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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Mulheres do caraças #1

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Tamara Milagre é alemã, tem 48 anos, e vive há quase 20 em Portugal. Aos 41 anos fez uma mastectomia bilateral. No ano seguinte, removeu também o útero e os ovários. Não, não tinha cancro. Mas tinha uma gigantesca probabilidade de vir a ter, comprovada por exames genéticos. Como descobriu? Foi Sandra, doente terminal com cancro que conheceu por acaso (terá sido por acaso?) que a fez tomar consciência da realidade. Sandra não sobreviveu mas salvou-lhe a vida. Mudou-lhe, aliás, a vida por completo. Mas esta é uma longa história que se conta já a seguir.

Aos vinte e tal anos, Tamara decidiu ir estudar Arquitectura. Era enfermeira e os pais acharam que não estava boa da cabeça. A razão não era assim tão louca. "Trabalhava então nos cuidados intensivos de neurocirurgia. Tinha visto muita coisa terrível: crianças acidentadas e com sequelas permanentes, tumores, pais de crianças pequenas a morrer... Além disso, tinha acumulado muitas horas de trabalho e, quando pedi para usufruir desses dias de férias, queriam dar-me o valor correspondente mas não o tempo de folga. Estava muito sobrecarregada emocionalmente. Precisava de fazer qualquer coisa diferente, que me distraísse. Sempre tinha gostado de desenhar e pensei 'por que não Arquitectura?'"

Começou então a fazer a urgência de noite e a estudar durante o dia. Não queria largar a Enfermagem, até porque era o que lhe permitia pagar o curso. Voltar a depender dos pais estava fora de questão. Na frequência do curso, fez um intercâmbio em Barcelona e, daí, uma excursão até Lisboa. "Quando me vi no autocarro em cima da Ponte 25 de Abril, olhei para um lado e vi o Cristo, o rio, do outro lado o mar, o casario e a luz de Lisboa em frente... olhei para as minhas colegas e disse: 'meninas, eu vou viver aqui!"

E assim foi. Chegou à Alemanha, largou a casa onde estava, vendeu o carro, a mota, tudo, e veio para Portugal. "Foi mesmo amor à primeira vista." Não falava português e, por isso, foi o primeiro assunto de que tratou, ao chegar. Inscreveu-se numa escola de línguas. Pouco tempo depois, ofereceu-se numa clínica de saúde e foi aceite. Paralelamente, prosseguiu os estudos de Arquitectura na Universidade Moderna.

A vida seguiu o seu curso. Conheceu o actual marido, namoraram, casaram em 2000. Nasceram as filhas. A Sara em 2000, a Joana em 2006. Da clínica saltou para o Hospital Dona Estefânia, onde continuou o seu trabalho como enfermeira.

Foi em 2008 que conheceu Sandra. "A Sandra entra na Estefânia grávida de 29 semanas, com 27 anos de idade, e um tumor enorme na mama. Ela já tinha referido a saliência na mama nas consultas mas o médico tinha dito que era da gravidez. Só que não era. Era um cancro e quando nos chegou já tinha muito mau prognóstico porque já tinha muitos gânglios afectados. Foi mastectomizada ainda grávida. E eu só pensava: 'O que é que se passa aqui?'"

Aproximou-se de Sandra, tentou perceber o seu histórico, tentou encontrar respostas para as suas dúvidas, e foi então que percebeu que havia uma história familiar de cancro da mama, umas tias paternas que tinham passado pelo mesmo. "Ora, eu também tinha umas tias paternas com histórico de cancro da mama, também tinha duas filhas pequenas, e fui falar com a geneticista. Queria fazer o exame. E fiz. E o resultado veio positivo para a mutação BRCA1."

Tamara tinha 41 anos e uma espada em cima da cabeça. Não estava doente mas era apenas uma questão de tempo. O que devia fazer? Esperar para ver (e talvez não resistir) ou cortar o mal pela raiz? Decidiu-se pela segunda opção. "Comecei a fazer um levantamento mais incisivo e descobri que muitos familiares tinham tido cancro. Nomeadamente o meu pai que morreu em 2004 de uma embolia, mas hoje estou certa de que o que lhe provocou a embolia foi, na verdade, um cancro na próstata. A minha avó paterna tinha morrido com um cancro nos ovários, duas tias paternas com a mesma doença, uma outra tia com cancro de mama, como também uma prima. Pensei muito, o meu marido foi absolutamente notável, sempre ao meu lado para o que quer que decidisse, e concluí que não queria esperar para ver. Um cancro, quando não é mortal, é uma doença muito dura. A quimioterapia, a radioterapia, todo o processo... não. Eu não queria esperar para ver. Eu não tinha tempo para ter um cancro."

