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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

"Estou cansado da religião dos chefs"

Este texto do João Pereira Coutinho, publicado na Folha de São Paulo, é mesmo muito bom. 

Eu gosto de chefs, quando são dignos desse nome. Mas reconheço o exagero. E ri-me muito com o texto. 

 

"Estou cansado da religião dos chefs

O melhor restaurante do mundo? Ora, ora: é o Eleven Madison Park, em Nova York. Parabéns, gente. A sério. Espero nunca vos visitar. Entendam: não é nada de pessoal. Acredito na vossa excelência. Acredito, como dizem os críticos, que a vossa mistura de "cozinha francesa moderna" com "um toque nova-iorquino" é perfeitamente comparável às 72 virgens que existem no paraíso corânico.

Mas eu estou cansado da religião dos chefs. Vocês sabem: a elevação da culinária a um reino metafísico, transcendental, celestial. Todas as semanas, lá aparece mais um chef, com a sua igreja, apresentando o cardápio como se fossem as sagradas escrituras.

Os ingredientes não são ingredientes. São "elementos". Uma refeição não é uma refeição. É uma "experiência". E a comida, em rigor, não é comida. É uma "composição".

Já estive em vários desses santuários. Quando a comida chegava, eu nunca sabia se deveria provar ou rezar. Os meus receios sacrílegos eram acentuados pelo próprio garçom, que depositava o prato na mesa e, em voz baixa, confidenciava o milagre que eu tinha à minha frente:

– Pato defumado com pétalas de tomate e essências de jasmim.

Escutava tudo com reverência, dizia um "obrigado" que soava a "amém" e depois aproximava o garfo trêmulo, com mil receios, para não perturbar o frágil equilíbrio entre as "pétalas" e as "essências".

Em raros casos, sua santidade, o chef, aparecia no final. Para abençoar os comensais. No dia em que beijei a mão de um deles, entendi que deveria apostatar.

E, quando não são santos, são artistas. Um pedaço de carne não é um pedaço de carne. É um "desafio". É o teto da Capela Sistina aguardando pelo seu Michelangelo.

Nem de propósito: espreitei o site do Eleven Madison Park. Tenho uma novidade para dar ao leitor: a partir de 11 de abril, o Eleven vai fazer uma "retrospectiva" (juro, juro) com os 11 melhores pratos dos últimos 11 anos.

"Retrospectiva." Eis a evolução da história da arte ocidental: a pintura rupestre de Lascaux; as esculturas gregas de Fídias; os vitrais da catedral gótica de Chartres; os quadros barrocos de Caravaggio; a tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm.

Gosto de comer. Gosto de comida. Essas duas frases são ridículas porque, afinal de contas, sou português. E é precisamente por ser português que me tornei um ateu dos "elementos", das "composições" e das "essências". A religião dos chefs, com seu charme diabólico, tem arrasado os restaurantes da minha cidade.

Um deles, que fica aqui no bairro, servia uns "filetes de polvo com arroz do mesmo" que chegou a ser o barômetro das minhas relações amorosas: sempre que estava com uma namorada e começava a pensar no polvo, isso significava que a paixão tinha chegado ao fim.

Duas semanas atrás, voltei ao espaço que reabriu depois das obras. Estranhei: havia música ambiente e a iluminação reduzida imitava as casas de massagens da Tailândia (aviso: querida, se estiveres a ler esta crônica, juro que nunca estive na Tailândia).

Sentei-me. Quando o polvo chegou, olhei para o prato e perguntei ao dono se ele não tinha esquecido alguma coisa. "O quê?", respondeu o insolente. "O microscópio", respondi eu.

Ele soltou uma gargalhada e explicou: "São coisas do chef, doutor." "Qual chef?", insisti. Ele, encolhendo os ombros, respondeu com vergonha: "O Agostinho". O cozinheiro virou chef e o meu polvo virou calamares.

Infelizmente, essa corrupção disseminou-se pela pátria amada. Já escrevi sobre o crime na imprensa lusa. Ninguém acompanhou o meu pranto.

