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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Clube de Leitura de Janeiro

Este mês não haverá clube de leitura aberto ao público.

Vamos ter um jantar com as pessoas que têm feito parte deste clube que completou agora mesmo dois anos, para comemorar tantos encontros e uma comunidade que se tornou mesmo, mesmo especial na minha/nossa vida. 

Para o mês que vem os nossos encontros mensais, abertos a todos os que queiram aparecer, regressarão. 

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Mudar de Vida #16: Ricardo Teixeira

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Andar de mota e fazer surf eram as únicas coisas que queria da vida. Tinha 17 anos e os dias corriam leves e felizes. Para Ricardo Teixeira a praia só fazia sentido se fosse para aquele confronto com o mar, aquela dança solitária que o fazia sentir-se livre, temerário, vivo. Nunca o viam deitado na toalha ou em convívio com os amigos. Praia era surf, ponto final parágrafo. Para lá chegar, claro, ia de mota. E não devia andar devagar porque todos vaticinavam que ainda ia morrer num acidente. Ricardo ria-se, não ligava. Queria adrenalina, queria desafiar-se, tinha 17 anos e aos 17 anos não se pensa cá em morte.

Um dia, quando ia experimentar uma prancha nova, encontrou os amigos das motas e decidiram ir todos juntos para a praia. Na brincadeira, um atirou-lhe areia. Ele foi a correr atrás. O outro atirou-se à água. Ele seguiu-o. Estava longe de imaginar o que aconteceria depois. "Dei o chamado 'golpe de coelho' na cervical. Senti logo que tinha sido grave. Não deixa de ser irónico. Sempre tive medo de mergulhos porque o meu pai tinha-me contado, uns dez anos antes, que um amigo tinha dado um mergulho que tinha corrido mal. Fiquei de tal modo impressionado com aquilo que deixei de andar na ginástica onde já fazia mortais e piruetas. Ganhei medo. E depois - ironia das ironias - num mergulho absolutamente banal para o mar, aconteceu aquilo."

Aquilo foi uma tetraplagia. Ricardo recebeu a notícia da pior forma possível. "Estava no hospital e apareceu uma psicóloga que me acordou a dizer que precisava de falar comigo. Depois perguntou-me se os meus pais tinham possibilidades financeiras. Quando quis saber porquê respondeu: 'Porque o Ricardo nunca mais vai andar e vai precisar de uma cadeira eléctrica porque nem força nos braços vai ter para fazer a cadeira andar.' Foi uma forma simpática de dar a notícia a alguém que tinha 17 anos e só pensava em motas, surf e skate."

Mas Ricardo é feito de uma fibra diferente. Talvez seja da fibra das pranchas, que resistem à violência da ondulação. E nunca precisou de cadeira eléctrica. Durante estes 20 anos (que já passaram desde o acidente) andou sempre de cadeira manual. Só há três anos passou para a cadeira eléctrica porque comprou uma carrinha adaptada onde a cadeira entra (e serve de lugar para o condutor) e sai, tornando-o completamente autónomo. Mas voltemos atrás, para continuar a demonstrar por que razão a fibra deste homem é especial.

Desde os 13 anos que Ricardo tinha uma skate/surf shop em Alverca. Bom, não era propriamente uma loja, que nem seria legalmente possível por se tratar de um menor, mas era um canto na loja da mãe que ele geria, sozinho. Os pais não interferiam e ele fazia negócio. Ia fazer compras a grandes marcas sozinho e levava o cheque assinado pelos pais que tinham nele toda a confiança. Não se enganaram. Sempre soube fazer dinheiro do dinheiro, como no milagre da multiplicação (só que nunca foi milagre, mas sim jeito para o negócio e muito trabalho).

Depois do acidente, largou a loja e dedicou-se à compra e venda de acções. Não sabia nada sobre a Bolsa ou sobre mercados mas rapidamente aprendeu e garante que ganhou muito dinheiro. Quando apareceu a internet, meteu-se por aí com a facilidade com que sempre se meteu em tudo. Começou a desenvolver páginas para empresas (na altura os sites chamavam-se assim) e voltou a ter sucesso. "Aos 20 anos tinha a minha casa e vivia sozinho. O acidente não me impediu de nada. Era na minha casa que desenvolvia os sites."