E, assim, Tamara Milagre optou pela mastectomia bilateral. Ou seja, removeu integralmente as duas mamas. Cinco anos antes de Angelina Jolie ter decidido fazer o mesmo. "As mamas são peças que alimentam os filhos e alegram os maridos. São símbolos de feminilidade, sim. Mas entre a feminilidade e a vida, a escolha era clara. Naquele momento, as minhas mamas eram duas bombas-relógio de que tinha de me livrar."

Entre a mastectomia e a histerectomia, Tamara quis ir conhecer pessoas na mesma situação. Queria perceber o que lhe tinha acontecido, que raio de coisa é esta de ter o cancro inscrito nos genes, que tipo de mutantes somos nós. Mas tinha um problema. Não podia ir à Laço nem a outra associação porque não era o público-alvo. Com efeito, Tamara não tinha cancro. Tinha-o fintado mas, para as pessoas que o fintavam, não havia associação. "Marquei então uma consulta de Risco Familiar, no IPO (Instituto Português de Oncologia). Cheguei lá e disse: 'Eu tenho história familiar, tenho a mutação BRCA e já fiz a mastectomia. A médica olhou para mim e perguntou: 'Então o que veio cá fazer?" Não hesitei: vim porque preciso de encontrar pessoas como eu. E até estou a pensar criar uma associação!" Ela deu um pulo! 'Isso é óptimo! Uma excelente ideia! Quer ir a uma conferência nos EUA só sobre este assunto?'"

Tamara não pensou duas vezes. Fez as malas e foi para o congresso nos Estados Unidos. Tinha passado por tudo como uma heroína, sempre a fazer-se de forte, e foi lá que lhe caiu a ficha. "Em plena conferência larguei num pranto. Houve uma senhora que se levantou, abraçou-me, deu-me um beijo na testa e disse: 'Já não estás sozinha.' Foi aí que tive a certeza: ia criar uma associação para que ninguém mais tivesse de se sentir sozinho."

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A Evita nasceu em 2011 e tem feito o possível e o impossível para alertar as pessoas para o risco genético do cancro. A primeira iniciativa foi traduzir o primeiro livro que fala sobre mastectomia preventiva, "Topless". Em 2015 organizou um congresso em que vieram representantes de todos os hospitais e institutos especializados em oncologia e investigação em BRCA, e que teve como convidado Steven Narod, um dos maiores investigadores do mundo em cancro da mama.

À Evita chegam todos os dias emails de pessoas preocupadas com o seu risco. Outras, depois de alertadas, descobrem que são portadoras da mutação genética que lhes deixa a espada suspensa em cima da cabeça. Uma coisa é certa: não têm de o viver sozinhas. Há encontros de entreajuda, há partilha de experiências, há abraços e respostas para as perguntas.

Tamara Milagre sabe que tomou a decisão certa de cada vez que consegue que uma pessoa finte o cancro que lhe estava geneticamente destinado. De cada vez que ajuda alguém a passar por uma cirurgia preventiva, com todas as angústias que lhe são inerentes. De cada vez que não deixa alguém sozinho a passar por tantas dúvidas e medos e revoltas. De cada vez que se lembra da promessa que fez a Sandra, de não deixar que as suas filhas passassem pelo mesmo, por pura falta de informação. Tamara Milagre fez o seu próprio milagre: salvou-se e ajuda todos os dias outras pessoas a salvarem-se. Uma mulher de garra. Uma mulher do caraças.

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 Fotos: Raquel Brinca, HUG

 

Neste momento, a Evita tem em mãos uma campanha de sensibilização para o cancro da mama no homem. Porque os homens são menos cuidadosos com a sua saúde. Mais fechados, mais embaraçados com as questões do seu corpo. Vale a pena ver a campanha.

 

Mais informações em http://www.evitacancro.org

 

A rubrica "Mulheres do Caraças" nasce da quantidade de sugestões de mulheres inspiradoras que me enviaram, quando pedi nomes para a campanha da Activia. Tantas boas histórias não podiam ficar esquecidas no meu email.

Muito obrigada a todos os que enviaram sugestões. Obrigada especialmente à Sónia Fernandes, que me sugeriu a Tamara, gostei tanto de conhecer.

Sofá de velho

Encontrei um sofá de orelhas lindo de morrer, que fica maravilhoso na nova decoração da sala. Quando disse ao Ricardo ele fez uma careta de horror: "Isso é cadeirão de velho!"

