Ontem foi dia de arregaçar as mangas (literalmente) e mergulhar (literalmente, de novo) na arrecadação.
A minha arrecadação é mais que uma arrecadação. É um salto no tempo. É uma espécie de buraco negro, onde se entra de uma maneira e de onde não se sai igual. Por razões várias, tenho evitado lá ir. Umas vezes porque não tenho tempo, outras porque aquilo está tão cheio que procurar seja o que for se reveste de dificuldade extrema, e as restantes por receio desse contacto com o meu lado nostálgico (que não é bem um lado, é o meu ser inteiro que é nostálgico).
Andávamos para lá ir há que tempos e, um certo dia até chegámos à porta com a determinação de nos atirarmos àquilo mas, perante o cenário dantesco (caixotes empilhados, cadeiras, brinquedos, roupa, malas, sacos, até ao tecto), fechámos a porta em silêncio e voltámos para casa.
Ambos tínhamos acordado que a empreitada devia ser feita num dia escuro e chuvoso, para não sentirmos que estávamos a desperciçar o sol e todas as possibilidades que oferece no exterior, de maneira que ontem pareceu-nos perfeito.
Correu tudo muito bem, despachámos 7 sacos de roupa de bebé para a Ajuda de Mãe (Marisa, não te preocupes, ainda cá ficaram 3 ou 4), mas... e o que me doeu encontrar o bibe do Manel, de quando andava na Academia dos Miúdos (3 anos)? E quando encontrei o bibe do Martim? E quando o Ricardo puxou o cordel à caixa de música que embalava o Manel? Meus amigos, foi um fartar vilanagem. O que eu chorei, meus amigos. O-que-eu-chorei! É que nem foi chorar, foi mesmo soluçar.
E ainda não cheguei às agendas, aos cadernos, às cartas, aos dossiers, às fotografias, aos DNAs...
É melhor levar uma garrafa de vinho, quando chegar a essa parte.
Eu bem vos dizia que a minha arrecadação não é apenas uma arrecadação. É uma máquina infernal que nos catapulta para o passado deixando-nos um nó na garganta gigante quando voltamos ao presente.
Agora que penso nisso, não sei se lá volto.