Quando era miúda não gostava de História. Achava chato, tinha dificuldade em compreender os movimentos, as relações comerciais, achava os termos difíceis, na maior parte das vezes empinava sem perceber. Dava-me um sono do caraças e lembro-me de estudar com a cabeça apoiada numa mão, que me esborrachava a cara, botando-me com um ar néscio de quem realmente não está a apanhar nada.
Hoje tento estudar com o Martim (e antes com o Manel) fazendo exactamente o que achava que me faltava na altura: entusiasmo. Descrevo batalhas com dramatismo, agito os braços, enceno, represento, engrosso a voz, arregalo os olhos. Devo parecer uma maluca mas pelo menos capto a sua atenção. Sempre que o vejo com a cabeça apoiada na mão e cara esborrachada sei que está na hora de intervir.
Pelo que percebo, o Martim tem uma excelente professora, que transmite a matéria com essa exultação. Sei-o porque, pelo menos nesta parte da matéria, ainda eu estou a começar a explicar e já ele se adianta com detalhes, com curiosidades, com pormenores que a professora transmitiu com o tal ânimo que contagia. Estou convencida de que se a matéria fosse dada com recurso a teatralizações os miúdos, ainda tão imaturos, aprendiam a gostar disto e percebiam tudo muito melhor. Mas não há tempo. Nunca há tempo.
Hoje estamos a estudar uma parte espectacular da História: a Revolução francesa, o Bloqueio Continental, as invasões francesas, a Revolução liberal de 1820, as Cortes Constituintes e a aprovação da Constituição.
Estou a adorar e ele também.
Vamos ver como corre o teste.
(uma vez mais, antecipando os-que-tudo-sabem sobre a educação, repito: sim, a autonomia é importante mas o Martim claramente não está ainda nessa fase. Quando o deixo estudar sozinho os resultados caem a pique. Ora, se posso acompanhá-lo, parece-me no mínimo estúpido deixá-lo cair só para que aprenda a ser autónomo no estudo. Tudo tem o seu tempo. O Manel não precisa de mim há 3 anos. Há-de chegar a vez deste.)