Chamei-lhe vários nomes. Que não percebia nada de decoração, que era lindo, que ficava tão bem, que ia ser o primeiro a render-se a ele. Ele engelhou o nariz. Que já me imaginava de óculos na ponta do nariz, a babar-me para cima do livro sobre o qual adormeci, ou a fazer camisolas de tricô para os netos.

Seja. Afinal, estamos mesmo a caminhar para velhos e a verdade é que não gostava de favas e agora gosto, não gostava de vinho do Porto e agora já o bebo com outro prazer, não apreciava ópera e agora o meu ouvido já lhe encontra outro encanto. Deve ser isto, o envelhecimento. E vai na volta passa também por gostar de sofás de orelhas.

Seja como for, hoje estava a mostrar o cadeirão ao Manel, no site, e ele, que não tinha presenciado a nossa discussão, atirou: "Isso???? Isso é cadeira de velho!"

 

É oficial. Já fui.

Vencedores do passatempo 7º Workshop #Receitaperfeita

Os sortudos que amanhã vão cozinhar comigo, com a Mónica e com a Raquel no Cooking Memories em Cascais, numa espécie de antevisão familiar e natalícia, são:

- Sandra Francisco e a mãe

- Patrícia Fernandes e o marido

- Margarida Santos e o marido

- Fátima Cruz e a irmã

- Marlene Fialho e a cunhada

- Ana Cravo e o marido

 

O Lidl é o parceiro deste workshop (e que belo parceiro que tem sido!)

Até amanhã!!!!!!

 

O poder de uma batata

Estava a almoçar restos de ontem. Entre eles meia batata cozida que o Ricardo me pôs no prato mas que não tencionava comer. No entanto, e uma vez no prato, cortei um bocadinho e levei à boca. De repente, tinha outra vez 7 anos, uma saia de pregas vestida, um camisolão de lã, e a cesta do almoço ao lado. Vi com uma nitidez impressionante a cesta, com o pauzinho a servir de fecho, vi o meu termo, senti o cheiro do refeitório da escola. Aquela batata requentada teve um poder absolutamente surpreendente de me transportar no tempo, de forma tão clara que até me comovi. Há batatas poderosas.

Uma das melhores decisões de 2016

Meter dois dos meus filhos na Academia de Sobrevivência foi, sem sombra de dúvida, uma das melhores decisões do ano.

Se o Campo de Férias Sniper já era um dos momentos altos das férias deles, imagine-se agora estender aquele conceito (acrescentando outras ideias e filosofias) ao ano todo. Com efeito, de 15 em 15 dias eles partem em missão, podendo a missão ser circunscrita ao lugar onde funciona o campo de férias (e que tem salas, piscina, campos de paintball e lasertag, matraquilhos humanos, escalada, slide, camarata de raparigas e de rapazes, zona de refeições) ou então ser uma missão ainda com mais aventura e que implica uma caminhada de vários quilómetros com um mochilão às costas, para acamparem algures na serra, faça sol, chuva ou frio, porque o que se quer é que estes miúdos cresçam sem as mariquices que tendemos a passar-lhes. Como diz o Nuno Avelar de Sousa (que está à frente da Academia), "temos a mania de ficar fechados em casa porque caem umas pinguinhas; depois vamos a qualquer país da Europa onde chove a sério grande parte do ano e vemos como não deixam de fazer absolutamente nada por causa da chuva! Esse é o espírito que lhes quero passar. Que com bons agasalhos, com impermeáveis, botas, protecção adequada... podemos fazer tudo!"

E tem ele toda a razão. Assim, aqui há umas semanas, lá foi a Madalena (o Martim esteve doente nesse fim-de-semana) para uma missão fora (chovia tanto nesse dia... e as previsões metereológicas para esse fim-de-semana? Praticamente anteviam o fim do mundo! A minha mãe só olhava para nós e dizia: "se fosse eu, nunca na vida deixava!" 😂)

Deixo-vos o vídeo, para terem uma ideia. 

 

Adoro o conceito da Academia, adoro o Nuno, adoro os monitores. Acho mesmo que ele faz um trabalho notável com os miúdos, e nota-se bem o carinho e o respeito que todos têm por ele. 

Acho espectacular que, nos dias de hoje, os miúdos tenham fins-de-semana totalmente ao ar livre, longe das tecnologias que os alienam, que aprendam a fazer pão, a orientar-se, que construam uma aldeia de raiz, que tenham aulas de Krav Maga para saberem defender-se, que lhes insuflem a autoestima ao mostrarem-lhes que sim, são capazes de tudo e mais alguma coisa. De 15 em 15 dias, é vê-los partir com as mochilas às costas, mesmo que chovam picaretas, para dois dias de aventuras espectaculares.

