircross

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Para ir até ao Douro levei um Citroen C5 Aircross que a marca que me cedeu para um test-drive. Comecei logo por gostar do aspecto do bicho. Que lindo, caneco! Nem gosto particularmente de carros brancos mas este é tão giro que nem perde a graça mesmo em branco. É alto e tem pinta, até parece um jipe todo raçudo. Gosto de carros altos - parece que vejo o mundo com outros olhos lá de cima. E este é tão alto que levou duas funcionárias das portagens a perguntarem-me se era Classe 1. Duas. Imaginem bem o aspecto grandalhão que este SUV não tem.

E não é só o aspecto. Por dentro é mesmo muito espaçoso. Tem 3 bancos traseiros totalmente independentes e ajustáveis e muito espaço para as pernas. A bagageira é um sonho. Como cá em casa temos um carro de 7 lugares estamos acostumados a olhar com tristeza para a bagageira (e quando vamos de viagem temos sempre de levar um malão no tejadilho). Este SUV tem uma mala gi-gan-te. Tem 1,90m de comprimento, imaginem só! Acho que vale mais dizer as dimensões em comprimento do que em capacidade de litros (eu, pelo menos, fico sempre na mesma quando me falam em litros de bagageira - mas para quem saiba destas coisas trata-se de uma bagageira com capacidade até 1630 litros). E o conforto? As costas ficam ali tão bem acomodadas que mais parece que estamos no sofá da sala. Nem me cansei tanto apesar da viagem ter levado umas três horas e meia. Também deve ter ajudado o facto de ter umas suspensões todas XPTO. Claro que fui em Autoestrada mas depois, lá na quinta onde fiquei, andei por montes e vales e senti que o carro mal abanava apesar do piso irregular. Eles lá me explicaram que é tudo graças às "suspensões com batentes hidráulicos progressivos" e também graças aos bancos "Advance Comfort". Desses detalhes só poderão mesmo falar os especialistas automóveis mas que senti o conforto... isso senti.

Depois, adorei o facto de ter mudanças automáticas. Neste momento não tenho carro (vendi o meu e tenho apenas mota porque não se justificava mesmo) mas se voltar a ter quero um de mudanças automáticas. Que descanso, senhores! Não há cá pé na embraiagem, mão nas mudanças, uma abaixo, uma acima, a sexta que a pessoa se esquece de meter... o carro é que decide e parece-me lindamente. 

E o carro decide mais coisas por nós: como vem equipado com aquelas mariquices novas tipo Drive Assist, se nos desviarmos da nossa faixa, ele volta a pôr-nos no sítio (faz uma forcinha para nos endireitar a direcção) e às vezes chega a mesmo a fazer soar um alerta sonoro e a mandar-nos segurar no volante. Só faltou sair uma mãozinha e dar-me uma chapada: "Tás burra ou quê? Põe-te sossegada na tua faixa e olhos na estrada, minha menina!" Espertíssimo, benza-o Deus. Em caso de ligeira distracção, é bom saber que não vamos parar à ribanceira mais próxima. 

Ah, e ainda consegui sincronizar o meu telemóvel com o carro sem precisar de ajuda. Podem pensar que isto não tem nada que saber mas - acreditem! - quando se tem um certo nível de infoexclusão (como aqui a avó) fazer isto sem começar a suar do bigode não é de somenos. 

Passou pois com distinção, este Citroen C5 Aircross. Obrigada pela confiança!

Retiro

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Na semana passada estive uns dias no Douro, sozinha. Fui para poder escrever mas apreciei o facto de estar sozinha, de não ter de falar com ninguém nem de ouvir ninguém. E assim estive, posta em sossego, por 3 dias. Nem todas as pessoas gostam de estar consigo próprias. Muitas pessoas me dizem que não saberiam o que fazer, sozinhas, e que lhes faz sempre falta alguém por perto com quem comentar o que vêem, o que sentem, o que vivem. Eu adoro estar sozinha. Talvez pelo facto de estar sempre tão acompanhada, e de a minha vida ser um festim de gente, mas na realidade não sei se só por isso. Cresci bastante metida comigo. A minha mãe trabalhava muito, mesmo depois de sair do emprego (era tradutora e ainda consigo escutar o som da máquina de escrever a matraquear na minha cabeça), e eu ficava muito tempo no meu quarto, sozinha, no meu mundo. Foram muitos anos disto, pelo que o silêncio faz e sempre fez parte de mim. Hoje, com 4 filhos, sinto-lhe muitas vezes a falta, ainda que repita de mim para mim que é preciso apreciar o barulho porque um dia eles vão-se embora e vão ficar as saudades de uma algazarra constante.

Fiquei por três dias mas confesso que ficava mais tempo. Por um lado porque me dava jeito, para escrever mais (quando se tem casa cheia fica mesmo difícil), e por outro porque só no terceiro dia comecei a caminhar mais devagar, fiquei mais tempo sem tocar no telefone a ponto de me esquecer dele toda uma manhã, contemplei a paisagem com outra calma. Há um desaceleramento que leva o seu tempo a acontecer e a dar os seus frutos.