Fez o 12º ano e entrou no ISCTE. Mas, ao mesmo tempo, foi a uma entrevista na Microsoft e ficou logo lá a dar assistência técnica a clientes. Como tinha um emprego durante o dia na Microsoft e tinha a sua empresa a carborar nas horas que sobravam, não chegou a ir para a faculdade. Na Microsoft fez um projecto sobre novas formas de teletrabalho, que deu nas vistas: New ways of Working. O Bill Gates teve conhecimento do projecto e ganhou um prémio a nível europeu e vários prémios nos Estados Unidos. 

Passado um ano, despediu-se da Microsoft, arranjou um escritório em Lisboa e chegou a ter 15 funcionários a trabalharem consigo, na construção de sites. Foi abrindo várias empresas dentro do mesmo ramo, vendeu uma delas ficando accionista e, em 2010, achou que as agências de publicidade precisavam de um grande apoio a nível digital e criou uma produtora chamada Digital Works (que abriu também um polo no Reino Unido).

Em 2007 Ricardo abriu também a Jump Master, uma empresa de investimentos imobiliários. "Aproveitei a crise e comprei apartamentos, prédios, escritórios. Uns vendia, outros ficavam." Continua a ter essa empresa e no ano passado vendeu a Digital Works (que teve durante 7 anos). "Estava farto de estar na mesma área. Vendi e pensei: e agora? Não quero ficar a viver dos rendimentos... Fui ler o meu ficheiro das ideias. Tenho um sócio noutra empresa de investimentos imobiliários e fomos almoçar. Considero-o como um filho mais velho. Estávamos a bater bolas e, às tantas, contei-lhe a minha ideia. Ele deu um pulo na cadeira: 'Vamos avançar! Sou teu sócio nessa!'"

A ideia era totalmente diferente de tudo o que já tinha feito: uma casa de... frangos assados. Mas uma casa de frangos diferente: bonita, moderna, com pinta. E com preocupações ambientais. Onde se pudesse comer mas que também tivesse serviço de entregas. Era preciso reinventar o mercado. Ricardo pôs-se em campo. Montou o Business Case e percebeu que podia ser rentável. "Fiz um documento extensíssimo. Queria acabar com os plásticos e com os alumínios... Não queria ter carvão, que é nocivo para a saúde. Era preciso reinventar as caixas, era preciso reinventar as grelhas. Comecei a definir que só me metia nisto se conseguisse dar a volta a tudo o que me parecia desactualizado e mau neste segmento. Fui ter com vários chefs para saber como ter um frango bom sem carvão e sem fumo, como ter bons molhos, e o Joe Best disse que queria entrar no projecto e ficou como consultor."

E assim nasceu o Bairrista. A 9 de Agosto do ano passado, porque acharam que ia estar pouca gente e que, assim, podiam ir-se preparando para maior fluxo de clientes. Nesse dia tiveram a visita de mais de cem pessoas e, no segundo dia, receberam duzentas. 

O que distingue o Bairrista das outras casas de frango? Bom, tudo. Para começar, o espaço é tão acolhedor que apetece comer lá dentro e, como não há fumos, não se corre o risco de sair de lá com... um perfume novo. A segunda diferença é mesmo essa, o facto de não haver fumo. "Conseguimo-lo com grelhadores ao contrário. Ou seja: em vez de estarem em baixo, com carvão e brasas, estão em cima. Em baixo temos água. Assim não há fumo e muito menos carvão, que só nos faz mal." Quanto aos frangos, são criteriosamente escolhidos. "Nunca tive um frango congelado. Recebemos frangos todos os dias frescos. São abatidos 24 horas antes." As batatas fritas também são diferentes. São fritas em gordura vegetal e, para ficarem secas e não ensopadas em gordura, passam por um secador mal acabam de fazer. Depois, a outra grande diferença tem a ver com o ambiente. Todas as caixas são em papel. Tão giras que as pessoas têm pena de as deitar fora.