A única questão são os fins-de-semana anteriores a semanas com muitos testes. É certo que eles estabelecem tempos de estudo, mas para miúdos que ainda precisam ali de uma mão firme e de acompanhamento nem sempre é fácil. Tem de prevalecer o bom senso. Se estiverem bem preparados, vão, com o compromisso de muito estudo antes, durante e depois. Se não estiverem preparados... faltam à missão. Até porque daí a 15 dias... há outra!

Antibiótico

Eu não sou médica mas parece-me pouco normal que numas urgências se prescreva antibiótico para uma bronquiolite que é claramente viral. Na escola do Mateus houve vários meninos doentes e ele tombou também. Nunca tratei uma bronquiolite com antibiótico e já passei por umas larguíssimas dezenas (o Martim passou os primeiros 3 anos de vida a fazer bronquiolites de repetição, internado, a fazer ginástica respiratória diária, a que se seguia nova bronquiolite). 

Na véspera de ter ido ao hospital ouvi, de novo, as notícias a darem conta de que há cada vez mais super-bactérias ultra resistentes, justamente porque por tudo e por nada tomamos antibióticos.

Não percebo.

 

(não estou a dar antibiótico mas sim os broncodilatadores da ordem, prescritos por... mim 😬)

Caixa do correio

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Hoje chegou uma carta para o Manel. Era uma carta sem remetente, daquelas que parecem dos bancos, o envelope com a janelinha transparente e o seu nome completo lá escrito.

- Isso parece ser de um banco. - dissemos nós.

Ele sorriu com a boca e com os olhos e, na verdade, com a cara toda. "Ah, se calhar criaram-me uma conta! Pode ter sido um dos avós... Ou então vocês!" 

Com a expectativa do que ia encontrar, abriu o envelope à bruta, acabando por rasgar aquilo tudo. "Recebo tão poucas cartas que nem sei abrir envelopes!" - gracejou, nervoso.

Finalmente, o conteúdo vislumbrou-se.

Era o novo cartão da Multicare que pedi porque o anterior já tinha caducado.

Ele fez um ar desiludidíssimo.

Eu larguei a rir.

Só mesmo aos 15 anos é que alguém recebe uma carta na caixa do correio e imagina que vai receber dinheiro.

Infelizmente, a realidade é bem diferente. 95% das cartas que chegam todos os meses são contas para pagar e, por isso, não é dinheiro que entra mas é dinheiro que sai.

Perigo!

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Gostava mesmo de saber quantos acidentes rodoviários estes anúncios já provocaram e vão provocar.

E não só rodoviários. Pedestres também. Eu, por exemplo, já ia enfaixando a testa num semáforo por causa disto. 

Um perigo público.

Dormir é ouro quando se passou dos 40

Não dormir sempre me foi penoso. Não fui abençoada com aquela capacidade do nosso presidente, de dormir 3 horas e estar pronta para comer o mundo. Nah. De resto, quando o Ricardo me conheceu e cometeu o erro de dizer que precisava de dormir pouco, esfreguei as mãos de contente. Ainda hoje lhe mando isso à cara sempre que um dos miúdos acorda 549 vezes. "Vai lá tu, que isto para ti é fácil, para mim é que é o diabo". Não fosse o aleitamento ser um exclusivo materno e vocês iam ver quem é que amamentava à noite.

Bom, isto para dizer que, se passar uma noite em claro sempre me afectou a caixa dos pirulitos, agora que sou uma pessoa com uma certa idade a coisa agravou-se muito.

Esta noite não dormi praticamente nada. O Mateus chorou toda a noite porque não conseguia respirar pelo nariz, porque tinha ranho, porque tinha tosse, porque estava aflito para respirar. O Ricardo ainda dormiu pior porque a determinada altura desistiu de se revezar comigo a fazer piscinas para o ir confortar ao quarto e pegou nele para irem dormir sentados no sofá da sala. 

Conclusão? Estamos com uma ressaca de todo o tamanho. Temos frio (o Ricardo NUNCA tem frio), sono, dores no corpo, olhos pesados. Tal e qual como se tivessemos passado a noite a dançar e a beber. Antes tivesse sido uma avaria dessas. Mas não. Foi mesmo ranho. Coisa pouco glamorosa e interessante, mas que acontece nas melhores famílias (talvez algumas tenham ranho azul, não sei 😂).

E agora correr, nestas condições?

Pois que vai ser medonho. Mas vai ter de ser (raios me partam).

 

 

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