É uma pergunta que me faço todos os dias, desde que o Mateus nasceu. Às vezes, quando o Ricardo chega a casa e faz a mesma pergunta eu fico numa aflição, a tentar encontrar tarefas suficientes que preencham todo um dia e, de certo modo, justifiquem a minha existência neste mundo. O pior é que não encontro. Basicamente, o que eu faço é... dar de mamar. Pôr a arrotar. Limpar bolsados (que às vezes atingem várias camadas de roupa e, não raramente, se repetem mal acabei de o trocar inteirinho - nessas alturas tenho vontade de chorar). Limpar cocós (que às vezes também atingem várias camadas de roupa e, não raramente, se repetem mal acabei de o trocar inteirinho - nessas alturas também posso largar em prantos). Pelo meio faço um texto, respondo a um email urgente (acumulando centenas de outros a que prometo dar resposta mais tarde), e quando dou por ela já está na hora de dar de mamar outra vez.
Na verdade, eu já devia saber que este período é assim: um tempo que passa sem que saibamos bem como raio passou. Lembro-me de voltar ao trabalho depois das licenças de maternidade, quando trabalhava em redacções de jornais e revistas, e de me passar da marmita sempre que alguém me perguntava como tinham corrido "as férias". FÉRIAS??? QUAIS FÉRIAS??? Suponho que quem fazia a pergunta sentisse a vida ameaçada porque estou convencida de que fazia o olhar mais psicopata deste mundo.
Agora é ainda pior. Porque há mais três filhos para lá do bebé. Quando eles chegam da escola já eu estou à beira de desmoronar, ainda que sem saber muito bem porquê, qual o motivo de tanto cansaço. Afinal… a eterna pergunta fica sempre sem resposta: "Então e o que raio fizeste hoje?"