Ricardo é casado e tem um filho que vai fazer 5 anos. Ao filho tem muito para ensinar, não apenas a mexer-se no mundo dos negócios, como também a viver a vida sem se deixar vencer pelas adversidades. Quando conversamos com o Ricardo rapidamente esquecemos que está sentado numa cadeira diferente da nossa. E quando estamos de pé ao lado dele nem nos lembramos que ele segue o caminho num plano mais abaixo. É como se estivesse exactamente ao mesmo nível do olhar. Porque ele é muito mais do que aquele mergulho e do que o mergulho lhe fez. Porque ele é tão grande como o tamanho dos seus sonhos. E se este homem sonha!

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*Mudar de Vida é uma rubrica que nasceu aqui no blogue em 2016 e que pretende contar histórias de pessoas que deram um rumo completamente diferente à sua vida profissional, com tudo o que isso implica em termos pessoais

Rota da Saúde #10: A canja cura a gripe?

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Quem é que nunca ouviu alguém dizer: "Estás com gripe? Toma lá esta canjinha que ficas boa num instante." Há sempre uma avó, uma tia, uma madrinha que acredita piamente ser esta a receita infalível para curar não apenas a gripe mas as doenças todas que nos batem à porta. Uma febre, uma indisposição e lá vem o conselho "sábio": canja de galinha.

A verdade é que até há ditados populares que enaltecem o poder da canja: "Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém". Pois. Mas e bem, fazem? Será que a canja é mesmo eficaz no combate ao vírus da gripe? A resposta é: não cura a infeção, mas ajuda a fortalecer o corpo e aliviar alguns sintomas, como a coriza (pingo no nariz) e a fraqueza.

Originalmente, a canja é um prato asiático, que terá sido divulgado por Garcia de Orta, o médico da corte portuguesa que vivia na Índia no século XVI. No Estado de Malabar, onde se encontrava a antiga colónia de Goa, a “kanji” – como era conhecida – era muito popular. À mistura de água com arroz dos indianos, os portugueses viriam a acrescentar legumes, tempero e galinha, transformando-a na canja dos dias de hoje.

Canja de galinha: o segredo está no frango?

A combinação clássica da canja de galinha tem arroz, frango, cenoura e caldo. A cebola e o alho, usados no tempero, são alimentos imunomoduladores, que contribuem para o bom funcionamento do sistema imunológico. Mas o grande responsável pelo fortalecimento do corpo é o frango. Rico em zinco, um mineral que acelera a produção de glóbulos brancos, acaba por tornar o sistema imunológico mais eficiente. Além disso, a carne de galinha cozinhada liberta cisteína, que é um aminoácido importante para a expetoração que fica acumulada nas vias respiratórias. A cisteína atua sobre o muco pulmonar e torna-o menos espesso, agindo como a acetilcisteína, que se encontra em medicamentos para descongestionar pulmões.

Se quiserem saber mais, podem ler tudo AQUI.

 

(Esta rubrica é uma parceria com a Lusíadas Saúde)

Julen 💗

Esta desgraça do Julen dá cabo de mim. O tempo que tudo isto demora, a impotência, a brutalidade macabra do acidente - um filho a ser engolido pela terra perante a incredulidade do pai, o facto de já terem perdido um filho pequenino... é tudo tão terrível que até tenho tentado nem ver muita coisa nas notícias. Tendo a ser muito descontraída com os meus filhos mas este tipo de acontecimentos faz-me pensar que a maioria das vezes em que tudo corre bem não passa de sorte. Como é que aquela gente podia imaginar que ali onde o filho brincava podia haver um buraco tão profundo? É relativamente fácil, se pensarmos muito nisto, cairmos no excesso de protecção dos miúdos, porque - em bom rigor - há perigos à espreita em toda a parte. No outro dia num grupo de pais já havia uma mãe a dizer, a propósito de uma viagem de "finalistas" dos nossos miúdos do 4º ano, que o filho era tão distraído que podia "cair num buraco". Isto é claramente já um efeito Malaga que pode contagiar-nos a todos, e acaba sempre por contagiar quando uma tragédia destas acontece a uma criança - não me esqueço das vezes sem conta que verifiquei as janelas da minha casa do Algarve quando foi o caso Maddie. 