É a música ambiente que substituiu o natural rumor das conversas. É a iluminação de bordel que impede a distinção entre uma azeitona e uma barata. É o hábito chique de nunca deixar as garrafas na mesa, o que significa que o garçom só se apercebe da nossa sede "in extremis" quando existem tremores alcoólicos e outros sinais de abstinência. Meu Deus, onde vamos parar?

Não sei. Mas sei que já tomei providências: no próximo outono, tenciono aprender a caçar. Tudo serve: perdiz, lebre, javali. Depois, com uma fogueira e um espeto, cozinho o bicho como um homem pré-histórico.

O pináculo da civilização é tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm? Então chegou a hora de regressar às cavernas de Lascaux."

(João Pereira Coutinho, Folha de São Paulo)

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Há 6 anos...

Vivíamos uma época de crise e de troika e de cinto apertado e, cá em casa, decidimos que o Halloween teria de reflectir essa época de terror. A ideia foi do Manel, que tinha então 10 anos, quase 11. Foi hilariante assistir à reacção da vizinhança.

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 Vítor Gaspar, Angela Merkel e Pedro Passos Coelho

(está tão ruim, esta foto, que parece que foi tirada com um cangalho há 42 anos... 😳)

Buuuuuuu

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Fato de abóbora-mais-querida: H&M 

 

Hoje é dia de reunir ir de casa em casa pedinchar doces. Eu não, bem entendido, mas a Mada, o Mateus e este ano o amigo Francisco. Já lá vai o tempo em que iam os irmãos também mas agora - como é natural - não estão para isso (se bem que andam há uma semana a azucrinar a cabeça à irmã para se esforçar no sentido de conseguir uma boa colheita). Hei-de ir buscar todos à escola, trazê-los para casa, dar-lhes de jantar, mascará-los, e depois lá vamos, eles a tocarem a todas as portas dos prédios aqui das redondezas, eu em cada patamar da escada (só para prevenir parvalhões), e depois hão-de ir a casa de um outro amigo e vizinho, cujos pais elevam o Halloween para um outro patamar (têm caldeirões e teias de aranha e morcegos e o jantar é todo cenas a fingir que são olhos e dedos e sangue e o caraças, é mesmo espectacular). Cá em casa já está uma remessa de doces preparada para entregar a todos os monstrinhos que aparecerem enquanto andamos nós no porta-a-porta (será o Ricardo a ofertar a criançada). A seguir, deixo o homem encarregue do resto, porque faz anos uma grande amiga e, despachados os putos, é hora de seguir para casa dela, para a mimar como merece. Gosto deste dia, desta rotina. Ah, é uma americanização! Oh filhos, também o McDonald's, também a Coca-Cola, também as Levi's. Não me cansem. 

Quando se enganam no meu nome

O telefone toca. É um número desconhecido.

- Estou?

- Sim? Senhora Soraia Santos?

- Eeeeeerrrr... é Sónia. É Sónia. Apesar de tudo é menos mau.

(perdoem-me as Soraias. Em bom rigor talvez a este nível de horror onomástico não haja propriamente gradações, mas ainda assim sempre prefiro Sónia)

 

De todo o modo, este tipo de enganos sucede-me muito.

Quando é para Sofia, por exemplo, costumo responder:

- É Sónia, infelizmente. Sofia seria melhor, mas calhou ser Sónia. De todo o modo, se lhe der mais jeito tratar-me por Sofia esteja à vontade, fazemos ambos de conta e é uma espécie de win-win momentâneo.

 

Hein? Oi? Quê?

Oiço o Manel estudar. Sei que vai ter teste de Matemática mas oiço-o falar pouco em números, é tudo mais letras. Levanto-me, curiosa (mas receosa, que a Matemática sempre me fez nervoso e não era miudinho), e vou espreitar o livro. Assim a uma distância de segurança, como quando nos aproximamos de uma jaula de um animal feroz. Sabemos que está ali, preso, mas nunca fiando. Acontece que afinal não era Matemática. Era chinês. Que amor. O Manel a estudar chinês e nem tinha dito nada.

