Ora então deixem-me cá contar a história tim tim por tim tim.
Um belo dia recebi uma proposta na caixa de email. Se não queria juntar um pequeno grupo de amigos e fazer um jantar cá em casa, com um chef. Era uma empresa chamada Supper Stars, que tem vários chefs (27, fui agora contar) e que vão a casa das pessoas cozinhar, servir e deixar tudo como se por lá não tivessem passado. Eeeeh lá! Olha que bela ideia! Pois que sim, senhora, que viesse então o chef!
Escolhi o menu, convidei dois casais amigos, pedi à minha mãe que ficasse com as crianças lá em casa nessa noite, pus a mesa, recebi o chef, no caso foi o chef Kiko Sousa (que chega duas horas antes, munido de tudo o que precisa - ingredientes, utensílios, cenas específicas para cada prato), eles chegaram, perguntaram que barulho era aquele na cozinha, nós dissemos, com um tom normal, "ah, é o nosso chef" e continuámos a conversa como se fosse absolutamente comum ter um chef na cozinha (para depois nos desmancharmos todos a rir), o chef apareceu entretanto na sala com o amuse bouche, que foi devidamente apreciado através de elogios verbais (que maravilha, mas que delícia, muito bom) não-verbais mas sonoros (hummm, aaaaah, nhammm) e visuais (olhos revirados de prazer, línguas passando pelos lábios, sobrolhos em arco).
Passámos para a mesa e fomos brindados com iguarias que degustámos com prazer. Começámos por um Carpaccio de vieiras marinadas, puré de aipo, legumes crocantes, coco e lima. Uma entrada que quase mereceu uma ovação de pé. Não podíamos ter começado melhor. A conversa fluiu, o vinho escorregou, o chef trouxe o prato principal: Sargo, batata doce assada, compota de cebola roxa, crumble de nozes e gengibre, espargos e molho cremoso de limão. Perfeição pura. Unanimidade à mesa. "Parabéns, chef!" Estava tudo a correr tão bem que a sobremesa só podia correr bem também. E assim foi. Pavlova com frutos vermelhos e raspa de lima. Aaaaaaaaaaaah, soberba!
E foi assim que, quase sem dar por isso, o chef se despediu, discretíssimo, deixando a cozinha a brilhar e deixando-nos completamente rendidos. Tão rendidos que, no meu caso concreto, me esqueci de fazer uma única fotografia do evento. Nem chef, nem ingredientes, nem preparativos, nem pratos, nem coisa alguma. Mas que bela porra. Como é evidente, tratava-se de uma troca de serviços: a Supper Stars não me ofereceu esta possibilidade pelos meus lindos olhos mas porque tenho uma plataforma com muita afluência. E eu ali estava, de barriga e alma cheia, mas sem nada para dar em troca. Descontraí de tal forma que me deixei ir, esquecendo o nosso compromisso. Caneco.
Foi então que decidi explicar o sucedido e, assumindo o meu falhanço, contratei a empresa - a pagar - para voltar cá a casa. Era uma excelente oportunidade, de resto, para compensar a minha mãe pelo trabalho na outra noite (e pelas vezes todas em que nos ajuda) e para convidar o meu primo Quim para jantar, algo que já estava para acontecer há muito. E uma excelente oportunidade também para relatar, como cliente "normal", este serviço, desde a marcação ao jantar em si.
Convidei os dois, perguntei à minha mãe se os miúdos podiam ficar a jantar na casa dela, nessa noite em que ela vinha cá a casa (moramos uma em frente da outra), e fiz a reserva online. Surpreendi-me com a facilidade. O site não podia ser mais simples, mais intuitivo, mais claro. Escolhi de novo o chef Kiko, mas com um menu diferente, cliquei em "Reservar Menu", completei os dados que pediam (local, dia, hora, número de pessoas e os dados para faturação, método de pagamento) e... paguei. Mais fácil impossível. Confesso que fui surpreendida pelo valor final porque não correspondia ao valor definido por pessoa. Depois percebi que há um valor mínimo de 6 pessoas (pelo que, se forem menos - e eram, éramos só 4 - pagamos na mesma o valor das 6 pessoas). Mas pronto. Como não me apetecia juntar mais ninguém àquele ramalhete... assim foi. Um dia não são dias!
O chef Kiko chegou duas horas antes e eu andei a fotografar quase tudo, não fosse embarcar de novo na onda da alegria e descontracção e esquecer algum detalhe (e depois tinha de passar a vida nisto, com um chef cá em casa a cozinhar para mim - não que me importasse mas desgraçadamente ainda não consigo ter verba para isso). Preveni-o - em jeito de brincadeira - para a exigência do meu primo, ex-chefe de cabine da TAP, voluntário no Palácio da Ajuda há 26 anos na àrea dos banquetes de Estado, pelo que é homem que sabe TUDO sobre como pôr uma mesa, como servir, como deslizar pelas pessoas sem lhes tocar... enfim, um verdadeiro especialista (e uma enciclopédia histórica também).
Desta vez, houve dois amuse bouche: Blinis com crème fraiche e caviar de averuga (que comemos ainda de pé), e o segundo (já sentados) um ovo cozido a baixa temperatura com trompetas da morte e creme de cogumelos. Dizer que este segundo fez soar campainhas de prazer no meu cérebro de tão perfeito. O ovo é cozido durante 40 minutos a 63ºC, de maneira que fica com uma consistência diferente de todos os ovos que já comi.
A entrada foi Vichyssoise com crème fraiche e cebolinho e estava muito boa. Seguiu-se um Salmão braseado, cogumelos shiitake, legumes salteados com molho de ostra e couscous. Sublime! E a sobremesa foi, de novo, Pavlova com frutos vermelhos e raspa de lima. Da outra vez a sobremesa do menu escolhido era outra mas nós pedimos para ser a Pavlova. Desta vez, e como estava tão boa no último jantar, quisemos repetir. Excepcional!
Estou absolutamente fã disto. Os jantares não podiam correr melhor. É que não é só a comida que é excelente, porque feita por quem sabe do assunto (o chef Kiko, por exemplo, trabalhou 9 anos na Fortaleza do Guincho). É também o facto de não termos de estar sempre a levantar-nos da mesa e, assim, podermos dedicar-nos inteiramente aos nossos convidados. É também a graça de ter este luxo acessível (não posso dizer que é acessível a todas as carteiras, claro, mas não acho absurda para aquilo que proporciona). É o prazer de ter um chef talentoso e simpático, de quem ficamos a saber mais, e que nos mima com as suas obras durante essa noite, em regime de exclusividade. E isto tudo no nosso ambiente, na nossa casa, no nosso conforto, onde podemos falar à vontade, rir, ouvir a música que nos apetece. E... last but not least... chegar à cozinha e estar tudo im-pe-cá-vel. Que sonho. Por acaso em nenhuma das vezes tivemos os miúdos em casa, mas havemos de experimentar também com eles. Afinal, é como ir jantar fora, mas ficando dentro.
Podem saber mais AQUI.
*post escrito em parceria com Supper Stars