Neste momento, e acreditando que não há qualquer possibilidade de encontrar Julen com vida, já só espero que na autópsia se descubra que morreu da queda. Porque só de imaginar que morreu da espera... acho que serão mais não sei quantas noites sem dormir.

A saga da casa nova

Como sabem, eu adoro casas. Ver casas. Sonhar que lá vivo. Devia ter sido cenógrafa, agente imobiliária, decoradora ou técnica do Meo. Na verdade, acho mesmo que dava uma boa agente imobiliária (desde que me apaixonasse pelas casas que estava a vender, claro, se não gostasse delas não ia conseguir convencer ninguém).

As minhas pesquisas limitam-se - regra geral - à internet. Não chateio as pessoas com visitas, a menos que o encanto passe o limite de um encantómetro que aqui tenho dentro e, nesse caso (e só nesse caso), marco então uma visita. Foi o que aconteceu no início deste mês. Encontrei uma casa, achei-a linda, enorme (tinha 11 assoalhadas e 300m2), mesmo no centro da cidade, e o preço, apesar de puxado para nós, podia ser possível (com uma boa negociação e com uma boa venda da minha casa e muito atum como única refeição nos meses/anos seguintes 😂). Era, além do mais, o género de casa que mexe mesmo connosco: antiga, pé direito altíssimo, chão de tábua corrida, tectos trabalhados, portas de bandeira, janelas de sacada. Até tinha uma varanda-quase-terraço, para não sentir tantas saudades do terraço grande que tenho actuamente. 

Fomos lá três vezes (porque comprar uma casa não é o mesmo que comprar uma camisa). Numa delas levámos um empreiteiro da nossa confiança (um santo, padrasto de um amigo, tem uma empresa chamada VERSATILORBIS que recuperou maravilhosamente o nosso terraço) para saber quanto nos custariam as obras, levámos os miúdos, medimos, pensámos, sonhámos. Não dormi durante noites a fio a imaginar, a antecipar, a prever. A fazer contas, a ter medo que avançasse a ter medo que não avançasse. Falei com a minha santa Emília (a nossa fiel empregada, que trabalha connosco há 13 anos) que, ao contrário do que imaginei, se revelou entusiasmada com a mudança, contente por haver transporte directo da sua casa para aquela. Falei com a minha mãe que, também ao contrário do que previ, compreendeu tudo. E comecei - começámos - a acreditar. Vimos sites de mobiliário, idealizámos decorações, sabíamos onde queríamos isto e aquilo, informámo-nos sobre escolas no bairro (porque era num outro ponto da cidade). 

Ao fim de quase um mês, já tínhamos tanta coisa prevista que era como se já nos tivéssemos mudado. Acho que faz parte de uma compra de casa, este crescente enamoramento. No meu caso em particular, é ainda tudo mais intenso porque eu sou intensa por natureza. Comigo não há lugar para ao mais ou menos. É sempre tudo muito ou pouco. E quando é muito... Jasus! Não durmo, não como (ou como demais), acordo e adormeço a pensar no mesmo. Por isso... quando anteontem soube que a casa tinha sido vendida foi como se tivesse marrado de frente contra um iceberg.

Tenho um monte de degraças a acontecer à minha volta e - acreditem - sei bem dar o valor ao que é uma desgraça verdadeira. Não vale a pena virem dizer que não sei o que são problemas porque sei. Sei mesmo muito bem. Isto não é nenhum problema nem nenhuma desgraça, nem nada que se pareça. Felizmente temos uma casa óptima, grande (para nós 6 já não é assim tãooooo grande mas é uma casa muito boa), bonita, num sítio muito tranquilo e perto do rio. Estamos muito felizes aqui. Temos saúde, trabalho, alguma folga financeira, filhos saudáveis e queridos e tudo e tudo e tudo. Mas ficámos tristes. Claro que ficámos tristes. Não temos sangue de barata e vivemos as coisas com fervor (eu, sobretudo). Para nós aquela já era a "nossa casa". Só que não. Paciência. Deixo-vos com algumas imagens da "Casa onde a Cocó esteve quase a morar".