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Rato, esquilo, texugo

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Toda a vida passei por fases de luta contra o meu corpo. Quando se gosta de comer e beber - como eu - das quatro uma: ou se tem uma genética do caraças e está tudo bem; ou se vive em constante privação; ou se engorda e não se quer nem saber; ou então engorda-se, depois toma-se consciência dos estragos, faz-se dieta, emagrece-se, e depois volta a exagerar-se um bocado e torna a engordar-se, e assim sucessivamente. Sou claramente o quarto caso. Tive em tempos um namorado que dizia que eu tinha três modos: o modo rato (quando me privava, emagrecia muito e ficava mesmo magra), o modo esquilo (que era quando estava normal, nem magra nem gorda), e o modo texugo (não é preciso dizer mais nada, certo?). Ele tinha toda a razão. Toda a minha vida fui rato-esquilo-texugo e repete tudo de novo.

Lembro-me de ser miúda, aluna do 5º, 6º ano, nadadora de alta competição e desmaiar com frequência porque além de treinar de manhã e ao fim do dia, várias horas, passava com frequência o dia inteiro com uma maçã no bucho (era a minha ideia inteligentíssima de fazer dieta). Experimentei tudo, de criança até hoje: comer só uma maçã, treinar como uma tarada, comer de forma equilibrada (é o melhor mas por vezes os resultaods demoram muito e enerva), fiz a dieta da seiva, da LEV, do Póvoas, do Tallon, fui ao Pedro Choy (foi, em bom rigor, a fase em que estive mais magra de sempre), consultei várias nutricionistas (estou agora numa), até inventei dietas (em adolescente) espectaculares: se eu só comer leite condensado e mais nada... quem sabe não emagreço? (para vossa informação, não emagreci. Damn!)

Bom. Hoje, com a idade a que já cheguei, com a graça do Senhor, deixei de ser tão violenta comigo. A minha nutricionista do momento frustra-se com a balança, que recua a uma velocidade inferior ao que ela pretendia, eu também me sinto um pouco irritada com isso, mas a verdade é que eu conheço a razão. Não é azar, não é uma cabala que o universo montou contra mim, não é uma cena astral que me sucedeu. Eu simplesmente entrei numa fase da vida em que não estou para isso. Vejamos: não quero abardinar, não quero desrespeitar-me desleixando o meu aspecto físico (que também se traduz na saúde), quero gostar de mim e do meu corpo (ou pelo menos não o odiar), mas também não quero viver uma vida espartana de carmelita descalça. Não quero. E sabem porquê? Porque aos 15, aos 20, e até aos 30, se tivermos sorte (e eu tive), a vida é tão leve e solta e porreira que podemos sacrificar-nos na comida e na bebida. Que se lixe. Não nos machuca assim tanto, afinal de contas, tudo o resto é só alegrias. Ora... quando se chega a uma determinada idade, já nos aconteceram algumas coisas ruins. É normal, é a lei da vida. Decepções, desgostos, perdas. Coisas que doem mesmo cá dentro. A vida pode continuar a ser maravilhosa (como a minha felizmente é) mas dentro do peito já há cicatrizes e algumas são fundas. Vai daí que não dá para me virem dizer que acabou o vinho, não há direito nem a um copo. Não aceito trincar apenas alfaces e legumes, ou treinar duas horas por dia, todos os dias, como uma condenada. Não dá. Pelo menos para mim não dá.

Assim, houve aqui uma espécie de acordo tácito entre mim e o meu corpo: não temos um amor de perdição mas convivemos bem, uns dias melhor, outros pior, mas de forma saudável. Estou de dieta? Estou. Mas alto lá com o andor. Não vai tão depressa, vai mais devagar. Há dias em que olho para o espelho e acho que nem estou assim tão mal, outros em que olho e penso: eeeeeeeh texugo! Tranquilo. Já sei que é assim. No aspecto físico como em tudo o resto, há dias melhores e dias piores. O importante é encontrar o equilíbrio e não negar todo o prazer em troca de uma promessa idiota e vã de "corpo perfeito". Que se dane! A perfeição é uma seca e, na verdade, quem é que, no seu juízo perfeito, quer assim tanto ser um rato?

