Ujos, meus queridos Ujos
À noite, estava a arranjar-me para irmos ao concerto do Miguel Araújo e do António Zambujo, quando enfiei uma unha no olho. Definitivamente tirar as lentes com as unhas um bocadinho mais compridas e cheia de pressa não é uma boa ideia. Por pouco não vazei uma vista.
Isto foi ontem. Hoje está muuuuuito pior
Passámos pelo balcão do Gambrinus para petiscar, os nossos amigos vieram ter connosco e lá fomos ao concerto no Coliseu. Foi lindo. Maravilhoso. Perfeito. Comovente. Engraçado. Poético. Melódico. Quente. Doce.
São os dois tão bons que podia ter ficado ali mais duas ou três horas sem me cansar, sem me fartar, sem adormecer. Estava exausta quando entrei, por causa do treino de 32 km, e tinha um certo receio de, com o embalo daquelas duas vozes, cair para o lado. Qual quê. Arregalei a pestana e fiquei com aquele sorriso besta de quando estamos apaixonados. O Miguel Araújo é um músico excepcional, escreve letras de babar, compõe, toca não sei quantos instrumentos, tem uma voz que envolve. O Zambujo tem aquela voz única, inconfundível, e é de uma doçura que enternece. As cantigas que ambos cantam fazem recuar à infância, umas vezes, aos recantos mais escondidos do país outras vezes, fazem querer namorar e dormir em conchinha, fazem um aconchego no peito.
Se os dois, sozinhos, são duas pérolas, os dois juntos são um tesouro. Ouvi-los foi um prémio, um dos momentos altos deste ano (e tenho a certeza de que o repetirei quando o ano estiver no fim).