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ISO: um restaurante iluminado

Fui convidada para ir conhecer o novo restaurante ISO, perto do Palácio das Necessidades, e fiquei absolutamente rendida. Não é que vários outros que tenho tido a sorte de visitar não sejam bons (não tenho tido más experiências, sinceramente). Mas este é mesmo muito, muito bom. Para começar é lindo. Lindo a sério. A visão que se tem da sala, quando se entra, é assim mesmo tcharan. Está muitíssimo bem decorado (parabéns a quem esteve responsável pela decoração), apaixonei-me por um candeeiro (eu sou pessoa de paixões, até candeeiros podem constar da lista) e logo essa primeira impressão dispôs-nos bem para o que havia de ser um serão encantador. De resto, o nome ISO tem que ver, em fotografia, com a sensibilidade à luz, e todo o restaurante foi pensado para ter uma luz perfeita (não admira que me tenha encantado por um candeeiro).

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O dito candeeiro 😍

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Então, quando o amuse bouche chegou senti fogo de artifício no cérebro. Ui, que bom início, senhores! Era um tártaro de atum divinal. Depois vieram as entradas: umas vieiras salteadas, puré de ervilhas e espuma de beterraba e um carpaccio do lombo do Alentejo fumado com tártaro de tomate picante. Sabem quando os sabores saem pelo nariz e invadem todo o palato? Que delícia. Que de-lí-ci-a. Seguiu-se um salmonete com molho holandês de estragão, vegetais da horta e cheróvia frita. E depois um Filé do lombo maturado durante 21 dias em redução do vinho do Alentejo, musseline de salsifi, bosque de alho francês e batata vitelotte. Já nós estávamos em delírio quando vieram as sobremesas: crocante de chocolate com cremoso de mascarpone e lima e uma tarte tartin. Não houve nada que fosse mais ou menos. Era tudo mesmo excelente. A chef Joana Dinis está absolutamente de parabéns, assim como toda a equipa do ISO. Ganharam aqui dois clientes. 

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Martim

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O meu querido Martim, filho maluco, cavalo bravo, miúdo destravado de coração doce, fez anos na segunda-feira. 14 anos. Lembro-me que foi o nascimento que me fez chorar muito, porque passei os 9 meses sem ter a certeza de que fosse possível amar o segundo tanto como amava o primeiro. E mal o senti sair de mim, mal o ouvi nascer, não contive as lágrimas. Como podia ter sido tão ingénua? Ali estava o amor - de novo - em estado bruto. Em estado puro. Em carne viva.

O Martim tem o condão de desestabilizar toda a família porque está sempre na palhaçada e em overacting, mas também é um companheirão, meigo, sensível... eu sei lá. Pensei que fosse ter uma adolescência tramada, por ser tão doido, mas até ver o que mais gosta é de sopas e descanso (e de nos desconcertar a todos).

Sempre que um dos meus filhos faz anos, há jantar de família cá em casa. Na segunda éramos 17. Eu podia encomendar tudo (o Ricardo farta-se de insistir comigo para que o faça) mas sou do género burra e masoquista e gosto de ser eu a fazer. É coisa que me dá prazer, organizar tudo eu mesma, saber que está bom porque fui eu que fiz, é - se quiserem - uma forma de demonstrar o meu amor. Odeio cozinhar durante a semana, todos os dias, acho um inferno. Mas nestas ocasiões... sinto que é o meu contributo.