Devemos voltar (sempre) aos sítios onde fomos felizes

Já o disse mas repito-o porque sempre que o volto a sentir tenho vontade de o repetir: não há outro lugar onde me sinta mais em casa do que na Praça das Flores. Morei lá cinco anos. Morei 27 ao pé do Califa, em Benfica, moro há quase 14 anos no Parque das Nações. Mas o lugar onde me sinto mais em casa, entre todos os lugares, é ali, naquela pracinha querida do Príncipe Real. O Pão de Canela era como uma segunda casa, nesses tempos. E ainda hoje, quando lá vamos, há um sem número de pessoas que ali vivem desde sempre e que nos vem cumprimentar e saber como estão "os meninos". Ainda no sábado voltou a acontecer. Estava eu com o Mateus ao colo, sentada na esplanada, quando chegou uma senhora e perguntou:

- A senhora não costumava viver aqui com uma série de bebés?

Ri-me. Na verdade, na altura não era "uma série de bebés", eram só dois. Mas como de vez em quando lá volto e a família continuou a crescer, as pessoas ganharam assim a ideia de que sou aquela dos muitos filhos (são só 4, mas pronto). Lá lhe expliquei que sim, que lá tinha vivido e ela:

- Este seu filho é igual ao primeiro!

E é. Estar com o Mateus (fomos só com ele) na Praça das Flores é como que replicar a história. É como se fosse o Manel, é como se nós fôssemos aqueles dois miúdos felicíssimos por vivermos ali, é como se o tempo voltasse atrás. Para agravar mais ainda o momento nostálgico, o Ricardo pediu um queque de maçã, que era assim uma das coisinhas que mais pedíamos quando ali vivíamos. Aaaaaaaah, caraças. Gostava muito de voltar para ali. Mas para isso tinha de assaltar um banco e não tenho os skills necessários. 

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 A cara de felicidade da pessoa, neste lugar lindo de Lisboa

Consertadores de membros

Não sei se se lembram mas em Março a Madalena foi entalada várias vezes numa porta, na escola. Basicamente, estava a brincar com os amigos, eles começaram a tentar fechar uma porta, ela estava do outro lado, e ao sentirem que a porta não fechava - e pensando que ela a tentava travar com o pé - insistiram e insistiram e insistiram. Ligaram-me da escola a contar o sucedido, disseram que ela estava muito queixosa mas que mexia a mão e não achavam que fosse partido, mas que era melhor ir buscá-la. A minha mãe estava mais perto e foi, e logo a seguir ligou-me a dizer que era melhor ir ao hospital, que a mão tinha um vinco enorme e que a miúda estava a contorcer-se de dores.

Bom. Consulta, raio x, nada partido, segue para casa com gelo, e pronto. Pronto, o tanas. A dor continuava e continuava e continuava, e em Junho marquei consulta para a ortopedista que mandou fazer ecografia e a coisa era séria: a Mada tinha os tecidos lesionados até ao osso e em necrose. A ortopedista mandou fazer fisioterapia. Mas entretanto meteu-se o verão, o Martim tinha estado a fazer fisioterapia ao joelho, eu pensei que talvez nas férias melhorasse, com o descanso e o sol e não sei quê. Mas não. Ela continuou sem conseguir dar a mão, sem conseguir bater palmas, sem conseguir cortar o bife. 

De maneira que, regressados das férias e rendidos às evidências, ligámos para a Fisiolar, quase envergonhados por estarmos de novo - e em tão pouco tempo - a recorrer aos seus serviços (uma pessoa até parece que maltrata os filhos, caraças!). Fiz questão de referir que gostámos muito da fisioterapeuta anterior, a fisioterapeuta Sofia, e que, não sabendo se nestas coisas também há especialistas em determinadas partes do corpo, se ela também percebesse de mãos ficávamos contentes que viesse. 

