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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Mãe sim, entre outras coisas

Um dos grandes desafios da maternidade é a sobrevivência da mãe como entidade para lá da maternidade.

Passo a explicar: quando uma mulher é mãe leva geralmente uma paulada na cabeça tão grande que corre o risco de sofrer de uma fortíssima amnésia. Esta paulada é uma paulada de amor, é uma paulada boa e bonita e incrivelmente poderosa, sem dúvida, mas não deixa de ser uma paulada, com tudo o que de violento isso implica. Assim, uma mulher corre o risco de se esquecer de quem era antes de ser mãe e, neste esquecimento, está incluído o amor que tinha por si própria, o amor que tinha pelo companheiro, o amor que tinha pelas amigas, pelos hobbies, pelos pequenos prazeres, por tudo, enfim, o que fazia e vivia antes da grandessíssima paulada de amor que a maternidade lhe desferiu na cabeça.

Um filho é um bem maior. O maior tesouro. Mas não deve ser o único. Se for o único perde até parte da sua grandiosidade. Como podemos dizer que algo é "o maior" na nossa vida se não temos mais nada?

É por isso que nunca me canso de dizer que um dos grandes desafios da maternidade (se não mesmo o maior) é a sobrevivência da mãe como entidade para lá da maternidade.

Uma mulher deve continuar a gostar de si, a ter os seus momentos, a comprar coisas de que goste, sejam elas roupa, sapatos, malas, livros, jóias, obras de arte, o que for. Deve continuar a ter momentos em que se diverte com os amigos. Deve continuar a sair a dois, com o companheiro. Por muito que o amor por um filho seja uma autêntica paulada na cabeça, uma mulher não deve esquecer-se de quem era, antes de ser mãe. Sob pena de acabar, mais tarde ou mais cedo, a responsabilizar o filho por tudo o que perdeu. Porque por muito que não dê conta de que lhe faltam todas as coisas de que abdicou (pelo efeito da tal amnésia amorosa), haverá um dia em que lhes vai sentir a falta. Nem que seja quando os filhos crescerem e seguirem as suas vidinhas. Nessa altura talvez seja já tarde para recuperar o tanto que ficou pelo caminho. 

 

 

Escrevo este texto depois de dois dias passados em Paris, com 4 mulheres que também são mães. Nenhuma de nós é do género de abdicar da vida inteira só porque tem filhos. E, mesmo assim, acho que todas nós sentimos o imenso prazer de estarmos juntas, sem maridos ou filhos. Por muito que os amemos. E amamos.

(obrigada aos nossos maridos e mães que pensam do mesmo modo que nós)

Paris - La Redoute - Maio 2016 - 079.jpg

O que nos faz puxar o gatilho

Do nada, assim do nada, um homem de 41 anos mata o pai, a mãe e a avó.

Um homem aparentemente normal, uma família aparentemente normal.

Diz a prima, que assistiu ao massacre, que tudo começou quando alguém naquela noite lhe deu um patinho bebé e, de seguida, a mãe revelou, num tom ligeiro e até divertido, que ele, em criança, tinha matado uma ninhada de patinhos. Nisto, ele levanta-se, diz que vão acabar todos mal, sai de cena, volta com uma caçadeira e arrasa com o pai, a mãe e a avó. A seguir, suicida-se.

E eu pergunto: quantas pessoas aparentemente normais andam por aí num limbo que ninguém sonha?

Quantas pessoas estão à beira de um abismo semelhante?

Qual é a linha que nos separa, a nós pessoas aparentemente normais, de uma atitude tresloucada destas?

Estas coisas perturbam-me muitíssimo. Assustam-me. A insondabilidade do nosso cérebro é profundamente inquietante.

We will always have Paris

Foram dois dias intensos em Paris com as minhas parceiras de escritório e a nossa querida decoradora Ana Rita Soares. 

Fomos na quarta de manhã e voltámos ontem à noite mas fizemos tanta coisa e divertimo-nos tanto que parece que estivemos lá uma semana inteira. Da Torre Eiffel ao Louvre (por fora, bem entendido, que por dentro carece de todo um outro tempo), passando pelo Sacré Coeur, sem esquecer o Moulin Rouge ou os Champs Elysees... esta maltinha andou um pouco por todo o lado. Até esbarrámos de frente com o malogrado Bataclan, onde ficámos em silêncio a imaginar o horror daquela noite.

Fomos a Paris por uma razão (que depois explico) mas agora queria mesmo só dizer que esta escapadinha me soube muito bem e que estas miúdas são mesmo as melhores companheiras que podia ter.