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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Esmagados pela culpa

Hoje era o dia da festa de Natal da Mada. Duas festas de Natal, para ser rigorosa. Uma de manhã, que metia ateliers de bolachinhas, mensagens de Natal e centros de mesa, outra à tarde, organizada pelo CAF (Complemento de apoio à família). Segundo uma primeira informação, a festa da manhã começaria "a partir das 10h". Como sentia uma certa dúvida no ar, escrevi um recado na caderneta, a pedir à educadora que me dissesse a hora certa. Ela respondeu prontamente, dizendo que tinha enviado um email a todos os pais (e que eu infelizmente não recebi) e que era para estar na escola às 9.30.
Creio que no meu cérebro a informação que se processou foi: se uns dizem "a partir das 10h" e a educadora diz que é "às 9.30", estar lá perto das 10h há-de chegar perfeitamente.
O Ricardo levou o Martim à escola (entra às 8.30), voltou, levou o Manel à escola (entra às 9.30). Eu fiquei a despachar os mais pequenos. E lá fomos. Chegámos à escola da Madalena às 9.45. A sala polivalente estava cheia até à porta. E foi então que ouvimos as vozes das crianças a entoar cânticos de Natal. Apressámos a Mada para conseguir chegar até ao grupo dos pequenos cantores, todos com gorros do Pai Natal, na confusão ainda consegui meter-lhe o gorro na mão mas, assim que lá chegou, todos gritaram "Feliz Natal" e acabou-se. A parte das cantigas tinha acabado e ela nem teve oportunidade de despir o casaco, quanto mais de abrir a boca. Largou a chorar. E eu, incrédula com aquele inesperado desfecho, também. Valeu-me o sangue frio do Ricardo, que a consolou rapidamente, que desvalorizou, que pediu à educadora se, no final dos ateliers, juntava de novo a turma para que todos - Mada incluída - cantassem para nós, que me fulminava com o olhar sempre que via as lágrimas correrem pela minha cara abaixo, sussurrando um "tens de parar com isso ou vai ser pior". Eu só conseguia pensar que nos esforçamos tanto para chegar a todo o lado, como é que tínhamos falhado o momento das cantigas de Natal?
Fomos para os ateliers de bolachinhas de manteiga, fizemos anjinhos, corações, números, ursos, estrelas. Salpicámos com açúcar colorido. Ela parecia refeita do desgosto, entretida com os amigos e os pais a fazer de pasteleira. Mas eu, de vez em quando, tinha de ir para um cantinho chorar. Pelo meio, o Mateus largou aos gritos, tive de ir dar de mamar para uma sala, e aproveitei o momento para lavar a alma. Voltei para a sala dela, andámos a ver os trabalhos todos, ficámos até ao último pai sair, e escutámos então a Mada e os coleguinhas cantarem as duas cantigas de Natal que devíamos ter ouvido no início. Batemos muitas palmas, eles agradeceram, ela abraçou-nos e, de caminho, aproveitou para perguntar se poderia almoçar connosco. Claro que, com tamanho peso na consciência, só podia ouvir um sim. Saímos dali, o pai foi a voar para o trabalho, nós fomos ao pediatra com o Mateus, e encontrámo-nos todos, pouco depois, na pizzaria.
Agora, às 16.30, há nova festa. Vou sair já de casa e plantar-me à porta para ser a primeira.
Tenho o coração todo partido, confesso.
Eu sei que não podemos ser perfeitos, super-pais, intocáveis. Somos humanos, falhamos, é normal. Eu escrevi um livro sobre isso, caramba! Devia ser a primeira a perdoar-me. Mas quando se faz de tudo para ser o menos imperfeito possível e, por um problema de comunicação (ou de interpretação), se falha  com um filho… aí dói para caraças.