E assim começámos uma caminhada, mais longa do que todos esperávamos. A Madalena esteve desde o início de Setembro até ao final da semana passada, a fazer fisioterapia 2 a 3 vezes por semana. Com massagem, estimulação eléctrica (não sei se é assim que se diz), exercícios feitos com a indicação da fisioterapeuta (segurar bagos de arroz ou grão com os dedos, moldar plasticina). Sofreu para caraças em determinadas alturas, fartou-se daquilo, chegou a fingir que estava melhor para não ter mais sessões. A Sofia foi incrível. Sempre a brincar com ela, sempre a tentar que aquela hora não fosse tão massacrante. Conversaram sobre muitos assuntos, religião, matemática, coisas da vidinha. Habituámo-nos todos a ver a Sofia cá em casa, de volta da mão da Mada. Fomos notando, a pouco e pouco, a diferença na mão da Madalena. Ela, que já não usava a mão para nada (porque lhe doía) e a tinha ao pendurão, junto ao peito, como se não existisse, começou a conseguir usá-la. Passou a fazer os gestos do dia-a-dia que já tinha deixado de fazer. Deixou de se queixar quando lhe dávamos a mão ou quando tocava piano ou quando a mandávamos utilizar a faca, às refeições. Até que, na semana passada, a fisioterapeuta Sofia disse que achava que podíamos parar.

Juro que não tinha ideia do quão valiosa pode ser a fisioterapia. Do quanto pode fazer a diferença. Quer dizer, claro que sabia, há relatos de pessoas que não andavam e que, com muito trabalho de fisioterapia, voltam a andar. Claro que sim. O que quero dizer é que nunca tinha visto de perto. E, quer com o Martim, quer agora com a Mada, as diferenças foram brutais. Sobretudo com ela, que já tinha a palma da mão plana (em vez de ligeiramente côncava, como é natural) de tão magoada que estava (e de tanto se poupar de a usar).

Volto a referir isto tudo porque acho este serviço da Fisiolar absolutamente perfeito. Ter um fisioterapeuta que vai a casa é tudo de bom. Porque nos reduz os níveis de stress (eu tenho 4 filhos com as suas actividades, já me bastam todas as piscinas que faço a levar e a trazer), porque lhes reduz a eles os níveis de ansiedade (estar em casa é totalmente diferente do que estar num consultório), porque podem estar rodeados das suas coisas, das suas pessoas, da sua normalidade. 

Se não tivesse um blogue ficar-me-ia pelos agradecimentos (que também fiz) online e pessoalmente, mas como tenho este canal acho que não há melhor forma de agradecer do que esta: publicamente recomendar este serviço a quem precise. É que eles não são só bons profissionais. São bons profissionais que vão a casa. E pode parecer um detalhe. Mas não é. Ah, e não têm só fisioterapia. Têm psicologia, nutrição, enfermagem... tudo ao domicílio.

Muito obrigada por todo o profissionalismo, por toda a dedicação! Mesmo!

www.fisiolar.pt

Aaaaaaah... uma filmagem ao alto.. sempre aquele momento triste...

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Atenção: este post está um bocado negro (se for susceptível a um certo blues, não leia)

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Foto: Victor Bezrukov 

 

Ando aqui a atravessar uma fase complicada. O ano passado e este ano não têm sido muito felizes. Têm acontecido coisas más e eu tenho o infortúnio de ter a sensibilidade à flor da pele, de maneira que tudo é vivido com intensidade (o bom e o mau). Os 40 foram uma festa, mas três anos depois começou o descalabro.

Neste caldo merdoso em que me encontro dou por mim a sentir muitas vezes que o melhor da minha vida já passou. E que o que por aí vem já vai ser só mais ou menos (com sorte) ou muito pior do que o que já lá vai. Chamem-me dramática, derrotista, pessimista, o que queiram. Mas é o que sinto, pelo menos nesta fase. Talvez quando esta nuvem negra passar volte a acreditar em dias incríveis, mas até lá tenham paciência.

