A minha mãe foi hoje, pela enésima vez, tirar sinais do corpo.
Teve um melanoma há 10 anos e, de tempos a tempos, lá vai ela arrancar sinais manhosos, pré-cancerígenos ou com ar de poderem vir a dar asneira. Qualquer dia, a minha mãe é uma manta de retalhos. Uma mãe-patchwork.
Depois de removidos, os sinais vão para análise e lá ficamos nós à espera do veredicto.
Estamos confiantes que serão só sinais manhosos, e nada mais além disso. Mas não é animado ir tirá-los. Dói, mói, chateia.
Tudo isto porque, quando era miúda, a minha mãe passava meses ao sol, apanhando escaldões sucessivos sem qualquer cuidado, porque naquele tempo o sol era apenas um elemento da natureza, agradável nos dias de praia.
Hoje sabemos dos seus perigos (que são, ainda para mais, muito maiores do que quando a minha mãe era criança) e, ainda assim, continuamos a expor-nos demasiado, esquecendo que a nossa pele é quem sofre. Pode não ser de imediato mas mais tarde, quando já nem nos lembrarmos dos excessos que cometemos no passado.
O cancro é uma merda. É aleatório, é arbitrário, é traiçoeiro. Aparece muitas vezes sem que se possa estabelecer uma relação causal, como uma surpresa maldita. Mas, em tantos outros casos, podemos diminuir os riscos. Como com o sol e a nossa pele.
Hoje, que arrancou a época balnear, vamos todos tentar não esquecer isto.
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