Porém, na segunda-feira a minha demonstração de amor saiu-me um bocado furada. Fomos almoçar fora com o Martim (eu, o pai e o Manel) e já cheguei tarde a casa. Ainda tive de ir ao talho e ao supermercado. Quando comecei a cozinhar já tinha pouco tempo e comecei a fazer tudo em contra-relógio. Como a minha casa tem pouca potência eléctrica, pus a Bimby num dos quartos para me assegurar de que podia usar o forno em simultâneo e não ia tudo abaixo. Tinha muito pela frente: um arroz doce, dois bolos (porque um ia para uma forma em forma de 4 e o outro ia para uma forma em forma de 1, para perfazer o número "14"), e uma lasanha para 17 pessoas. 

Comecei pelo bolo (até porque tinha 2 para fazer). Fiz o primeiro e meti-o no forno. Fiz o segundo e deixei-o em espera. A seguir tratei do arroz. Estou eu a pôr a mesa quando oiço a Madalena aos gritos: "aaaaaaaaah! Está a deitar por fora!" Nunca pensei que o caso fosse tão grave. Chegada ao quarto dela, havia uma cascata de arroz doce a sair da Bimby em direcção ao chão. Uma linda cascata de leite que deslizava da secretária até meio do quarto, querendo já enfiar-se por debaixo da cama. Larguei aos gritos, a dona Emília veio, limpámos a meias, voltei para o bolo. Estava cozinhado por cima e, depois de espetar o palito achei que estava pronto. Desenformei, na pressa de lá meter o outro a cozer. Nisto... o bolo que era um 4 começa a criar rachas. A parte de dentro, totalmente crua, começou a brotar das rachas, e o meu 4 começou a transformar-se noutra coisa qualquer. Desesperei (isto foi quase ao mesmo tempo que o arroz). Meti aquela deformidade num tabuleiro (depois de tentar, sem sucesso, voltar a enfiá-lo na forma) e meti no forno. Entretanto, feita burra, mantive o arroz na Bimby, esquecendo que a quantidade de leite que saiu iria seguramente perturbar o resultado final.

Quando a Bimby apitou, dando sinal de que o arroz estava pronto, fui lá abrir. Fiquei em choque. Dentro da panela não havia arroz, havia uma argamassa capaz de ser tão potente como cimento. Aquilo dava na boa para construir uma casa, fechar uma varanda, qualquer coisa assim. Foi então que larguei a chorar. A coisa de que o Martim mais gosta é de arroz doce. Era o seu aniversário e o arroz doce tinha acabado de se transformar em argila, o bolo estava disforme dentro do forno, ainda tinha mais bolo para fazer e uma lasanha e de repente tudo me parecia dantesco. Nestas alturas parece que vem ao de cima toda a culpa acumulada durante anos, e sentia que estava a falhar com ele, que se com os irmãos não falhava também não podia fazê-lo com ele, e mimimimimimim louca varrida, a chorar no meio da cozinha. O desgraçado veio ter comigo com aquela cara de quem não está bem a acreditar no filme, abraçou-me, e disse a frase mais desconcertante: "mãe, é só arroz". 

Pronto. A partir daí tudo correu bem. O segundo bolo safou-se lindamente, consegui fazer um "14" (um pouco deficiente mas a minha vida é toda ela muito pouco perfeita), a lasanha ficou óptima, e o jantar correu lindamente. A verdade é que tenho muitas semanas de privação de sono e, claro, desmorono com mais facilidade. Mas, como diz o Martim, "é só arroz". Acho que vai ser uma daquelas frases que me vão acompanhar sempre que tudo parecer catastrófico (todos temos fases em que sobrevalorizamos aquilo que, com efeito, é só arroz).

Almoços bons em Lisboa

Na semana passada fui com ajamigas a um restaurante que uma delas recomendou, o Lumi. E que bem recomendado. Fica num hotel lindíssimo, chamado The Lumiares, na Rua Diário de Notícias (Bairro Alto) e o restaurante é no rooftop (com uma esplanada que, em dias de sol e calor há-de ser um sonho). O espaço é mesmo bonito.

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Eu em biquinhos de pés, a ver se não parecia tão anã na foto. Sem sucesso. 

 

Pedimos uma selecção de entradas para dividir e depois comemos um linguini de carabineiros que estava delicioso.