Posto isto, não posso deixar de agradecer ao meu homem, que ficou - e mais tempo ficaria - com os nossos miúdos, encarregue de toda a logística sem pestanejar. É, de resto, pelo facto de os saber tão bem entregues que não me custa tanto deixá-los como quando vamos os dois juntos. Não é que não os deixemos bem entregues quando vamos os dois mas ficarem com o pai é como ficarem comigo. Quase nem dão pela minha falta.

  

Clube de Leitura no Porto: 10 de Maio!

Já temos data e local para o primeiríssimo Clube de Leitura no Porto! Yeyyyy!

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Ora então vai ser no dia 10 de Maio, uma sexta-feira, a partir das 19.30, no Hotel Vila Galé Porto (Avenida Fernão de Magalhães, nº7). Podem ler o livro que quiserem e a ideia é encontrarmo-nos para conversarmos sobre o que lemos. Depois, se quiserem, escolhemos um livro só para debatermos no próximo encontro. Conto convosco? Estou curiosa para saber como vai ser. Não me vão deixar sozinha, pois não? Em Lisboa já temos uma pequena comunidade, que não já dispenso na minha vida. Será que vou criar outra família no Porto?

Pedia-vos que se inscrevessem, no formulário em baixo. Não é vinculatório, ninguém vai atrás de vocês se se inscreverem e não aparecerem, mas é mesmo só para ter uma ideia daquilo com que posso contar. 

Obrigada ao Vila Galé Porto pelo acolhimento! Os hotéis Vila Galé já estavam no meu coração por muitas estadias inesquecíveis, agora então fazem mesmo parte dele!

E, claro, obrigada, uma vez mais, à MultiOpticas por se ter apaixonado pelo Clube de Leitura e por ter alinhado nesta minha ideia já antiga de o levar também para o Porto. Estou convosco e não abro!

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Mudar de Vida #17: Raquel Ruiva

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"Senhoras e senhores... a miss Portugal é..." E Raquel Ruiva sonhava - acordada - que recebia, com os olhos a tremer de emoção, a coroa, o manto e o ceptro que lhe confirmavam a beleza. Sempre que a RTP emitia mais uma edição do concurso que elegia a mulher mais bela do país, Raquel não descolava o olhar e a atenção do ecrã e suspirava pelo dia em que seria ela a escolhida. 

Os anos foram passando e as ideias de viver da beleza foram ficando guardadas no baú das memórias que se contam aos filhos e netos e em entrevistas como a que deu origem a este texto. Raquel era boa aluna e decidiu seguir Gestão. Entrou no ISEG com média de 17,8 e a sua praxe foi andar com o notabilíssimo número escrito na testa. A maior parte dos colegas tinha dificuldade em entender que aquela rapariga, que tinha média para entrar na Universidade Nova (sempre tão desejada), tivesse optado pelo ISEG por questões ideológicas: "Como muitos jovens tinha ideologias mais à esquerda e por isso meti na cabeça que a Nova não era para mim. E como sou de vestir a camisola, passei a sentir que o ISEG era a minha casa e defendia-a com unhas e dentes. O meu desporto preferido da altura era picar-me com pessoas da Nova."

Depois do curso de Gestão, especializou-se em Marketing porque sempre se sentiu mais comercial do que financeira. E em 2002 entrou para a Deloitte, onde ficou 8 anos. Em 2008 foi para Angola, pela Deloitte: "Gostei muito de estar na Deloitte. Não se tem vida, é verdade, mas eu sabia que se temos de dar à perna é nesta fase da vida. Sempre tive essa consciência. E a Deloitte é uma daquelas empresas em que até podemos começar por não ganhar muito mas se fizermos a nossa parte podemos ter a devida compensação."

Em 2009, Raquel recebeu um aliciante convite para ser Directora Financeira da Toyota em Angola. E foi também nesse ano que conheceu o Afonso, que viria a ser o seu marido, e que era administrador de uma empresa também em Angola. Foram dois anos e meio de pura loucura. "Éramos como dois putos a fazer Erasmus, mas com dinheiro. Ganhávamos muito bem, divertíamo-nos muito, tínhamos muitos amigos. Era uma vida de sonho. Tínhamos uma casa com duas empregadas. Era um luxo."

Em 2012 vieram para Portugal porque já não aguentavam as saudades de casa. Queriam ter filhos e sentiam que só fazia sentido constituir família por cá. A diversão tinha sido boa mas agora era tempo de falar a sério. De assentar. "Quando voltámos eu não tinha emprego. As pessoas achavam que éramos malucos por voltarmos para um país em crise, logo nós que estávamos tão bem. Mas ainda bem que o fizemos. Foi na altura certa. Muitos amigos não vieram nessa altura e depois já não conseguiram fazer a transição. Além disso, antes de voltarmos, fizemos um plano a 5 anos prevendo os piores cenários. Até os filhos que ainda não tínhamos estavam naquela folha de Excel!"

