O meu filho Manel chorava sem parar.
Até aos 4 meses guinchou dia e noite.
Os meus amigos ligavam-me e não nos conseguíamos ouvir, com os gritos dele de fundo.
Demos-lhe tudo o que havia no nosso mercado e em mercados estrangeiros.
O pediatra já não sabia o que nos dizer.
Fui entrevistada para a revista Pais & Filhos, por ter um "bebé colérico".
Um dia chorou 6 horas seguidas sem parar. Quando se diz "sem parar" não é metáfora. É MESMO sem parar.
Cheguei a casa dos meus sogros, nesse dia, e passei o Manel para as mãos da minha sogra vociferando um "raios partam o miúdo" que a deixou em choque.
Compreendi as pessoas que se passam da marmita.
Se eu não fosse estruturada, podia perfeitamente ter-me passado.
Um dia, o Ricardo deu comigo num banco de jardim da Praça das Flores, onde morávamos, de pijama e com ele no canguru, ambos a dormir, tal era o desespero e a exaustão.
Nem sei como tive o segundo filho, sinceramente.
Nenhum dos outros foi como aquele.
E, por isso, não voltei a experimentar aquela sensação de tortura permanente.
Até hoje.
Depois de uma noite do demo, o Mateus berrou toda a manhã.
TODA.
Sem intervalo.
Sabem aquele choro "ué-ué-ué-ué-ué-ué", consecutivo, sem paragem?
Foi assim.
E, de repente, recuei 13 anos. E uma gotazinha de transpiração começou a deslizar-me da testa.
As mãos suadas.
Um certo palpitar.
Um cerrar dos dentes.
Uma vontade de sair porta fora.
Acho que deve ser um bocadinho isto o stress pós-traumático.