A verdade é que eu lembro-me muito bem de sentir uma felicidade do caraças durante largos anos da minha vida. Não é um pensamento mágico, daqueles que temos a posteriori e que tende a dourar o que já passou, fazendo-nos esquecer que, enquanto vivíamos esse passado, as coisas não eram tão douradas assim. Não. Eu lembro-me bem da maravilha que foi começar a trabalhar com o Pedro. Do entusiasmo vibrante que foi fazer o DNA. Da alegria de preparar o meu casamento e de comprar a primeira casa, assinar o contrato, recheá-la, dormir lá a primeira noite (e as restantes). Da felicidade de engravidar pela primeira vez e de ter um bebé para cuidar. Sentia-me imortal, invencível, capaz de dominar o mundo. Fazia trabalhos que mexiam comigo, que me realizavam, ia vários dias em reportagem e escrevia coisas de que me orgulhava, queria ser melhor, queria ser uma mãe como nunca se tinha inventado. Tinha todas as possibilidades em aberto, como um livro em branco. Só dependia de mim e da sorte. E se fui tendo sorte (e trabalho, também)! Foram anos especiais. Mesmo.

Agora... a história é outra. Tenho uma boa vida, sem dúvida. Mas... há muita coisa ruim a acontecer. Mesmo, mesmo, mesmo ruim. E, além dela, há uma certa monotonia, há aquele olhar para o espelho que nos devolve uma pessoa que, por vezes, não reconhecemos imediatamente (e que, com o passar do tempo, tende a piorar, não me lixem). Há os dias iguais uns aos outros, ainda que esteja sempre a inventar novas coisas para fazer (e se invento, e se faço coisas giras!). Mas nada parece ter assim tanto sabor, nada é assim tão excitante, até porque nos pesam as perdas que, de repente, vamos acumulando. Os miúdos crescem, o Manel para o ano já faz 18 e, se tudo correr bem, entra para a faculdade, tira a carta e vai ficando progressivamente mais distante. E depois irão os outros, em revoadas. E a saúde começa a ressentir-se, os exames trazem não sei quê, os nossos amigos queixam-se igualmente da vida, uns adoecem, outros desaparecem. E se isto é assim aos quarenta e tais, o que será aos cinquentas, aos sessentas, aos setentas.

Às vezes leio ou vejo entrevistas a figuras públicas e uma das perguntas da ordem é se as pessoas são saudosistas. A resposta é invariavelmente "não!", seguida de um "sou muito mais de olhar para a frente do que de olhar para trás!" Fica bem numa entrevista, dá aquele ar de pessoa que não estagna, que quer evoluir para sempre. Faz sentido e fica bem. É bonito. Mas sentir saudade do que passou é também uma forma de dizer que o que se viveu foi bom. Só pode ser saudosista quem teve um bom passado, caso contrário é masoquismo. Eu também olho para a frente, não me resigno e continuo sempre a pensar em outros modos de me reiventar, em voltar a ter prazer com o que faço e com quem sou. Mas se me perguntarem se sou saudosista... ah, sou. Sou mesmo. Tenho muitas saudades do que vivi, posso ficar horas a olhar para os álbuns de fotografias, e nesta fase em que me encontro tenho uma impressão muito clara de que não vêm por aí dias melhores. Repito: pode ser fruto do momento (que não é nada fixe). Mas a sensação que dá, assim fazendo um eagle eye, é que o melhor já passou. Resta fazer das tripas coração (e ter uma sorte do caraças) para o que aí vem não seja tão mau assim.

 

Nota 1: talvez daqui a uns tempos releia esta crónica e pense: "WHAAAAAAT? Estava mesmo um cocó naquela altura, caraças!" 

Nota 2: o facto de fazer anos para a semana também pode estar aqui a potenciar isto, ok? 

Nota 3: estes meus pensamentos não significam que vou pôr termo à vida, escusam de ligar para a linha SOS Voz Amiga. Gosto muito de cá andar! Mas isto nem sempre é um mar de rosas, filhos, é só isso.

Nota 4: em calhando está a fazer-me falta dar uns socos nuns sacos de boxe. Estou há duas semanas sem avirar porrada e parecendo que não uma pessoa ganha-lhe o gosto

 

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