Depois de regressar e responder a alguns anúncios, ela arranjou emprego como responsável financeira de uma pequena empresa de restauração mas entretanto engravidou e o ambiente tornou-se tóxico: "Os sócios contradiziam-se e ir trabalhar num ambiente de guerra era tudo o que eu não queria, ainda para mais grávida. Deixei de trabalhar e dediquei-me a ser grávida. Depois, o Vicente nasceu e dediquei-me a ser mãe."

Entretanto, juntou-se com um grupo de amigas que tinham o ideal de se juntarem a trabalhar em projectos em part-time ao mesmo tempo que tinham os filhos consigo. Era uma espécie de cooperativa de mães. Elas trabalhavam e as crianças estavam por ali, a brincar, a dormir a sesta, todos juntos. Uma dessas mulheres estava ligada à alimentação e nutrição, até escreveu um livro sobre a alimentação paleo e todas se surpreendiam com as caixas que a Raquel tinha para guardar os alimentos. Façamos então uma paragem aqui, para introduzir outro tema.

Raquel Ruiva sempre viveu rodeada pela Tupperware. A mãe quando se viu desempregada começou a vender cremes, primeiro, Bimbys depois, e por fim Tupperware. Passado um mês, a mãe era chefe de grupo e passado um ano era coordenadora. Em casa da mãe sempre houve Tupperware, nunca fakeware. "O meu irmão vivia em Inglaterra e, quando veio com a minha cunhada para cá, sem emprego, ela ficou a trabalhar com a minha mãe e o meu irmão posteriormente também se juntou, apesar de ser financeiro de uma empresa. Por isso, sim, a Tupperware sempre fez parte da minha vida. Mas nunca profissionalmente." Até ao dia.

Foi quando as amigas lhe perguntavam que caixa era aquela ou onde é que tinha comprado aquela caixa tão boa que Raquel pensou "e se?" E de tanto pensar "e se?" avançou mesmo e criou a Caixa Mágica, no Facebook, para vender Tupperware. E a partir desse dia, vestiu a camisola, tal como quando se picava com os alunos da Nova, para defender o "seu" ISEG. Algumas pessoas próximas e até amigas ficaram chocadas. Primeiro acharam que era uma situação temporária, uma espécie de gracinha, de part-time. Mas quando perceberam que Raquel estava empenhada e que a sua vida nova era realmente esta afastaram-se. "Há um certo preconceito. Eu era financeira, fui quadro de grandes empresas, e em vez de retomar esse caminho (e tinha convites), optei por tornar-me vendedora de Tupperware. Foi como se, para alguns, me tivesse tornado noutra pessoa. Mas não. Eu sou a mesma. E gosto realmente disto. Porque não é só vender. Há marketing, há todo o trabalho de formação da minha equipa, há o contacto com os clientes."

Raquel começou por ser vendedora mas depressa se tornou chefe de grupo e agora é team leader. Faz gestão dos grupos e dá formação contínua. Neste momento tem mais de 90 pessoas a quem dá formação:  "Estes são artigos de qualidade superior que requerem explicação porque uns têm uma especificidade, outros têm outra. Uns são para guardar alimentos cozinhados, outros são para guardar alimentos crus. E podem revolucionar a forma de armazenar alimentos, podem ajudar a que durem incomparavelmente mais, preservando as suas propriedades. E é preciso adequar a formação ao tipo de pessoa que recruto para o vender."

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O brilho do seu olhar, enquanto fala da Tupperware, é indesmentível. Por muito que por vezes seja estranho dizer que é vendedora da Tupperware quando lhe perguntam a profissão durante um jantar, por muito que não seja propriamente o que sonhou escrever no item "Profissão" nos boletins de matrícula da escola dos filhos, por mais que ainda perdurem olhares de "mas-como-é-que-esta-mulher-se-meteu-nisto", Raquel gosta genuinamente do que faz. "E tenho tempo para mim, para os meus filhos, não tenho de sair às tantas e sacrificar todos ou quase todos os momentos em família por conta de uma carreira numa empresa de topo." Além disso, é bem paga. "Sim, estou neste momento a ganhar o mesmo que ganharia na área financeira", acrescenta. O que, pensando bem, não é despiciendo para se acrescentar. Raquel termina a frase dizendo: "Não trocava a Tupperware, não. Nem pensar."

Em 2018 conquistou um patamar importante nesta nova carreira. "Fui a rainha-chefe de 2018, ou seja, significa que fui a primeira do país no que diz respeito ao recrutamento de novos vendedores, à retenção de vendedores e ao crescimento." E sabem o que implicou ser a rainha-chefe de 2018? Ser chamada ao palco, numa cerimónia com pompa e circunstância, e receber uma coroa, um manto e um ceptro. Lembram-se do primeiro parágrafo? Pois bem. Raquel conseguiu até cumprir aquele sonho infantil. Não foi Miss Portugal. Mas foi a rainha da Tupperware. Dito assim pode dar vontade de rir ("o meu marido gozou um bocadinho") mas dentro do contexto foi realmente um momento que fez sentido. E que pode repetir-se por vários anos, que ela nunca achará demais. Afinal, quem não gosta de ser premiado pelo seu bom trabalho? Ainda para mais quando esse trabalho representa uma nova escolha, um novo caminho, uma nova vida.

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