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No sábado o Cocó fez 11 anos. Não lhe liguei nenhuma no aniversário, coitadinho, nem um bolo, nem uns balões, nem uns convidados cocós, nem umas velas sopradas. Desculpa, Cocó. Parabéns. Sabes que a malta anda aqui assoberbada com cenas mas ama-te na mesma, sim?

(O que vale é que é um Cocó muito descontraído, muito para cima, não se amofina por dá cá aquela palha)

Galp, a Luz dos Portugueses, e a luz da Carminho

É a última bebé do ano de 2018, a pequena Carminho!

Como fui dizendo ao longo de todo o ano, a Galp desenvolveu a campanha "A Luz dos Portugueses" (Janeiro de 2018). Um ano inteirinho em que ofereceu um mês de electricidade grátis a todas as famílias dos bebés que nasceram no dia 1 de cada mês. O objectivo da campanha foi o alerta para a queda da natalidade no nosso país.

Foi também desde Janeiro que não quis deixar de me juntar a esta iniciativa e, em colaboração com a Galp, tive a decorrer um passatempo (que se repetiu todos os meses até ao final do ano), em que um bebé nascido em cada mês (e sorteado via random) ganhava uma sessão de Baby Art, com a talentosíssima Raquel Brinca

No mês de Dezembro, último do ano, ganhou a Carminho!

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Há muito para contar, antes da chegada da Carminho. Ela não sabe mas nasceu numa família grande, mas mesmo mesmo grande e cheia de amor para dar. A mãe chama-se Madalena e tem 44 anos. O pai chama-se Vasco e tem 47.

Os pais, Madalena e Vasco, conhecem-se desde crianças. As mães de ambos eram amigas e eles frequentavam a casa um do outro sempre que havia convites de parte a parte. Festas, jantares... lá estava ele, lá estava ela. Um dia, lá mais para a adolescência, ele perguntou-se se ela o podia ensinar a tocar piano. Ela, que se viria a tornar justamente professora de piano, disse que sim. Facto é que ele nunca aprendeu. Nota após nota o namoro compôs-se como uma sonata e ficou o aprendiz sem a matéria dada (a de piano, bem entendido). 

Namoraram sete anos. E, a substituir a crise que dizem abalar os casais aos 7 anos, veio o casamento. Casaram em 1998. Ela sempre quis ter seis filhos e avisou-o. Ele não foi ao engano e também não fugiu, pelo contrário. Cumpriu. Cumpriu tanto que o número que Madalena tinha idealizado foi excedido. Carminho é a sétima filha do casal.

Vamos então por partes. Primeiro chegou o Martim, em 2002. Depois, em 2004, a Maria Luísa. Em 2007 a Madalena, a Maria em 2010, o Manuel em 2014. A Constança chegou em 2017 e agora a Carminho, no dia 19 de Dezembro de 2018, com 48 centímetros e 3.095kg. Pergunto se, à sétima vez, o nascimento de um filho continua a ter mesma magia. "É sempre avassalador. Sentirmos o nosso coração a esticar é sempre único. Não muda. Certamente que não diminui."

Madalena e Vasco têm ambos um ar tão tranquilo que nem parece que têm a casa cheia de filhos. Dizem que o mais difícil é gerir brigas entre irmãos e oferecer atenção diferenciada a cada um. Estão cansados de ouvir as bocas do costume - "ah, vocês não têm televisão?" ou "não sabem fazer mais nada?" - mas convivem alegremente com isso. Afinal, construíram a família com que sempre sonharam e a Carminho é a nova imensa alegria da casa. 

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Obrigada à Galp por estes 12 meses em que conhecemos famílias tão queridas e bebés amorosos que nos fizeram ter vontade de ter mais filhos (mas depois passou). Obrigada à Raquel Brinca pelas fotos maravilhosas que nos deixaram com aquelas carinhas enternecidas a olhar para o ecrã do computador. Obrigada a todas as famílias que concorreram, especialmente às vencedoras que nos deixaram conhecer e partilhar um pouco mais de si. Foi um prazer dar a conhecer a Luz dos Portugueses.

 

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